Prefeito de Palmas abre sigilos a CPI e nega doação de Cachoeira e irregularidades em contratos com a Delta
O prefeito de Palmas (TO), Raul Filho (PT), flagrado em vídeo em conversa com o contraventor Carlinhos Cachoeira, ofereceu à CPI nesta terça-feira (10) a quebra de seus sigilos bancário, fiscal e telefônico e entregou aos parlamentares cópias dos contratos com a Delta e as prestações de contas da sua campanha. Ele disponibilizou também os informes das contas da prefeitura de Palmas referentes aos anos de 2005 a 2009, que, segundo Raul Filho, foram aprovadas pelo Tribunal de Contas e pela Câmara Municipal. O prefeito petista ainda negou que tenha recebido dinheiro de Cachoeira durante a campanha de 2004 para a prefeitura de Palmas.
“Naquela época eu não era prefeito, apenas candidato. O senhor Carlos Cachoeira não fez doação para a minha campanha”, afirmou, sobre as imagens flagradas em vídeo e divulgado no último dia 1º no “Fantástico”. “Nós não tivemos nada absolutamente de doação do senhor Carlos Cachoeira naquela campanha (de 2004). Por mais que seja uma coisa concreta no vídeo, ela não se materializou."
“Nenhuma empresa do senhor Carlos Cachoeira prestou serviço emergencial nem venceu qualquer licitação do meu governo. Nos primeiros anos sequer havia comentários de que a Delta tinha qualquer vínculo com Cachoeira”, completou.
Em outro momento do depoimento, ao voltar a negar relação com o esquema do contraventor, o prefeito cometeu um ato falho ao trocar 'bode expiatório' por 'boi expiatório': “Relator, não há nada que vincule o esquema Cachoeira com a administração de Palmas. Não há nada que vincule o esquema Cachoeira com a administração de Palmas. Nós estamos sendo vítimas de um problema que está acontecendo no Brasil, mas que estão tentando transferir para um governo que sempre pautou pela honestidade, pela transparência dos seus atos. Estão nos colocando nisso como um boi (sic) expiatório, alguma coisa nesse sentido”.
De acordo com o prefeito, na área do lixo, a empresa Delta firmou um contrato por meio de licitação que começou a vigorar em 2006, no valor de R$ 11,54 milhões. Depois deste, foram selados mais quatro contratos emergenciais, nos valores de R$ 6,72 milhões, R$ 7 milhões, R$ 8,56 milhões e R$ 8 milhões, respectivamente. Já na segunda licitação, que está em questionamento pelo Tribunal de Contas do Estado, no valor de R$ 71 milhões, “a Delta não operou ainda nem 50%”, afirmou.
Raul Filho foi chamado a falar na CPI do Cachoeira depois da divulgação de vídeo de 2004 em conversa com Cachoeira, na qual trataria de ajuda para a campanha dele em troca de favorecimento em contratos. As gravações foram apreendidas pela Polícia Federal durante a Operação Monte Carlo na casa de um dos integrantes do grupo do contraventor.
Em um dos diálogos, Raul Filho aponta a Cachoeira onde seu grupo poderia atuar no governo local: "Palmas tem uma série de oportunidades a serem exploradas, no campo imobiliário, transporte. Lá tem uma questão que nós vamos rever ela mesma [sic], a concessão da água".
Já em outro trecho da conversa, Cachoeira disse que ajudaria o então candidato e também fala do que espera em troca. "Eu posso falar que dou uma posição para você no show. E tem como disponibilizar uma verba aí. Aí você vê com o Alexandre aí qual o nicho que a gente pode participar posteriormente."
Encontros
Ao ser questionado sobre a relação com Cachoeira, Raul Filho afirmou que o encontrou por duas vezes: uma em 1994 e outra em 2004. "A primeira e última vez que eu vi, ou melhor, em 94, se deu esse encontro ocasional; não nos falamos mais. Nunca mais tive contato com o Sr. Carlos Cachoeira, a não ser nesse encontro, no seu escritório, em que o vídeo mostra as gravações", relatou.
Vídeo mostra prefeito de Palmas em conversa com Cachoeira
Raul Filho também afirmou que o show do cantor Amado Batista, durante sua campanha de 2004, não foi pago por Cachoeira, e sim por uma empresa de Araguaína (TO).
Em outro vídeo, também divulgado pelo “Fantástico”, Silvio Roberto, amigo do prefeito, aparece negociando com Cachoeira: “É comprometer esses R$ 150 mil e o show com coisas palpáveis. Vai acontecer o seguinte: nós vamos tentar fazer isso, certo? Porque se eu puder ter uma aposentadoria e o Raul ter uma, tudo bem”.
Na sequência, o amigo do prefeito completa: “Lá é o seguinte, sabe o que fazer? Passo para o Alexandre um fax de umas cinco contas pulverizadas, que não têm nada a ver com campanha. Chega lá, amanhã, não tem problema nenhum”.
Sobre o diálogo, o prefeito petista avaliou que seu amigo "errou e se empolgou", mas que não deixará de ser seu amigo e que somente ele poderia esclarecer à CPI o que falou ao contraventor.
"Quem conhece o Silvio Roberto [sabe que] ele é uma pessoa extremamente empolgada. Penso que deve ter sido um momento de motivação, tentando convencer para algum tipo de ajuda, compreendendo que a nossa situação lá era sufocante. Mas sei que, no coração dele, ele nunca colocou isso com essa pretensão, até porque é uma pessoa que não tem ambições", disse Raul Filho.
Depois da divulgação da gravação, foram feitos seis pedidos para convocação do prefeito na CPI, que foram reunidos e aprovados no último dia 5 de julho. No mesmo dia, Raul Filho entregou à comissão um ofício no qual se informou estar “à disposição" dos parlamentares para “esclarecer toda a verdade" sobre a relação dele com Cachoeira e a extensão do relacionamento dos dois no governo de Palmas.
Prefeito de Palmas se confunde e comete gafe na CPI
Cachoeira é apontado pela Polícia Federal como sócio oculto da Delta, que possui contratos com a prefeitura de Palmas e é atual responsável pela limpeza urbana na cidade. Este e outros contratados da empresa com a prefeitura já estão sendo investigados pelo Tribunal de Contas e pelo Ministério Público do Tocantins.
Raul Filho e sua mulher, a deputada estadual Solange Duailibe (PT), foram denunciados pela Procuradoria Regional Eleitoral do Tocantins por crime eleitoral sob acusação de usarem documentos falsos para justificar valores arrecadados na campanha de Solange em 2010.
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