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Antes da votação, nove senadores sobem à tribuna para defender Taques e nove declaram apoio a Renan

Camila Campanerut e Fernanda Calgaro

Do UOL, em Brasília

01/02/2013 11h08Atualizada em 01/02/2013 13h33

Antes do início da eleição para a presidência do Senado, 18 senadores se inscreveram para subir à tribuna nesta sexta-feira (1º) e tecer considerações sobre os dois candidatos: Renan Calheiros (PMDB-AL) e Pedro Taques (PDT-MT). Cada um deles teve cinco minutos para usar a palavra. Nove deles falaram a favor do candidato da minoria, Taques, e nove defenderam a candidatura do governista Renan.

Após o término das falas dos senadores inscritos, os candidatos à presidência poderão usar a palavra por 20 minutos.

A favor de Taques

A primeira a pedir a palavra foi a senadora Lídice da Mata (BA), líder do PSB no Senado, que se posicionou a favor de Taques. “O povo brasileiro está insatisfeito com os políticos. Neste quadro, não podemos compartilhar da ideia que a eleição possa se dar sem amplo debate sobre as suas propostas, sobre como é dirigir este Senado e qual a pauta para o ano de 2013”, afirmou. “Com esta convicção, tomamos a decisão de apoiar a candidatura do senador Pedro Taques”, concluiu Lídice.

Em seguida, subiu à tribuna o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que também defendeu a candidatura de Taques como a “possibilidade de renovar o Senado”. Buarque afirmou que a imagem da Casa não melhorou nos últimos dois anos e que os senadores ficam “acabrunhados pela maneira como o Brasil nos percebe”. “Taques pode trazer uma visão olhando muito mais para o futuro”, disse, acrescentando que ele não tem “os vícios que nós, que estamos aqui há mais tempo, vamos adquirindo”.

“A candidatura de Pedro Taques é representativa para o sonho daqueles que querem ver um novo Senado, mergulhado no trabalho, no progresso das ideias, com os projetos andando de forma célere e uma nova filosofia de trabalho que será aplicada, sem dúvida alguma, dando continuidade ao que fez José Sarney, dentro de um novo modelo, que significa, antes de tudo, o fortalecimento dos ideais democráticos” afirmou Antonio Carlos Valadares (PSB–SE), cuja bancada inteira, composta por quatro senadores, decidiu ontem apoiar Taques.   

Outros dois senadores do PSB, que decidiu apoiar Taques essa semana, também se pronunciaram a favor de Taques: senador Rodrigo Rollemberg (DF) e João Capiberibe (AP). 

"Vamos votar no senador Pedro Taques porque entendemos que ele representa as aspirações da sociedade". "O Brasil quer mudanças de postura. Temos a responsabilidade de fortalecer a democracia, o que significa ter um Congresso Nacional respeitado e em sintonia com a opinião pública", afirmou Rollemberg.

A candidatura de Pedro Taques é representativa para o sonho daqueles que querem ver um novo Senado, mergulhado no trabalho, no progresso das ideias, com os projetos andando de forma célere e uma nova filosofia de trabalho

Antonio Carlos Valadares (PSB-SE)

O discurso a favor da mudança também foi adotado pelo senador João Capiberibe. “Eu quero a mudança. Não é possível tolerar as práticas não republicanas e jogo de cartas marcadas”, defendeu o quinto orador a falar. “Não podemos ficar inertes. Oxigenar o Senado é mais do que necessário. É vital para a sua sobrevivência”, completou. 

Representando a bancada tucana no Senado, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) criticou a condução atual da Casa e o governo federal: “A impressão é que o Poder Executivo, nos últimos anos, prefere ver o Congresso Nacional como uma usina de escândalos para minimizar os seus problemas e desviar o foco.” Dias acrescentou que, porém, que parte da culpa também é do Senado. “Nós oferecemos razões de sobra para o achincalhe permanente.” Ontem, o PSDB anunciou que apoiaria a candidatura independente de Taques.

