Ex-prefeito de Blumenau (SC) se queixa de "julgamento pela mídia" e lamenta ter usado "palavrões"
O ex-prefeito de Blumenau (139 km de Florianópolis) João Paulo Kleinubing (PSD), atual presidente do Badesc (Banco de Desenvolvimento de Santa Catarina), se queixou do que ele classificou de "julgamento pela mídia" e lamentou ter usado palavrões em conversas gravadas em escutas telefônicas. Kleinubing é investigado pelo MPE (Ministério Público Estadual) por envolvimento num megaesquema de corrupção com o objetivo de desviar dinheiro público, instalado na administração do município. O grupo já teria desviado pelo menos R$ 100 milhões dos cofres públicos.
João Paulo Kleinubing (PSD), presidente do Badesc e ex-prefeito de Blumenau (SC)
"De tudo o que está nas gravações, só tem uma coisa que me arrependo. Peço desculpa por ter usado palavrões. Acho que a sociedade não merece ouvi-los. De resto, quero dizer que não houve fraude em Blumenau, nem contrato assinado com data retroativa [da conversa de 5 de julho de 2012]. Portanto, só mesmo os palavrões podem ofender", disse em entrevista ao UOL, nesta quarta-feira (1º).
Na conversa, segundo o MPE, o ex-prefeito manda fraudar licitação de obra fantasma e usa a expressão "fodeu" diversas vezes.
Kleinubing disse que quer se defender das acusações do MPE. Ele afirmou que os dois minutos de conversa em que ele aparece foram tirados de 30 mil horas de gravações e "usados fora de contexto”.
“Me sinto indignado com os fatos distorcidos. Pior do que isso foram manchetes falando em desvio de R$ 100 milhões. Isso nunca aconteceu e vou demonstrar." Kleinubing disse ainda que a investigação do MPE, chamada Operação Tapete Negro, ainda não foi concluída.
"Observem que no período analisado pelo MPE, a URB contratou apenas R$ 58 milhões em obras. Logo, jamais poderia ter havido um desvio no montante citado de R$ 100 milhões."
Entenda o esquema
Durante a entrevista ao UOL, Kleinubing gesticulou muito com uma das mãos, contando nos dedos da outra cada um dos argumentos de sua defesa.
"O que me deixa indignado é ver tanta coisa publicada na imprensa sem que tenham checado comigo ou com a prefeitura. Nós temos como demonstrar a correção do que foi feito. Eu nunca fui intimado, nem notificado, nem chamado pelo MPE, se o fosse poderia ter ido lá explicar tudo."
Antes de publicar as reportagens sobre o caso, o UOL entrou em contato com o ex-prefeito. Em nota, ele afirmou que jamais ordenou a confecção de qualquer documento fraudado. Na terça-feira (30), mais uma vez por nota, ele confirmou o diálogo, mas voltou a negar fraude em licitações.
Kleinubing é filho do ex-governador Vilson Kleinubing (do extinto PFL, 91-94, morto em 98). Iniciou a carreira politica como deputado estadual aos 30 anos e foi eleito prefeito de Blumenau aos 32. Hoje está no PSD. Sempre aparece nas conversas de bastidores como um candidato em potencial à Câmara Federal nas próximas eleições.
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"Quero deixar claro que não houve superfaturamento. Todos os contratos da Prefeitura de Blumenau na minha gestão estavam abaixo dos preços de mercado. Repito: não houve assinatura de contrato com data retroativa. Nem fraude nas dispensas de licitação. Não faz sentido fraudar uma licitação para que a empresa da prefeitura vença por valores abaixo dos preços de mercado. Não precisaríamos fraudar porque a URB era contratada por dispensa de licitação por ser empresa da própria prefeitura."
"É a primeira vez na minha vida que sofro um julgamento pela mídia, sem oportunidade de defesa. O que torna a coisa mais grave é que o processo não foi concluído. Sou atacado na mídia sem ter como me defender."
Erro na investigação
Kleinubing diz acreditar que o maior erro do MPE na investigação começou em 2006. Segundo ele, ali houve um erro na avaliação do contrato pelo MPE , conforme declaração do promotor Gustavo Meireles, em 18 de dezembro (data da apreensão de documentos e computadores em Blumenau).
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“Na entrevista, o promotor afirmou que a prefeitura contratou a reforma da escola Machado de Assis com a URB por R$ 402 mil e subcontratou integralmente o serviço por R $ 148 mil. Porém, esqueceu-se de somar ao valor do serviço os R$ 188 mil de material e os impostos."
Kleinubing alega que todo o processo se baseia num equivoco. "Portanto, o suposto desvio nunca existiu. Esse tipo de equívoco está presente em outros contratos analisados pelo MPE."
Ele demonstra irritação com as reportagens sobre o tema. "Vou ter que passar meu tempo provando sou inocente de acusações sobre fatos que não existem."
Na terça-feira, a deputada Ana Paula Lima (líder do PT na Assembleia de Santa Catarina) pediu a demissão dele ao governador Raimundo Colombo (PSD). "Não quero responder à deputada", disse Kleinubing.
Ele disse que não vê nenhum impedimento para continuar a exercer a função de presidente do Badesc. Kleinubing disse que ainda não conversou sobre o assunto com o governador, mas que vai se encontrar com ele no final da quarta.
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