Deputado admite na CPI empréstimo de R$ 120 mil de Cachoeira, mas nega saber de crimes
O deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) negou em depoimento nesta terça-feira (9) ter participado ou se beneficiado de qualquer esquema de corrupção coordenado pelo contraventor Carlinhos Cachoeira, de quem admitiu ser amigo desde 1987. A amizade, admitiu o parlamentar, possibilitou que ele tomasse de Cachoeira um empréstimo de R$ 120 mil ainda não quitado. “Não paguei ainda porque ele está preso”, disse.
O deputado negou ter usado cartão de crédito do bicheiro para fazer compras e informou que o valor emprestado, abaixo dos R$ 400 mil que se chegou a divulgar, na imprensa, foi para investimentos rurais.
Leréia também negou que soubesse de ações ilícitas de Cachoeira, com quem disse não ter rompido a amizade, após as investigações que culminaram na prisão do bicheiro, para não soar “hipócrita”. Indagado pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Leréia se dispôs a fornecer à CPI seus sigilos telefônico, bancário e eletrônico.
Indagado sobre a empreiteira Delta Construções, a qual, segundo a PF, estarira envolvida no esquema de Cachoeira, o parlamentar disse ter se encontrado várias vezes com Cachoeira na sede da construtora, a qual teria se tornado uma espécie de local de trabalho de Cachoeira depois que ele se separou.
"Não achei estranho ele estar com escritório na Delta, visto que sempre foi uma pessoa relacionada com meio-mundo: gente da Justiça, das artes, do empresariado. Carlinhos não era clandestino, não vivia na clandestinidade. Certa vez, até perguntei que negócios ele mantinha com a Delta, mas ele não quis me responder e não insisti", resumiu.
“Ele nunca falou comigo sobre isso [empresas de fachada e esquemas com empresários e agentes], e uma única vez que perguntei que negócios ele tinha com a [construtora] Delta, ele não quis falar. É deselegante insistir; parece que você está querendo investigar”.
Lereia falou na condição de convidado, e não convocado. O parlamentar deveria ter ido à CPI em setembro, mas faltou por questões pessoais.
Aparelhos Nextel
Leréia também declarou à CPI ter recebido um aparelho Nextel de Cachoeira, preso pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo em fevereiro deste ano. De acordo com o deputado, ele recebeu um aparelho emprestado, no final dos anos 1990, quando viajou com a família para a Disney. Após a viagem, disse, devolveu o aparelho ao bicheiro "dois, três, quatro meses depois, não lembro exatamente".
“Ele [Cachoeira] me emprestou para ir aos Estados Unidos, em 1998 ou 1999, não me recordo bem. Tenho cinco aparelhos por questão de economia, pois funcionam como rádio e não como celular. Posso falar 24 horas se eu quiser. Depois que voltei de viagem, devolvi para ele", afirmou.
Conforme as investigações, agentes públicos como o agora ex-senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) usavam aparelhos Nextel habilitados nos Estados Unidos para manter conversas secretas com o bicheiro, uma vez que o rádio seria à prova de grampo. As conversas do chamado “clube Nextel”, nome de batismo do grupo de beneficiados, foram captadas pela PF na Operação Monte Carlo.
Prorrogação dos trabalhos da CPI
Antes de ouvir Leréia, integrantes da CPI analisaram a possibilidade de prorrogação dos trabalhos da comissão, cujo encerramento está marcado para o próximo dia 4. A possibilidade foi colocada após requerimento apresentado pelo senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).
A decisão sobre a prorrogação será tomada em reunião de lideres partidários marcada para a próxima terça-feira (16) de manhã. Segundo Rodrigues, a coleta de assinaturas para que a CPI se estenda encontrou apoio em outros parlamentares. Ao todo, é necessário um terço dos membros da Câmara e um terço dos membros do Senado.
Membros da comissão de outros partidos apoiaram o pedido de Rodrigues. “Nós rechaçamos a hipótese de acordo para encerrar esta CPI, mesmo pelo monumental desvio de dinheiro público investigado”, disse o senador Alvaro Rodrigues (PSDB-PR).
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