Imprevisível, Bolsonaro é considerado "pesadelo" de seguranças da campanha
Gustavo Maia
Do UOL, em Brasília
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Gustavo Maia/UOL
Bolsonaro se "pendura" na grade de um coreto em Araçatuba (SP), para desespero de sua equipe de seguranças
"Não deixa ele se jogar! Não deixa ele se jogar!", gritava Sergio Cordeiro, capitão da reserva do Exército. A alguns metros dele, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) estava pendurado na grade de um coreto acenando para apoiadores aglomerados em uma praça de Araçatuba (SP), durante ato de campanha no mês passado.
Policiais federais recém-destacados para escoltar o candidato ouviram, mas desdenharam do alerta. "Vocês não conhecem ele", insistiu Cordeiro. Amigo de Bolsonaro há mais de três décadas, desde os tempos em que o deputado federal ainda estava na ativa do Exército, o militar não desgrudava os olhos dele.
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Um atentado como o ocorrido na tarde desta quinta-feira (6) em Juiz de Fora (MG), quando Bolsonaro foi esfaqueado por um homem, já era temido pela equipe do presidenciável há tempos. O comportamento irrequieto e imprevisível dele sempre foi considerado um agravante na tentativa de garantir sua integridade no meio das multidões que o acompanham.
Em conversas informais com integrantes da equipe de segurança do presidenciável, a reportagem já ouviu ele sendo classificado como um "pesadelo", em tom de brincadeira. Um deles ironizou o repórter durante uma das correrias imprevistas do candidato e perguntou se preferia estar cobrindo a campanha da presidenciável Marina Silva (Rede), mais calma.
Veja como foi o ataque a Bolsonaro em MG
Ao longo dos eventos com potenciais eleitores em diversas cidades brasileiras, o candidato ao Palácio do Planalto aposta no contato físico com aqueles que aparecem nos aeroportos e em carreatas para vê-lo. Apesar dos cuidados com a segurança, como o uso eventual de colete à prova de balas, ele costuma atender a quantos pedidos de fotos forem possíveis, sendo puxado e tocado por centenas de pessoas.
Assim como aconteceu nesta quinta, Bolsonaro tem o hábito de subir nos ombros de apoiadores no meio do público. Do alto, em posição de destaque e maior vulnerabilidade, consegue ser visto por mais pessoas e posar para os inúmeros celulares e câmeras apontados em sua direção. As imagens logo circulam pelas redes sociais e em grupos de WhatsApp. Em uma campanha com pouco tempo de TV, a internet é o principal veículo de divulgação.
Outro momento que revela a espontaneidade que tanto preocupa os seguranças que acompanham Bolsonaro ocorreu ao fim de uma carreata durante o tour pelo interior de São Paulo no fim de agosto.
O candidato desfilara em cima de um carro de som e queria descer para andar no meio da multidão. Impaciente, não aguardou o trâmite e caminhou por cima do veículo e se posicionou sobre a lataria da cabine do caminhão. O público vibrou. Os seguranças tiveram que improvisar para segurá-lo firmemente. "Ele faz o que quer", comentou um assessor.
Desde o fim de julho, Bolsonaro é escoltado diariamente por uma equipe da PF, garantia concedida aos candidatos à Presidência da República. No seu primeiro ato público desde o início oficial da campanha, em Presidente Prudente (SP), no dia 22 do mês passado, a reportagem do UOL flagrou o candidato vestindo um colete à prova de balas, cercado de seguranças.
A peça foi utilizada por ele em outras duas viagens desde então, em Rondônia e Acre.
Presidente em exercício do PSL e um dos mais próximos aliados do deputado federal, o advogado Gustavo Bebianno disse ao UOL que, entre os candidatos, Bolsonaro "está em nível 1 [máximo] de risco".
Em texto publicado hoje à noite, Bebianno disse que se tratava de mais um dia de campanha e que Bolsonaro "foi para o meio da multidão, como sempre, por vontade própria, com o peito e o coração abertos".
"Há muito sabemos que enfrentamos inimigos ardilosos, incapazes de conviver com o contraditório, avessos à real democracia. Sabíamos que havia riscos. Porém, mais impactante que as ameaças é a esperança que nos impulsiona", escreveu.
No mês passado, o próprio candidato foi questionado sobre a preocupação com a segurança e disse que é orientado a seguir certos ritos. "Obedeço e acima de tudo não revelo o que acontece no tocante à minha insegurança, pela minha segurança", declarou.
Depois do ataque desta quinta, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidenciável, disse em entrevista à Globo News que que um atentado contra o pai era previsível. "A gente sempre sabia que isso podia acontecer. A gente tem se prevenido e tem evitado muita coisa, mas quando acontece como aconteceu hoje é que a ficha cai", disse.
Voluntários e segurança reforçada
Em maio, um evento de pré-campanha realizado em Salvador deu mostras da preocupação com a segurança de Bolsonaro. Desde a chegada no aeroporto da capital baiana, ele foi recebido com um esquema segurança reforçado, com dezenas de policiais voluntários.
Na porta do auditório onde ele palestrou para centenas de apoiadores em um hotel, todos tiveram que passar por um detector de metais. A reportagem apurou na ocasião que a equipe do deputado estava preocupada com sua segurança ou com a possibilidade de algum infiltrado na recepção ou no evento feri-lo ou atirar-lhe um ovo.
De acordo com o presidente do diretório do PSL em Salvador, Antonio Olívio, um dos organizadores do evento, 65 policiais militares, civis, federais e rodoviários simpatizantes de Bolsonaro se disponibilizaram para fazer a segurança durante a folga. Segundo os policiais, não houve nenhum tipo de pagamento.
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