Nordeste tem 6 de 7 governadores reeleitos, todos aliados da esquerda

Fernando Cymbaluk

Do UOL, em São Paulo

  • Arte UOL

    Camilo Santana (PT), do Ceará, Rui Costa (PT), da Bahia, e Paulo Câmara (PSB), de Pernambuco

    Camilo Santana (PT), do Ceará, Rui Costa (PT), da Bahia, e Paulo Câmara (PSB), de Pernambuco

Dos sete governadores reeleitos no primeiro turno das eleições deste ano, seis são de estados nordestinos e de partidos de esquerda ou que possuem a esquerda na coligação. 

O PT garantiu a vitória em três estados: Rui Costa na Bahia, Camilo Santana no Ceará e Wellington Dias no Piauí. O PCdoB venceu no Maranhão com Flávio Dino, primeiro comunista reeleito da história do país. O PSB levou Paulo Câmara à reeleição em Pernambuco. E o MDB manteve o domínio em Alagoas com a presença de partidos como PT, PCdoB e PDT na coligação de Renan Filho. O único reeleito que não é da região é Mauro Carlesse (PHS), de Tocantins.

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A força do lulismo, um amplo arco de alianças e desistências de candidaturas da oposição são fatores que explicam o sucesso de petistas e aliados no Nordeste.

Para os analistas, a memória de políticas sociais e do desenvolvimento da região nos mandatos de Lula e Dilma tiveram peso na decisão dos eleitores que reconduziram apoiadores de Lula ao comando de seus estados. Todos esses governadores tentaram visitar o ex-presidente em Curitiba em 10 de abril, mas foram barrados pela Justiça.

"As ações do PT no Nordeste nos governos Lula e Dilma foram eficientes para expandir acesso a bens para o grosso da população, especialmente aos mais pobres. O eleitorado recompensa isso", diz Raimundo França, cientista político da Unemat (Universidade do Estado de Mato Grosso).

Para Humberto Dantas, cientista político da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a ideia de que o impeachment de Dilma Rousseff enfraqueceria a esquerda não se verificou nos estados nordestinos. "O resultado no Nordeste dá mostra de força do PT que não pode ser desprezada. O partido ganhou em estados importantes, como Bahia e Ceará", afirma.

Mas outros fatores além do lulismo podem ter sido ainda mais determinantes no resultado das urnas no Nordeste. O PT liderou uma exitosa articulação política na região, que contou com troca de apoio com o MDB em Alagoas e no Ceará e a retirada de candidatura própria em Pernambuco, de Marília Arraes, para garantir o PSB em seu arco de alianças. Sem a petista na disputa, Paulo Câmara (PSB) garantiu a vitória no primeiro turno.

"As construções de palanques ocorreram antes das campanhas eleitorais. A estratégia de coordenação eleitoral do PT no Nordeste é mais exitosa do que em outras regiões do país", diz Maria do Socorro Braga, cientista política da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos, em São Paulo).

Para a especialista, a penetração dos diversos partidos aliados no eleitorado é que garante vitórias expressivas, como a de Camilo Santana no Ceará e de Renan Filho em Alagoas. Suas chapas contaram, respectivamente, com 16 e 17 partidos. "As alianças atraem cabos eleitorais e eles trazem muitos votos", afirma, em referência a candidatos à Câmara e ao Senado que pedem votos para o nome ao governo da chapa.

Reprodução/Facebook/Camilo Santana

Ceará

O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), venceu a eleição no primeiro. Em segundo lugar, ficou General Theophilo (PSDB). A coligação do PT no Estado foi formada por 16 partidos, enquanto a do PSDB teve apenas o apoio do PROS.

O PT contou ainda com um acordo informal com o MDB. O candidato petista à Presidência, Fernando Haddad, chegou a dividir palanque no estado com o senador Eunício Oliveira (MDB-CE), que concorreu à reeleição, mas não foi reeleito. O senador e ex-governador Tasso Jereissati (PSDB) acusou o PT de usar a máquina do Estado para vencer a disputa.

