Coronavírus ajudou líderes latinos a reverter normas ambientais, diz Global Witness
Um relatório da ONG britânica Global Witness, divulgado hoje, constata uma "intensificação dos problemas ambientais com governos de todo o planeta" durante a pandemia do novo coronavírus. A constatação vai na contramão do que a ONG considera vital para o contexto de uma reconstrução do mundo pós-covid: mais verde, com defesa e a proteção dos ambientalistas.
"Nos Estados Unidos, Brasil, Colômbia, Filipinas... políticos se serviram da crise sanitária para tornar mais draconianas as medidas para controlar os cidadãos e reverter normas ambientais que custaram tanto para ser implementadas", destaca o relatório.
As estratégias, continua o texto, vão de campanhas de calúnia a julgamentos espúrios para silenciar quem luta contra o aquecimento global, sendo inclusive acusados de delinquentes ou terroristas. As mulheres representam 10% destas mortes e, às vezes, também são vítimas de violência sexual.
A ONG destaca ainda as poucas vitórias obtidas por ativistas "corajosos e tenazes". É o caso dos indígenas Waorani, da Amazônia equatoriana, onde a justiça bloqueou o ingresso da indústria do petróleo às suas terras ancestrais. "É por nossas florestas e para as futuras gerações", insistiu Nemonte Nenquimo, um dos líderes. O governo apelou da decisão judicial.
Recorde de assassinatos
O ano de 2019 ainda registrou um recorde de 212 assassinatos, em todo o mundo, de líderes que lutam contra o desmatamento, a mineração e projetos agroindustriais em zonas florestais ou protegidas, aponta o relatório.
Segundo a organização, 33 ativistas foram assassinados na Amazônia, a maioria do lado brasileiro, lutando contra o desmatamento provocado por megaprojetos agrícolas e de mineração.
"Em um momento em que precisamos proteger mais do que nunca o planeta das indústrias destrutivas e que emitem CO2, os assassinatos dos defensores do meio ambiente e da terra nunca foram tão numerosos" desde que começaram a ser contabilizados, em 2012, alerta a ONG britânica.
As vítimas são líderes indígenas, guardas florestais responsáveis por proteger a natureza e ativistas ambientais. O relatório anual, que será publicado nesta quarta-feira (29), supera as cifras de 2017, quando houve 207 mortes.
E, como ocorre todos os anos, "nossos números certamente estão subestimados", adverte a Global Witness. Do total de mortes em 2019, dois terços ocorreram em territórios latino-americanos. Metade dos homicídios foi praticado em dois países: Colômbia, que com 64 vítimas ocupa um lugar de destaque no relatório, na América Latina, seguida das Filipinas, com 43 mortos.
Nestes dois países e no restante do mundo, os representantes dos povos indígenas (40% dos assassinados em 2019) que vivem integrados ou perto da natureza "enfrentam riscos desproporcionais de represálias" por defender "suas terras ancestrais".
Assassinatos acontecem em todo o mundo
Nas Filipinas, Datu Kaylo Bontolan, líder do povo Manobo, morreu em um bombardeio em abril de 2019, quando sua comunidade lutava contra um projeto de mineração, o setor contra o qual mais ambientalistas morreram. A agroindústria vem logo depois, com 34 ativistas assassinados, contrários às fazendas de palma, açúcar e frutas tropicais, grande parte na Ásia.
O combate ao desmatamento custou 24 vidas, um aumento de 85% com relação a 2018, enquanto as florestas são essenciais para enfrentar o aquecimento global. A defesa das florestas pode levar à morte inclusive na Europa, o continente menos afetado por assassinato de ecologistas.
Na Romênia, em uma das florestas mais importantes do velho continente, pratica-se o desmatamento ilegal. O guarda florestal Liviu Pop foi morto a tiros em outubro ao surpreender desmatadores.
Depois, um outro foi assassinado com um facão. Apesar de a "impunidade da corrupção generalizada" dificultarem a identificação dos autores destes homicídios, o relatório aponta o crime organizado, quadrilhas locais, organizações paramilitares e inclusive forças policiais.
"Muitas violações dos direitos humanos e do meio ambiente são consequência da exploração dos recursos naturais e da corrupção do sistema político e econômico mundial", destacou Rachel Cox, representante da ONG, acrescentando que as empresas responsáveis são as mesmas que "estão nos levando para uma mudança climática incontrolável".
(Com informações da AFP)
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