Até mesmo um correligionário de Renan, senador Pedro Simon (PMBD-RS), posicionou-se contra sua candidatura. Antes de dar início a sua fala na tribuna, o senador chamou a atenção dos colegas no plenário para que prestassem atenção no que estava sendo dito. “Não é possível continuar a reunião como estamos fazendo agora. O Brasil inteiro está nos acompanhando. Desafio um colega a dizer o que ouviu do outro...”

Simon relembrou a renúncia de Renan em 2007 do cargo de presidente do Senado em meio às denúncias. Ressaltou que ele deixou o posto e continuou senador sem problemas, mas que seria complicado para o Senado tê-lo novamente nessa posição. “Está voltando tudo de novo. A Procuradoria Geral da República fez uma denúncia ao Supremo Tribunal Federal e está na mão do presidente do STF de denunciar o presidente eleito do Senado por crimes da maior seriedade”.

O senador gaúcho disse que não tem nada pessoal contra Renan, mas que “é importante deixar o Senado tranquilo, sereno”. Fez ainda um apelo para que Renan não assumisse o posto. “Praticará um gesto que ficará marcado na sua biografia”, disse Simon, que teve seu microfone diversas vezes cortado por ter ultrapassado o tempo estipulado de cinco minutos.

Na tribuna, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que ontem abdicou de sua candidatura em favor de Taques, fez um discurso cobrando ética no Senado e uma agenda que seja do interesse do Brasil. “O grande inimigo da República é o uso privado da coisa pública. É a apropriação da coisa pública como se bem pessoal fosse. Esta triste tradição do patrimonialismo legado a nós pela herança portuguesa seja talvez a principal característica que destoa e desmoraliza a nossa República”, disse Randolfe.

O presidente do DEM e líder do partido no Senado, José Agripino (RN), defendeu na tribuna que o Senado resgate o seu prestígio institucional e, para isso, precisará renovar sua imagem. “Entendo que, neste momento, o nome para representar o Parlamento brasileiro é o do senador Pedro Taques.”

A favor de Renan

As falas a favor de Renan Calheiros vieram, sobretudo, do seu partido, o PMDB.

Ao defender a candidatura de Renan Calheiros, o senador Sérgio Souza (PMDB-PR) disse que a legenda é a que tem maior representatividade no Senado em número de senadores, e, portanto, faz sentido que ocupe a Presidência do Senado. O senador comentou as denúncias que pesam contra Renan e afirmou que elas dizem respeito a “fatos de 2007, mais ligados à vida particular do senador do que à vida pública”. Exaltando a competência de Renan, Souza concluiu pedindo um voto de confiança ao candidato.

Já senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), correligionário de Renan, não chegou a defender o alagoano, mas defendeu o partido. Vital do Rêgo começou sua fala elogiando José Sarney (PMDB-AP), que deixa hoje a presidência da Casa. "(O Senado) Tem à frente um homem que trouxe modernidade, informação e transparência à Casa”, afirmou Vital. “Vossa excelência [Sarney] não estaria nesta cadeira se não fosse o PMDB. O partido que não pediu favores para estar aqui e representa a maior liderança do país eleito pela vontade da maioria do povo brasileiro”, declarou Vital.

O novo líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), iniciou sua fala, assim como os demais peemedebistas, elogiando a gestão de José Sarney (PMDB-AP) à frente da presidência do Senado.  O parlamentar utilizou como argumentos que a tradição do Senado é eleger como presidente o candidato indicado pelo partido com o maior número de senadores. “O novo presidente, senador Renan Calheiros, tem o meu voto. [Ele] terá que enfrentar enormes desafios e tem competência para isso e capacidade política e vai realizar uma grande gestão de qualidade”, continuou Eunício Oliveira. 