Raul Golinelli/Governo da Bahia

Bahia

Na Bahia, o governador Rui Costa (PT) venceu as eleições no primeiro turno. José Ronaldo (DEM) ficou em segundo. O atual governador contou com reveses do grupo oposicionista. O DEM buscou atrair para suas bases partidos que eram aliados do governador Rui Costa, mas não teve sucesso.

O fracasso em construir uma ampla aliança contra Costa levou o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), a desistir de concorrer ao governo do estado. Também contribui para o enfraquecimento da oposição escândalos como o da descoberta de um bunker com R$ 51 milhões em um apartamento ligado a Geddel Vieira Lima (MDB), um dos principais líderes da oposição e então virtual candidato ao Senado na chapa de ACM Neto.

Wellington Dias/Facebook/Divulgação

Piauí

O candidato à reeleição Wellington Dias (PT) venceu a disputa para o governo do Piauí. Dias ficou à frente do Dr. Pessoa (SD) e de Luciano (PSDB).

Para chegar à vitória, o petista contou com coligação com oito partidos que incluiu forças de centro-esquerda e centro-direita, como PCdoB, PDT, MDB, PP e PR. A campanha eleitoral de Dias foi acusada de ter contratado influenciadores digitais para disseminar mensagens positivas sobre ele e outros integrantes da legenda.

Renan Filho/Facebook/Divulgação

Alagoas

Renan Filho (MDB) se reelegeu em Alagoas. Em segundo lugar ficou Josan Leite (PSL). A vitória de Renan Filho contou com uma coligação de 17 partidos, incluindo o PT, e a ausência de adversários expressivos.

No início do ano apostava-se na candidatura do prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), como opositor, mas ele não renunciou e frustrou o plano da oposição. O senador Fernando Collor (PTC) lançou candidatura, mas acabou desistindo pouco menos de um mês do pleito alegando falta de apoio.

Flavio Dino/Facebook/Divulgação

Maranhão

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), foi reeleito. A ex-governadora Roseana Sarney (MDB) ficou em segundo. Para chegar novamente ao governo, Dino construiu um grande arco de alianças do PCdoB com mais 15 partidos: PRB, PDT, PPS, DEM, PSB, PR, PP, PROS, PT, PTB, Patri, PTC, Solidariedade, PPL e Avante.

A campanha no Maranhão foi marcada por constante troca de farpas entre os dos dois principais candidatos. Do lado de Dino, um dos argumentos mais usados foi o de que a família Sarney governou o estado por quase meio século e deixou o Maranhão no topo da pobreza do país.

Marlon Costa/Futura Press/Folhapress

Pernambuco

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), foi reeleito. Em segundo lugar ficou Armando Monteiro (PTB). Além de ter a máquina do governo de Pernambuco, Câmara teve a seu favor o apoio do PT, que retirou o nome da vereadora de Recife Marília Arraes da disputa como parte de um acordo nacional com o PSB.

A base dos movimentos sociais, que estava junto com Marília desde o primeiro momento, migrou para Paulo Câmara após o governador receber o apoio formal do PT.

Paulo Câmara, que apoiou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e votou no tucano Aécio Neves no segundo turno das eleições presidenciais de 2014, teve na sua chapa o senador Humberto Costa (PT).

Outros candidatos à reeleição

Sergipe é único Estado nordestino com candidato à reeleição que vai definir o pleito no segundo turno. A disputa será entre o atual governador, Belivaldo Chagas (PSD), e Valadares Filho (PSB).

O único estado do Nordeste com um candidato a reeleição que saiu derrotado da disputa no primeiro turno é o Rio Grande do Norte. O governador Robinson Faria (PSD) enfrentou dificuldades em seu mandato, marcado por atraso em pagamentos de salários e greves, e acabou fora da disputa. Ainda assim, o segundo turno será disputado por forças de esquerda: Fátima Bezerra (PT) e Carlos Eduardo (PDT).

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