"O que está em jogo hoje é a democracia", diz Haddad após votar em SP
Ana Carla Bermúdez e Nathan Lopes
Do UOL, em São Paulo
"Meu sentimento é que hoje o que está em jogo é a democracia", disse Fernando Haddad (PT) a jornalistas após votar neste domingo (28), na zona sul de São Paulo.
"Eu considero que hoje é um grande dia para o país. O projeto de nação que nós representamos ganhou as ruas na última semana", afirmou.
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Haddad também declarou esperar que o dia transcorra com "muita tranquilidade".
Do lado de fora da escola, o clima era de tensão. Dezenas de militantes cantavam incessantemente uma letra que dizia "que ainda cabe sonhar", e moradores de um prédio em frente batiam panelas.
Dois inícios de tumulto tiveram de ser contidos pela Polícia Militar.
Na zona eleitoral onde vota, Haddad foi o quinto candidato preferido dos eleitores no primeiro turno, com 6,88% dos votos válidos. Ele ficou atrás do próprio Bolsonaro (53,97%), Ciro Gomes (PDT, 14,05%), Geraldo Alckmin (PSDB, 10,86%) e João Amoêdo (10,73%).
Reta final
Antes de sair para votar, Haddad disse que iria 'lutar até o último minuto'.
A diferença entre ele e o adversário, Jair Bolsonaro (PSL), segundo pesquisa do Datafolha divulgada no último sábado (27) caiu para 10 pontos percentuais na contagem dos votos válidos (o que exclui brancos e nulos) -- a vantagem é do capitão reformado.
Mais cedo, Haddad tomou café da manhã com lideranças petistas em um hotel também na zona sul de São Paulo. "Gente importante declarou voto em mim", disse.
A fala é referência ao apoio recebido pelo ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa, e uma crítica indireta a Ciro Gomes (PDT), que não declarou apoio à sua candidatura.
Ontem, Ciro utilizou uma rede social para divulgar um vídeo em que pedia que os eleitores "votassem contra a intolerância".
"Vamos olhar para os brasileiros que tiveram, num momento difícil da vida nacional, uma postura de honradez, defendendo o Brasil e a democracia", disse Haddad.
Otimismo
"Estou muito confiante que vamos ter um grande resultado hoje. Vamos lutar até o último minuto. As pesquisas indicam uma retomada importante da intenção de voto no nosso projeto. E eu confio na democracia, confio no povo brasileiro", afirmou.
O petista tem usado os números das últimas pesquisas para reforçar um discurso de virada. Em seus últimos dias de campanha, Haddad participou de atos em São Paulo, no Rio e ainda fez um giro pelo Nordeste, passando pelas cidades de Recife, João Pessoa e Salvador.
"Quero pedir para cada um de vocês um voto a mais para varrer o fascismo desse país", afirmou em ato no Tuca, teatro da PUC em São Paulo. Em Recife, Haddad chegou a dizer que Bolsonaro não vai ter oposição porque "não vai ser governo" e incentivou os presentes a conversar com eleitores do deputado federal para convencê-los a mudar o voto. "Está fácil virar voto no Brasil inteiro", disse.
Haddad chegou ao local de votação após tomar café da manhã em um hotel na região do Paraíso, também na zona sul da capital paulista. No primeiro turno, o candidato fez rotina semelhante, mas com café da manhã no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, berço sindical e político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Logo após a confirmação do segundo turno, em uma tentativa de driblar o antipetismo e o antilulismo, o PT buscou afastar a imagem de Lula na campanha de Haddad.
Além retirar Lula dos materiais de campanha, a cor vermelha, tradicional do partido, foi substituída pelas tonalidades da bandeira brasileira, em azul, verde e amarelo. O ex-prefeito de São Paulo também deixou de visitar Lula às segundas-feiras na prisão, em Curitiba.
Segundo a agenda de campanha prevista para este domingo, às 17h, Haddad voltará ao hotel onde passou a manhã para acompanhar a apuração dos votos ao lado de correligionários.
Com Joaquim Barbosa, mas sem Ciro
Haddad chega ao segundo turno sem conseguir formar uma aliança de lideranças partidárias em torno de sua candidatura. O candidato derrotado Guilherme Boulos, do PSOL, foi o único que prontamente se somou à campanha petista após o primeiro turno.
Já o PDT, do candidato derrotado Ciro Gomes, declarou "apoio crítico" ao PT. Logo depois do primeiro turno, Ciro viajou para a Europa, onde passou as últimas semanas. Na tentativa de conquistar o apoio explícito de Ciro, Haddad fez diversos acenos ao pedetista ao longo da campanha. Os esforços, no entanto, não surtiram efeito. Ciro, que voltou ao Brasil nesta sexta, gravou ontem um vídeo pedindo que os brasileiros votem "contra a intolerância", sem citar nominalmente Haddad ou Bolsonaro.
Também às vésperas do segundo turno, o ex-ministro Joaquim Barbosa (PSB), relator do Mensalão, citou "medo" de Bolsonaro e declarou voto em Haddad.
Na esteira do apoio "crítico", a candidata derrotada Marina Silva (Rede) declarou "voto crítico" em Haddad a seis dias do segundo turno. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), também procurado por Haddad, afirmou que não votará em Bolsonaro --mas, ao mesmo tempo, tem feito duras críticas ao PT.