Pré-candidato no RJ, Fernandes diz que política de UPPs foi "irresponsável"

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

O pré-candidato do PDT ao governo do Rio de Janeiro, Pedro Fernandes, criticou a política de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) durante a sabatina promovida pelo UOL, pela Folha de S.Paulo e pelo SBT, nesta sexta-feira (15), transmitida ao vivo no UOL.

"A gente tem que acabar com a política de UPPs para fortalecer os batalhões [da Polícia Militar]", afirmou.

De acordo com o entrevistado, o projeto de segurança pública criado em 2008 com base em uma ideia de policiamento comunitário foi uma "irresponsabilidade", pois teria provocado uma migração de criminosos para bairros das regiões norte e oeste da capital e da Baixada Fluminense --áreas tidas como mais pobres.

"A gente não imaginava que seria um dano tão grande", disse o político, que é deputado estadual no RJ há três mandatos.

Fernandes disse que já era crítico das UPPs desde os anos iniciais do programa, quando os resultados alcançados eram festejados pelas autoridades. "Quem foi o insano que pensou que se poderia implementar UPPs em todas as comunidades?", questionou.

O modelo das UPPs era considerado bem-sucedido até meados do segundo mandato do ex-governador Sérgio Cabral (MDB). Com a crise econômica no estado e o aumento da violência urbana, o projeto foi declinando pouco a pouco.

Fernandes disse que seria impossível pagar a política de UPPs, e que a gestão de Cabral a teria usado com objetivos eleitorais.

"Nós vamos acabar com as UPPs. Vai funcionar da mesma forma como em outras regiões. Por que tem que ter privilégio em uma região e não em outra?", questionou ele em relação ao patrulhamento nas favelas.

O pedetista se disse contrário à intervenção federal, mas defendeu uma estratégia semelhante à adotada pela equipe do interventor Walter Braga Netto para as UPPs. Fernandes afirmou que as UPPs devem ser incorporadas aos batalhões de área da Polícia Militar, para reforçá-los.

A intervenção federal está integrando ao menos quatro UPPs a batalhões (Vila Kennedy, Batan, Mangueirinha e Cidade de Deus) e afirma que estratégia semelhante pode ocorrer em metade das 38 Unidades de Polícia Pacificadoras existentes ainda neste ano.

Fernandes disse, porém, que isso não é uma forma de priorizar a estratégia do confronto entre policiais e criminosos. "O confronto tem que ser muito pontual, se tiver guerra de facções aí tem que intervir", afirmou.

Soluções para a segurança pública

O pré-candidato defendeu investimentos em inteligência e tecnologia para vencer as facções criminosas e o tráfico de drogas prendendo suas lideranças. "Os grandes traficantes não estão nas comunidades."

Fernandes afirmou ainda que pretende criar uma força-tarefa inspirada na Lava Jato para combater a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas no Rio e defendeu que as barreiras fiscais que inspecionam caminhões das rodovias sejam equipadas com escâneres de raio-x para impedir a entrada de armas e drogas no estado.

Na visão do entrevistado, o estado precisa mudar o foco do combate à criminalidade e investir em inteligência e tecnologia em detrimento da repressão militarizada. "Temos que atacar a atividade econômica do crime organizado", comentou.

Fernandes também chegou a citar como exemplo de política de segurança a utilização de drones (veículos aéreos não tripulados) para vigiar estradas e rotas de acesso a fim de coibir roubos de carga.

"Não é possível que a gente fique sabendo de um roubo de carga pelo helicóptero de uma emissora de TV."

Em relação à educação, o pedetista disse que as escolas da rede estadual precisam ser "competitivas com o mundo das drogas e da criminalidade". Para isso, ele pretende criar equipes multidisciplinares, com professores, psicólogos e assistentes sociais, com objetivo de "identificar vulnerabilidades" entre os estudantes.

Na visão do pré-candidato, a escola tem a missão de "complementar a educação que não tem vindo de casa".

Política

Fernandes foi confrontado com o fato de se apresentar como pré-candidato de oposição, mesmo já tendo ocupado secretarias nos governos Cabral e Luiz Fernando Pezão, ambos do MDB --partido ao qual ele pertencia até março deste ano.

O pré-candidato respondeu que era um "gestor" e que estaria aberto a assumir cargos de gestão em "qualquer governo", independentemente do viés ideológico. "Eu sou gestor. Entrei para a política porque queria mudar as coisas. É frustrante você ser deputado, identificar problemas e não poder resolver. (...) Quem resolve é o Executivo."

Questionado, por exemplo, se aceitaria ser ministro de Jair Bolsonaro (PSL), tido como político conservador e de posições polêmicas, Fernandes respondeu que sim, "desde que tivesse autonomia e condições para trabalhar".

O pré-candidato também foi questionado sobre denúncias de um assessor do ex-governador Sérgio Cabral contra o presidente do PDT, Carlos Lupi. O delator Carlos Miranda disse ter entregue dinheiro de propina a Lupi -- que negou qualquer envolvimento com o caso.

Fernandes disse que conheceu Lupi há alguns meses e o defendeu. "Não foi apresentada nenhuma prova, não tenho motivos para desconfiar do presidente por duas razões: primeiro por ele levar uma vida simples e compatível com a renda dele, segundo, que a única coisa que ele me pediu quando me convidou para ser pré-candidato a governador é que eu faça um bom governo", afirmou.

O pedetista defendeu uma revisão do acordo de recuperação fiscal e fez críticas às medidas fiscais tomadas pelo governo atual, alegando que o RJ acumulará dívidas de modo que será impossível pagá-las no futuro. Apesar de ter feito parte do governo Pezão, o deputado disse ser contrário à desestatização da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) e a utilização das ações da estatal como garantia de operações de crédito.

Sabatinas

Fernandes foi o sétimo e último sabatinado entre os pleiteantes à chefia do Executivo fluminense. Participaram do evento os pré-candidatos Wilson Witzel (PSC), Rubem César Fernandes (PPS), Indio da Costa (PSD), Anthony Garotinho (PRP), Tarcísio Motta (PSOL) e Leonardo Giordano (PCdoB).

O PT informou nesta semana que Marcia Tiburi, possível pré-candidata do partido, não poderia participar da sabatina por incompatibilidade de agenda. Romário (Podemos) disse que só dará entrevistas se for oficializado candidato. Eduardo Paes (DEM) nega até o momento a pré-candidatura e não aceitou o convite.

Veja a íntegra da sabatina com Pedro Fernandes

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