De olho no 2º turno, presidenciáveis ampliam ataques, mas poupam Bolsonaro

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

O debate UOL, Folha e SBT com oito candidatos à Presidência da República refletiu nesta quarta-feira (26) a briga apontada nas pesquisas de intenção de voto por uma vaga no segundo turno e viu ampliar o tom ácido nos embates entre os rivais. Líder nas pesquisas de intenção de voto, Jair Bolsonaro (PSL), ausente no evento, foi quase ignorado pelos adversários. 

Internado após um ataque a faca sofrido no último dia 6, durante agenda em Juiz de Fora (MG), Bolsonaro não compareceu. Ciro Gomes (PDT), que passou por um procedimento cirúrgico na próstata nesta terça (25), seguiu direto do hospital Sírio Libanês, na capital paulista, para os estúdios da emissora, em Osasco (Grande SP). Além do pedetista, participaram do evento Alvaro Dias (Podemos)Cabo Daciolo (Patriota)Fernando Haddad (PT)Geraldo Alckmin (PSDB)Guilherme Boulos (PSOL)Henrique Meirelles (MDB) Marina Silva (Rede).

Ao poupar ataques a Bolsonaro, os candidatos investiram suas críticas nos rivais presentes, com destaque para críticas a Haddad, e aos governos de Alckmin e do presidente Michel Temer (MDB).

Leia mais sobre o debate UOL/Folha/SBT:

Em segundo lugar nas pesquisas, Haddad participou nesta quarta de seu segundo debate e travou seu maior duelo com Marina, além de ser alvo de Alvaro Dias e Ciro.

O pedetista, que passou parte do debate sentado em razão do procedimento médico, questionou Haddad sobre desenvolvimento regional. Ao responder a jornalistas no segundo bloco do debate, Ciro salientou que, caso ganhe as eleições, buscará governar sem o PT.

Se eu puder governar sem o PT, eu prefiro, porque o PT, nesse momento, representa uma coisa muito grave para o país, menos pelos benefícios, que não foram poucos, que produziu, mas mais porque se transformou em uma estrutura de poder odienta que criou o Bolsonaro, essa aberração

Ciro Gomes, em resposta a pergunta feita por jornalista

O petista também foi alvo de críticas de Marina, depois de questionar o posicionamento dela sobre duas medidas do governo Temer: o teto de gastos e a terceirização da reforma trabalhista. A candidata da Rede disse que o país se encontra no "fundo do poço em função da corrupção, dos governos do PT, do MDB e do PSDB, que hoje estão todos juntos na mesma vala comum da corrupção".

Haddad lembrou a adversária o apoio dado por ela ao impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016, e delegou parte da culpa pela crise econômica à candidata. "Você participou desse movimento pelo impeachment para colocar o [presidente Michel] Temer lá com as consequências conhecidas", enfatizou. Visivelmente irritada, a candidata da Rede negou a defesa das duas medidas do emedebista e se eximiu de responsabilidade sobre Temer.

Haddad e Marina discutem responsabilidade pelo 'legado Temer'

"Não defendo terceirização de atividade meio e nem defendo esse teto que foi feito pelo Temer que foram vocês, sim, do PT que se juntaram com ele para poder afundar o Brasil", acusou. "É muito engraçado, Haddad, você vir falar do Temer e do impeachment, quando você foi pedir a bênção para o Renan Calheiros, que também apoiou o impeachment. São dois pesos e duas medidas", ironizou.

Em um embate duro, o candidato do Podemos escolheu Haddad para falar sobre Imposto de Renda, e se referiu ao adversário como "representante do preso que está em Curitiba", em menção indireta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na olimpíada da mentira e da ficção, o PT ganha medalha de ouro. A mentira e a mistificação têm sido armas do PT para iludir o povo brasileiro", criticou. "O PT é implacável com o pobre, ele distribui a pobreza

Alvaro Dias, durante pergunta dirigida a Haddad

Haddad pontuou que Alvaro fora senador do PSDB e "apoiou o governo Fernando Henrique [Cardoso], campeão de aumento de carga tributária no Brasil". "O senhor não tem o menor respeito com a população beneficiária de todos esses programas [sociais do PT], inclusive os que eu fiz no Ministério da Educação", rebateu o petista, reforçando os feitos do governo Lula.

