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Assessor de vice-presidente tucano recebe do PSDB e da Assembleia de SP

O jornalista Wagner Baddini Tronolone em foto publicada em seu Facebook - Facebook - 21.set.2016/Arquivo Pessoal
O jornalista Wagner Baddini Tronolone em foto publicada em seu Facebook Imagem: Facebook - 21.set.2016/Arquivo Pessoal

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

19/10/2016 06h00Atualizada em 19/10/2016 12h40

O PSDB repassou, em 2015, R$ 80 mil ao jornalista Wagner Baddini Tronolone, assessor de comunicação do vice-presidente do PSDB, Alberto Goldman. No mesmo período, Tronolone exercia o cargo de assistente parlamentar lotado no gabinete de outro tucano, o deputado estadual Antonio de Sousa Ramalho (SP), remunerado pela Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). 

Wagner Tronolone atuou como assessor parlamentar entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2016. Durante todo o ano de 2015, ele ocupou o cargo de assistente parlamentar de nível III, recebendo da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) uma remuneração que variou entre R$ 4,4 mil e R$ 4,8 mil por mês para trabalhar por 40 horas semanais. 

Nesse mesmo período, a empresa Tronolone & Tavares Comunicação Ltda, da qual Wagner Tronolone é sócio-administrador, recebeu dez pagamentos no valor de R$ 8.000 cada, totalizando R$ 80 mil para fazer a assessoria de comunicação de Goldman. Segundo Tronolone, o PSDB é o único cliente da empresa no momento. O dinheiro foi pago via fundo partidário.

O fundo partidário, cujo nome oficial é Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos, é um montante repassado todos os anos pelo poder público para os partidos formalmente registrados junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Para receber o dinheiro, que serve para atividades partidárias, as siglas devem estar com suas prestações de conta em dia. Em 2015, o fundo distribuiu R$ 867 milhões aos partidos.
Nesta semana, o UOL publicou uma série de reportagens mostrando como os três partidos que mais recebem dinheiro do fundo -- PT, PSDBPMDB  -- gastam esses recursos. Há desde viagens de dirigentes pagas com dinheiro público a financiamento de churrascos e contratação de assessores.
O PSDB foi o segundo partido que mais recebeu recursos do fundo partidário em 2015 -- foram R$ 96 milhões. O PSDB só ficou atrás do PT, com R$ 116 milhões. Em terceiro lugar, ficou o PMDB, com R$ 92 milhões.
 
A lei estadual n° 10.261/68, que regulamenta a atuação dos servidores públicos do Estado de São Paulo, não proíbe que servidores públicos, mesmo em cargos de comissão, sejam sócios, cotistas ou exerçam cargo de direção em empresas privadas desde que elas não mantenham relações comerciais com órgãos ou empresas estaduais.

Para dar conta de suas duplas atribuições como assessor parlamentar e assessor de imprensa de Goldman, Tronolone disse que aproveitava o fato de não ser obrigado a “ficar preso” na Assembleia Legislativa e que costumava se encontrar com o vice-presidente tucano fora do horário do expediente.

“Não era uma coisa que eu ficava preso dentro do gabinete. Como assessor (parlamentar), você acompanha, vai à rua. Num momento que não tinha agenda, você consegue dar uma saída e vai ajeitando”, disse Tronolone.

Goldman SP PSDB - Bruno Poletti - 14.jun.2016/Folhapress - Bruno Poletti - 14.jun.2016/Folhapress
Alberto Goldman diz não ver ilegalidade na dupla jornada
Imagem: Bruno Poletti - 14.jun.2016/Folhapress

Militância, jornada e remuneração dupla

Além fazer dupla jornada para assessorar integrantes do PSDB, Wagner Tronolone também encontrou tempo, em 2015, para ser um membro relativamente importante dentro da militância tucana.

Ele foi um dos fundadores do movimento Diversidade Tucana, que atua na defesa dos direitos da comunidade LGBT, cujo braço paulista ele presidiu até meados de 2015. Atualmente, ele também exerce o cargo de secretário de comunicação do movimento, cargo sem remuneração.

Tronolone disse que o fato de receber tanto da Alesp quanto do PSDB para assessorar integrantes do partido ao mesmo tempo não o constrange. “Não me sinto constrangido. Sou graduado e pós-graduado e eu presto, efetivamente, os serviços para os quais fui contratado. Se fosse uma situação de empresa ou funcionário fantasma, tudo bem, mas não é o caso”, afirmou.

Questionado pela reportagem do UOL, o vice-presidente do PSDB, Alberto Goldman, disse, por meio de nota, não ver nenhum motivo de “constrangimento” na contratação de Tronolone.

“O jornalista Wagner Tronolone trabalha comigo desde 2004, quando eu era deputado federal, e me acompanhou durante minha passagem pelo governo de São Paulo. E, através da empresa Tronolone & Tavares Comunicação, tem prestado serviços de assessoria útil ao desempenho da minha função de vice-presidente nacional do PSDB. Não encontro qualquer motivo de constrangimento e/ou ilegalidade na relação mantida”, disse a nota enviada por Goldman.

A análise das contas dos partidos é feita pela Asepa (Assessoria de Exame de Contas Eleitorais e Partidárias), vinculada ao TSE, e isso ainda não tem prazo para ocorrer.