Não há ninguém de levantar o dedo ao senador Renan Calheiros

Lobão Filho (PMDB-MA)

Outro peemedebista usou a palavra para defender a candidatura de Renan. “Não é de surpreender a nenhum de nós senadores que, a cinco dias da eleição do Senado, o procurador [geral da República, Roberto Gurgel] faça uma denúncia”, afirmou o senador Lobão Filho (PMDB-MA), no discurso com tom mais duro até o momento. “Não há ninguém de levantar o dedo ao senador Renan Calheiros”, disse Lobão Filho. 

"O PMDB exerce o seu legítimo direito constitucional pela tradição desta Casa na escolha do seu representante para postular aquela cadeira [de presidente]”, completou. “Acho que o nosso partido fez a escolha correta e volto a dizer que o PMDB não está usurpando o direito de ninguém”, continuou Lobão Filho, filho do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. 

O ex-presidente da República e senador Fenando Collor (PTB-AL) iniciou sua fala destacando que o Poder Legislativo tem sido alvo de críticas e agido de forma subalterna aos Poderes Executivo e Judiciário. Collor também não poupou críticas diretas ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Para ele, "alguma orquestração está por trás de tudo", disse, sem dar mais detalhes. 

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), apesar de não declarar voto, deu a entender que seguirá a orientação de seu partido de apoiar Renan. “Queria fazer um apelo, diante das diversas manifestações que ouvimos até agora, seria tão importante que pudéssemos nós, os 81 senadores, chegarmos a um nome de consenso que pudesse significar o atendimento dos anseios maiores do povo brasileiro com respeito a tudo que esperam de nós”.

O senador Wellington Dias (PT-PI) justificou o seu apoio a Renan Calheiros pelo fato de o partido dele, o PMDB, ter o maior número de representantes no Senado e, por isso, a proporcionalidade deveria ser respeitada. “Quero reafirmar a importância de garantir a vontade do povo e a proporcionalidade na Mesa Diretora.”

Em seu discurso, o senador Francisco Dornelles (PP-RJ) ressaltou que a importância da imparcialidade da Mesa Diretora do Senado. “Não poderá ser uma mesa da situação ou da oposição, de esquerda nem de direita, do norte ou do sul, deve ser uma mesa caracterizada pela imparcialidade.” Acrescentou ainda que entende que o presidente do Senado deva pertencer ao partido com a maior bancada na Casa, no caso, Renan Calheiros.

O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), prontamente anunciou que não falava em nome do Planalto, mas como parlamentar peemedebista. Em defesa a Renan Calheiros, Braga disse que o partido não pré-julgou Renan, que já foi absolvido, no passado, pelos seus pares no Senado. “Nós que acreditamos na democracia, estamos com a cabeça erguida para indicar o voto ao senador Renan Calheiros”, afirmou.

“O PMDB não pré-julga, o PMDB faz pelo país. O PMDB não se envergonha, o PMDB trabalha, mas o PMDB tem consciência de que nada fará se não for com alianças com o povo brasileiro e aliança com as diversas siglas partidárias”. 

Votação

Para eleger o novo presidente, deverão estar presentes pelo menos 41 senadores – ou seja, a maioria dos 81. A eleição ocorrerá em turno único, e só haverá nova votação no caso de se registrar um empate entre dois ou mais candidatos. Às 12h37, 78 senadores estavam presentes.

Após os senadores inscritos, os dois candidatos poderão usar a palavra por até 20 minutos para expor as suas propostas e pedir os votos dos colegas. Uma vez concluída a eleição, o novo presidente, que presidirá também o Congresso Nacional, será imediatamente chamado a ocupar a Mesa e poderá, mais uma vez, fazer uso da palavra.

Logo em seguida, o presidente eleito promoverá uma segunda reunião preparatória para a eleição dos demais membros da Mesa. Serão escolhidos dois vice-presidentes, quatro secretários e quatro suplentes. Concluída essa segunda parte da eleição, será convocada a primeira sessão deste ano do Congresso Nacional, marcada para a segunda-feira (4), a partir das 16h.