Renan deflagra campanha para tentar impedir candidatura de Meirelles

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

Às voltas com a própria tentativa de reeleição em Alagoas, o senador emedebista Renan Calheiros deflagrou uma campanha para tentar impedir a candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles à Presidência pelo MDB.

Crítico ferrenho do presidente Michel Temer (MDB), principal cabo eleitoral de Meirelles para a escolha como candidato da sigla nas convenções partidárias, Renan gravou nesta sexta-feira (13) um vídeo que será distribuído a partir deste sábado (14) a todos os delegados do partido --pessoas aptas a votar no evento agendado para o próximo dia 2 de agosto.

"Gostaria de pedir o seu apoio para defendermos o MDB livre de candidatura presidencial que nos encolha, que nos rebaixe. Não podemos fazer da nossa legenda, cuja história se confunde com a do Brasil, uma legenda de aluguel, movida pelos interesses do sistema financeiro, com uma pauta política que nos afronta e nos envergonha", diz o senador na gravação obtida pelo UOL.

Na mensagem, ele pede aos delegados o voto contra a candidatura de Meirelles "e a favor da liberdade de alianças em cada estado". "O nosso partido é o maior do Brasil. Nós temos excelentes senadores, deputados estaduais, deputados federais, governadores", afirma Renan.

"E a presença dele, com essa agenda contra os pobres e contra os trabalhadores, vai prejudicar o MDB e sua história. Vamos à luta. Porque somos maiores do que o que querem nos fazer. Um grande abraço e vamos à vitória no dia 2", conclui o senador.

Pedro Ladeira/Folhapress
Meirelles cumprimenta Temer em evento do MDB que selou sua pré-candidatura

Nome de Meirelles não é unanimidade no MDB

Meirelles foi oficializado como pré-candidato do MDB no último dia 22 de maio, quando Temer confirmou que não disputaria as eleições de outubro deste ano. Meirelles foi ministro da Fazenda da atual gestão e lançou sua pré-candidatura com a filiação ao MDB no início de abril. Antes, ele era filiado ao PSD.

Apesar de ter o apoio de Temer e aliados como o líder do governo no Senado e presidente do MDB, Romero Jucá (RR), e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Minas e Energia), Meirelles não é unanimidade dentro do partido. Ele sofre forte resistência de caciques como Renan e os senadores Eunício Oliveira (CE), presidente da Casa, e Roberto Requião (PR), por conta de interesses eleitorais regionais.

Nos últimos meses, Meirelles tem minimizado os movimentos de oposição interna e dito que acredita ter ampla maioria para a convenção. O ex-ministro já disse, por exemplo, que terá uma "vitória substancial" no evento. Para garantir o resultado favorável, ele tem viajado pelo país para conversar com os representantes do MDB nos estados.

Na convenção, caberá ao MDB escolher o candidato oficial à Presidência dentre os nomes apresentados ou definir qual a alternativa a ser tomada, como a aliança com candidato de outro partido ou a liberação da sigla para coligações estaduais.

Para ter o nome aprovado, Meirelles precisará de pelo menos metade mais um dos votos válidos na convenção nacional. O número pode variar de acordo com o quórum presente na ocasião -- o mínimo são 223 presentes.

O colegiado é composto por 443 integrantes. Como alguns têm direito de votar mais de uma vez, por conta dos cargos que ocupam, a quantidade total de votos pode chegar a 629.

Cada estado tem ainda um peso específico na votação determinado pela bancada dele no Congresso Nacional, entre outras regras. Entre os mais influentes estão São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Renan pretende registrar a opção de não candidatura para disputar com a chapa de Meirelles. Além de divulgar o vídeo, o primeiro de três que pretende produzir, ele planeja telefonar para delegados e diretórios estaduais de todo o país.

O senador ainda deve viajar para conversar pessoalmente com emedebistas que defendem Meirelles para tentar convencê-los de que Meirelles "encolhe o partido" e dificulta a eleição dos senadores, dos deputados dos governadores nos estados, por conta da impopularidade dele e de Temer.

A reportagem apurou que ele deve escolher cinco estados para visitar de acordo com as conversas, depois de sentir a disposição dos interlocutores para apoiar o ex-ministro da Fazenda.

Renan tenta repetir um feito de doze anos atrás, quando a corrente interna da qual ele fazia parte derrotou a pré-candidatura do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho à Presidência da República por 351 votos a 303, em uma convenção extraordinária. Naquele ano, o partido não lançou candidato e nem se coligou a nenhum outro no pleito nacional.

Waldemir Barreto/Agência Senado
Renan (e) e Eunício estão entre os emedebistas contrários à candidatura de Meirelles

Recursos do "fundão" só para deputados e senadores

No início do mês, a executiva nacional do MDB decidiu deixar sem reserva de recursos públicos do "fundão eleitoral" as campanhas do eventual candidato à Presidência da República e dos 14 postulantes a governador do partido nas eleições desse ano. A executiva determinou o repasse dos R$ 234 milhões oriundos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha apenas para deputados federais (R$ 1,5 milhão, cada) e senadores (R$ 2 milhões) em busca de reeleição e aos diretórios estaduais, além dos 30% a candidatas mulheres, uma obrigação legal.

Com a decisão, os candidatos a governador, inclusive quem busca a reeleição, terão de pleitear recursos públicos do fundo eleitoral por escrito junto aos diretórios estaduais, que receberão ao todo R$ 54 milhões. Houve protesto por parte dos dirigentes de estados em que o MDB disputará o governo. Filho de Calheiros, Renan Filho (MDB) é governador de Alagoas e busca a reeleição.

A medida levou o senador Roberto Requião a abdicar da intenção de apresentar seu nome como presidenciável na convenção do próximo dia 2. "Tiraram o dinheiro. Eu não tenho como apresentar. É só manobra em cima de manobra. Quem é que vai ser candidato sem um tostão?", questionou.

Para o parlamentar, a candidatura de Meirelles, que tem condições de bancar a própria candidatura, seria "uma âncora puxando para baixo, uma tragédia".

Conversa com Lula

A questão eleitoral do MDB deverá ser pauta de conversa de Renan com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante visita prevista para a próxima semana.

Em vídeo divulgado nesta sexta, Renan saiu em defesa da inocência do petista e fez diversas críticas ao Judiciário. O senador encerrou a gravação dizendo "Lula livre!".

O apoio explícito ao petista tem como pano de fundo a força eleitoral do ex-presidente no Nordeste. Mesmo preso e possivelmente inelegível, Lula tem 49% das intenções de voto para presidente na região, segundo pesquisa Datafolha divulgada no mês passado. É o maior percentual de apoio ao petista entre todas as regiões do país.

Renan defende liberdade de Lula e critica Judiciário

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