O candidato do Patriota, Cabo Daciolo, deixou o monte Céu Aberto, na Baixada Fluminense, na manhã de terça-feira (25), onde estava em um retiro espiritual. No seu primeiro debate após o retorno à campanha, o presidenciável distribuiu críticas a todos os rivais presentes e arrancou risadas em diversos momentos do evento, como quando mandou recado para a mãe, presente na plateia.

Daciolo cita frase que já foi usada por Ciro ao rebater Ursal

Críticas à gestão tucana

Já Geraldo Alckmin preferiu poupar Bolsonaro, um dos principais alvos de sua campanha na TV. Alckmin só fez referência ao candidato do PSL durante as considerações finais, ao se referir a ele como "o candidato da discriminação". Em contrapartida, o ex-governador foi atacado por adversários como Meirelles, Haddad e Boulos.

O tucano teve questionados os discursos de lisura e eficiência, que são marca registrada de sua campanha. Boulos, que abriu o debate, mencionou que, quando era professor, "faltava giz na sala de aula, faltava papel higiênico no banheiro das escolas, professores [eram] desvalorizados."

Agora, o que eu e o Brasil todo queremos saber sobre a educação, Alckmin, é: cadê o dinheiro da merenda?

Guilherme Boulos questiona Alckmin sobre denúncias na rede estadual

O tucano defendeu os indicadores do estado em educação e negou fechamento de escolas. "Tenho 40 anos de vida pública, sempre trabalhei, não fui desocupado, não invadi propriedade, não tenho nenhuma condenação", rebateu Alckmin. Sobre o escândalo de desvios de recursos da merenda escolar, o tucano disse não haver "ninguém envolvido" ligado a ele.

Nas considerações finais, Alckmin ataca Haddad e Bolsonaro

Já Meirelles ironizou o discurso sobre eficiência ao citar o desempenho de Alckmin na política de transportes."O Estado de São Paulo deve, finalmente, completar a linha 5 do metrô. O problema é que isso demorou 20 anos. Esse é o tipo de eficiência que você pretende levar para Brasília?", disse o candidato do MDB, partido de quem o PSDB fora aliado até as definições das candidaturas.

Alckmin defendeu que São Paulo "é o estado que mais investe hoje no Brasil", citou dados sobre a extensão dos quilômetros metroviários e afirmou que ainda há o que ser entregue "daqui a algumas semanas".

Meirelles aproveitou o gancho para dizer que eficiência foi a construção de reservas e o pagamento da dívida, feitos de quando era presidente do Banco Central, o que, disse ele, ajudou a criar "milhões de empregos".

Alguma coisa deu errado, né? Porque a economia era para crescer 4% este ano, depois do desastre do PT. O povo perdeu 8% da renda, e o Temer é do PT, é o vice da Dilma, aliás, duas vezes foi eleito vice-presidente da República, junto com a Dilma e o PT

Geraldo Alckmin reage à crítica de Meirelles

Críticas a Bolsonaro nas considerações finais

Assim como Alckmin, Ciro e Boulos também aproveitaram seus 60 segundos cada um para apontar críticas a Bolsonaro.

Boulos destacou a série de atos de mulheres contra o candidato do PSL, previstos para sábado (29). "As mulheres são a maioria da população brasileira e vão salvar o país do atraso. Mais da metade da população de mulheres rejeita Bolsonaro e vão estar, nesse próximo sábado, num grande ato por #elenão", disse.

Ciro se referiu a Bolsonaro como "aberração" e pediu o voto de quem vota em Bolsonaro por ser antipetista. "Desculpa, nós não podemos concordar com isso. Embora você é quem mande (...). "O Brasil não aguenta mais essa polarização. Esse enfrentamento de um votar contra o outro acaba produzindo esse resultado que nós estamos assistindo desde 2014", afirmou.

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