Cobra-papagaio: brasileiras comprovam que serpente se alimenta de aves

Duas pesquisadoras do Museu Biológico do Parque da Ciência Butantan comprovaram, pela primeira vez, que a cobra-papagaio (Corallus batesii), conhecida no exterior como jiboia-esmeralda da Bacia Amazônica, alimenta-se de aves. A descoberta foi publicada na revista Herpetology Notes.

O que aconteceu

Conhecida por viver no topo das árvores. Da espécie Corallus batesii, a cobra-papagaio é conhecida por viver no topo das árvores. Essas serpentes são animais oportunistas e era sabido que se alimentam de lagartos e pequenos mamíferos que passam por elas.

Pesquisadores investigavam há décadas se aves faziam parte da dieta do animal. Agora, duas pesquisadoras do Museu Biológico do Parque da Ciência Butantan, Silvia Cardoso e Circe Albuquerque, comprovaram, pela primeira vez, que a dedução era verdadeira.

Quase todas as espécies do gênero comem aves. Segundo o Instituto Butantan, a presença de aves na dieta dessas cobras já havia sido registrada para quase todas as espécies do gênero —exceto a C. batesii e C. caninus, que vivem na floresta amazônica.

Características físicas da cobra-papagaio são ideais para capturar presas volumosas. Elas têm dentes finos curvados para trás e a cabeça avantajada.

Descoberta começou em fevereiro de 2023. Foi quando o Museu Biológico do Butantan recebeu uma C. batesii resgatada pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

Logo nos primeiros meses, algo chamou a atenção das biólogas. "A serpente passou dois meses sem se alimentar e, quando defecou, notamos a presença de penas nas fezes. Isso mostra como observar o material biológico do animal e prestar atenção pode ajudar a obter respostas sobre sua biologia", contou Cardoso.

Ingestão deve ter ocorrido antes da captura ilegal e do resgate. Apesar de não ter sido possível identificar a espécie de ave ingerida devido à degradação provocada pela digestão, o estudo sugere que a ingestão da ave ocorreu na própria natureza, antes do animal ser capturado ilegalmente.

Silvia Cardoso, à esquerda, e Circe Albuquerque, à direita, responsáveis pela descoberta
Silvia Cardoso, à esquerda, e Circe Albuquerque, à direita, responsáveis pela descoberta Imagem: Divulgação / José Felipe Batista / Comunicação Butantan
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Reconhecimento internacional. Ainda de acordo com o Instituto Butantan, o estudo chamou a atenção de um dos maiores especialistas do mundo no gênero Corallus: o pesquisador Robert W. Henderson, curador da coleção herpetológica do Museu Público de Milwaukee, dos EUA, que já publicou uma série de trabalhos sobre a serpente. Ele parabenizou as brasileiras: "Eu sabia que, eventualmente, alguém documentaria a ingestão de aves pela Corallus batesii. Parabéns por terem sido as primeiras", escreveu.

Para as biólogas, além da satisfação da descoberta, foi emocionante receber o contato de um pesquisador que é referência para elas. "Foi uma surpresa muito boa. O nosso papel como cientistas é produzir conhecimento, e o que me encanta é que estamos sempre aprendendo. Saber que contribuímos para o conhecimento científico é muito gratificante", ressalta Albuquerque.

*Fonte: Instituto Butantan

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