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Fora do governo e citado na Lava Jato, Serra mantém foro por ser senador

Serra discursa durante sessão do impeachment de Dilma Rousseff no Senado - Wilton Junior - 12.mai.2016/Estadão Conteúdo
Serra discursa durante sessão do impeachment de Dilma Rousseff no Senado Imagem: Wilton Junior - 12.mai.2016/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

22/02/2017 21h54Atualizada em 22/02/2017 22h49

Mesmo após pedir demissão na noite de quarta-feira (22) do cargo de ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB-SP) mantém a prerrogativa de ser julgado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) caso venha a responder a inquéritos na operação Lava Jato, em que é citado por delatores. Isso porque, ao deixar o Executivo, Serra reassume sua cadeira no Senado.

Em carta divulgada pelo governo, Serra afirma que pede demissão "em razão de problemas de saúde que são do conhecimento de Vossa Excelência". Não há detalhes sobre a doença do ex-ministro. No fim de dezembro, Serra foi submetido a uma cirurgia de descompressão e artrodese da coluna cervical.

Ainda no texto entregue a Temer, Serra afirma que seguirá no cargo de senador, "trabalhando pela aprovação de projetos que visem à recuperação da economia, ao desenvolvimento social e à consolidação democrática do Brasil."

Caso venha a se licenciar do cargo no Congresso por motivos de saúde, ainda assim Serra terá direito a manter o foro. Conforme o regimento do Senado, nestas condições, o político não perde o mandato, desde que não ultrapasse 120 dias de ausência.

Em agosto do ano passado, a "Folha" noticiou que executivos da Odebrecht acusaram Serra de participar de um esquema de caixa dois em sua campanha presidencial no ano de 2010. De acordo com os relatos feitos aos investigadores, a campanha recebeu R$ 23 milhões em doações ilícitas.

Segundo os executivos, parte do dinheiro foi entregue no Brasil e parte foi paga por meio de depósitos bancários realizados em contas na Suíça. Oficialmente, a Odebrecht doou apenas R$ 2,4 milhões para a campanha de Serra.

Nos depoimentos, os executivos da Odebrecht também afirmaram que a negociação para o repasse à campanha de Serra se deu com a direção nacional do PSDB à época, que, depois, teria distribuído parte do dinheiro entre outras candidaturas.

Sobre a acusação da Odebrecht, Serra disse, na época em que o fato foi divulgado, que a campanha dele durante a disputa a Presidência da República em 2010 foi conduzida em acordo com a legislação eleitoral em vigor. O tucano afirmou também que as finanças de sua disputa pelo Palácio do Planalto eram de responsabilidade do PSDB, e que ninguém foi autorizado a falar em seu nome.

'Na bandeja para ser comido'

Ainda no contexto da Lava Jato, Serra foi mencionado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) em conversa com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, hoje delator, que veio a público em maio.

Em dado momento, Machado questiona se "já caiu a ficha" do PSDB de que as investigações chegariam a eles. Jucá confirma e cita diferentes senadores do partido.

"Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], Serra, Aécio [Neves, senador]", diz Jucá. "Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?", questiona Machado. "Também. Todo mundo na bandeja para ser comido", afirmou Jucá.

Na época em que os diálogos foram revelados, Serra não comentou o assunto.