La Niña vai nos salvar? Como fenômeno pode aliviar caos climático de agora

Com 60% de chance de ocorrer entre outubro de 2024 e fevereiro de 2025, a La Niña pode trazer alívio para algumas regiões atingidas por calor extremo e seca, mas especialistas alertam que os efeitos do aquecimento global continuarão a prevalecer.

O que aconteceu

A WMO (Organização Meteorológica Mundial), órgão ligado à ONU, anunciou a possibilidade de La Niña ocorrer ainda este ano. Em um relatório publicado ontem (11), o órgão revelou haver 60% de chance de o fenômeno ocorrer entre outubro de 2024 e fevereiro de 2025, durante o período de transição do El Niño.

O fenômeno é caracterizado pelo resfriamento das águas do Pacífico Equatorial e pode impactar padrões climáticos ao redor do mundo.

O La Niña pode trazer mudanças significativas no clima regional. Áreas como o norte da América do Sul, Caribe e partes da África podem experimentar chuvas acima da média. Por outro lado, outras regiões podem sofrer com condições mais secas. A intensidade e duração do fenômeno influenciam os impactos regionais de forma variável.

Temperaturas abaixo da média são esperadas em partes da América do Sul. Embora a maioria das regiões globais preveja temperaturas acima da média devido ao aumento das temperaturas das águas oceânicas, a previsão para a América do Sul (especialmente nas áreas costeiras) é de temperaturas abaixo da média, avalia a WMO. Isso está alinhado com o surgimento das condições de La Niña, que tende a resfriar essas áreas.

Chuvas abaixo da média são previstas para grande parte da América do Sul. As condições do La Niña também afetam os padrões de chuva. As previsões indicam maiores probabilidades de precipitação abaixo do normal em quase toda a América do Sul. Isso pode aumentar as condições de seca em várias regiões, com possíveis impactos na agricultura e no abastecimento de água.

Algumas regiões do interior da América do Sul não têm sinal claro de mudanças. Apesar das previsões de secas em muitas áreas, existem regiões no interior da América do Sul, do oeste ao leste do continente, onde não há um sinal claro se as chuvas estarão acima ou abaixo do normal.

La Niña está associada à diminuição das temperaturas oceânicas, influenciando a circulação atmosférica, alterando ventos, pressão e padrões de chuva, especialmente em regiões tropicais como o Brasil. Embora o fenômeno tenha impactos variados, ele geralmente provoca o oposto do que ocorre com o El Niño, que aquece as águas do Pacífico.

Apesar do fenômeno, o aquecimento global continuará em alta. O secretário-geral da WMO, Celeste Saulo, afirmou que a La Niña não interromperá a trajetória de elevação das temperaturas globais. Mesmo com um resfriamento temporário, os gases de efeito estufa mantêm o aquecimento em alta escala, exacerbando eventos climáticos extremos.

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Temperaturas recordes

Nos últimos anos, o planeta enfrentou uma sequência de temperaturas recordes. Os últimos nove anos foram os mais quentes já registrados, mesmo com a La Niña ocorrendo entre 2020 e 2023. A influência de curto prazo do fenômeno não foi suficiente para reverter a tendência de aquecimento global.

A WMO continua monitorando as condições do fenômeno. O relatório destaca que os Centros Globais de Produção de Previsões de Longo Alcance estão acompanhando a evolução do fenômeno ENSO (Oscilação Sul - El Niño). Essas previsões são fundamentais para preparar governos e setores sensíveis ao clima para mitigar os impactos e proteger vidas.

O ENSO é um fenômeno climático cíclico que ocorre no Oceano Pacífico e influencia o clima global. Ele tem três fases principais: O El Niño, a La Niña e a Fase Neutra, que ocorre quando as condições oceânicas e atmosféricas estão próximas da média, sem sinais claros de El Niño ou La Niña. Nessa fase, o clima global tende a ser mais estável, embora outros fatores climáticos possam influenciar as condições locais.

A relação entre eventos naturais e mudanças climáticas é complexa. Embora La Niña e El Niño sejam fenômenos naturais, o contexto mais amplo das mudanças climáticas intensifica seus efeitos, explica a WMO no relatório. O aquecimento global está modificando padrões sazonais e ampliando eventos climáticos extremos, como ondas de calor e tempestades.

A WMO enfatiza a necessidade de sistemas de alerta precoce. Devido à crescente imprevisibilidade climática, a iniciativa "Alertas Precoces para Todos" do órgão é considerada uma prioridade máxima. Esses sistemas são essenciais para salvar vidas e mitigar os impactos econômicos das mudanças climáticas e fenômenos extremos.

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