Empresário das 'quentinhas' é o 6º preso da "farra dos guardanapos" com Cabral
Preso preventivamente nesta quinta-feira (1º) no âmbito da operação Lava Jato no Rio de Janeiro, Marco Antonio de Luca esteve presente no episódio que ficou conhecido como a "farra dos guardanapos" em Paris. Fotos tiradas em 2009, e que vieram a público três anos depois, mostram a proximidade de empresários com a cúpula do governo de Sérgio Cabral, preso desde novembro acusado de corrupção. Ao todo, seis pessoas identificadas na confraternização parisiense já foram presas.
Além de Luca e Cabral, também foram detidos o empresário Fernando Cavendish, o ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes, o ex-secretário de Governo Wilson Carlos e a esposa de Cabral, Adriana Ancelmo, presente na comitiva a Paris.
De Luca é suspeito de pagar propina em troca de favorecimento na assinatura de contratos com o governo do Rio por meio das empresas Comercial Milano e Masan Serviços Especializados. As companhias ligadas a De Luca --elas negam vínculo com o empresário-- têm R$ 7 bilhões em contratos para serviços como fornecimento de merendas a escolas e quentinhas para presídios.
O Ministério Público Federal estima que o empresário pagava mesada ao grupo de Cabral no valor de R$ 200 mil. Segundo o MPF, De Luca teria pago ao menos R$ 12,5 milhões em troca de vantagens ilícitas.
“Estamos seguindo o rastro do dinheiro. Das provas recolhidas até agora, tudo demonstra no contexto a prática de uma organização criminosa na colonização da rés pública. Um verdadeiro benefício aos amigos da corte”, disse a procuradora Fabiana Schneider em coletiva de imprensa hoje.
A pedido do MPF, a Justiça autorizou o sequestro de bens, como obras de arte, veículos e joias, no valor de até R$ 12.595.700 de De Luca e suas empresas. O empresário será indiciado por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
A defesa do empresário não se manifestou até a publicação desta reportagem. Por meio de nota, a empresa Masan informou que "trabalha com o governo do Estado desde 2005", isto é, antes do início da administração Cabral. "Todas as licitações ganhas pela empresa foram pela modalidade de menor preço", alegou. A companhia ressalta que "nunca foi condenada por qualquer tipo de irregularidade em sua história."
A nota diz ainda que Marco Antonio de Luca não faria parte da Masan desde agosto de 2015 e que ele nunca teria feito parte do quadro societário da Milano.
"A empresa sofre hoje, como todos os prestadores de serviços, com a inadimplência do governo do Estado do Rio de Janeiro, que chega à casa de R$ 70 milhões. O passivo, iniciado em 2010, vem sendo cobrado na instância administrativa."
"A empresa sempre se colocou à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos necessários sobre suas operações."
Sérgio Côrtes
Ex-secretário de saúde do governo Cabral, Sérgio Côrtes foi preso no dia 11 de abril. Criador das UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e cotado para ser ministro, o médico foi diretor do Into (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia).
Juntamente com integrantes do governo Cabral e empresários do setor de equipamentos hospitalares, Côrtes é acusado de ter desviado ao menos R$ 300 milhões dos cofres públicos por meio de fraude em licitações. Segundo a Ooperação Fatura Exposta da Polícia Federal, os desvios começaram no Into e se estenderam para a Secretaria Estadual de Saúde.
Ao efetuar a compra de equipamentos hospitalares, o secretário repassava a fornecedores o preço de custo somado ao valor de tributos de importação. No entanto, por se tratar de órgãos públicos, tanto a secretaria de Saúde como o Into são isentos desses impostos. Os valores desviados envolviam a compra de próteses, óteses e equipamentos hospitalares como aparelhos de raio-x e tomógrafos.
Côrtes foi denunciado por corrupção ativa e passiva, organização criminosa e obstrução de Justiça devido a tentativa de atrapalhar as investigações.
À época da prisão, a defesa de Côrtes disse, por meio de nota, que o ex-secretário "tem todo interesse em elucidar os fatos atribuídos a ele e que, no momento oportuno, provará sua inocência".
Fernando Cavendish
Dono da empresa Delta, Fernando Cavendish foi preso em julho do ano passado durante a operação Saqueador que investiga desvio de recursos pela empresa de engenharia.
Segundo as investigações, entre 2007 e 2012, a Delta teve 96,3% do seu faturamento oriundo de verbas públicas em um montante de quase R$ 11 bilhões. Desse total, R$ 370 milhões teriam sido lavados por meio de 18 “empresas” localizadas em endereços onde funcionam consultório de dentista, loja de gesso e onde existe um matagal na beira de estrada. Ou seja, contratos fictícios foram firmados com empresas de fachada. O dinheiro era repassado como pagamento de serviços e depois, sacado e distribuído em forma de propina para agentes públicos e políticos.
Em agosto, Cavendish foi beneficiado pela prisão domiciliar. O empresário teve o passaporte recolhido e ainda foi afastado da empresa por determinação da Justiça.
A defesa de Cavendish nega que ele tenha cometido os crimes que resultaram na Operação Saqueadores. Ainda de acordo com seus advogados, o trabalho dele à frente da Delta Construções foi "responsável por uma economia milionária aos cofres públicos".
Sérgio Cabral
Preso em novembro do ano passado durante a operação Calicute, o ex-governador do Rio é acusado de comandar esquema de corrupção em contratos com diversos setores do governo fluminense a partir dos quais teria recebido milhões em propina.
Cabral é réu em nove processos no âmbito da Lava Jato. Segundo as investigações, o ex-chefe do Executivo teria ocultado mais de R$ 300 milhões no exterior. O ex-governador ficou preso em Bangu, na zona oeste da cidade, de novembro até o dia 28 de maio, quando foi transferido para um presídio em Benfica, zona norte, onde ficava o antigo BEP (Batalhão Especial Prisional).
No caso do Maracanã, os procuradores dizem que Cabral e representantes da OAS, Delta, Odebrecht e Andrade Guitierrez se uniram para fraudar a licitação e superfaturar as obras. Com um número grande de aditivos no contrato, o custo da reforma aumentou muito. Passou dos R$ 705 milhões --já superfaturados-- para quase R$ 1,2 bilhão. O Ministério Público afirma que ao menos R$ 35 milhões foram propina exigida pelo ex-governador.
A investigação partiu de delações de ex-executivos das empreiteiras e do que foi descoberto em duas operações da Lava Jato no Rio, a Saqueador, que prendeu o dono da construtora Delta, Fernando Cavendish; e a Calicute, que prendeu Sérgio Cabral.
A defesa de Cabral afirma que só se manifestará em juízo. Em audiência da 7ª Vara Criminal da Justiça Federal do Rio, em maio, Cabral foi questionado por sua defesa sobre o recebimento de vantagens indevidas de construtoras e da chamada "taxa de oxigênio". Cabral limitou-se a responder que não tinha conhecimento dessa taxa tampouco foi beneficiado por ela.
O ex-governador, no entanto, admitiu que utilizou "sobras de campanha eleitoral" para comprar joias para Adriana. As peças, segundo ele, eram pagas em dinheiro nas lojas H. Stern e Antonio Bernardo em datas festivas. A mesma linha de defesa foi usada em depoimento ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba, onde Cabral responde pelo recebimento de R$ 2,7 milhões em propina nas obras do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro). Na ocasião, ele informou que comprou joias e outros artigos de luxo para a esposa com dinheiro oriundo de caixa dois e recursos próprios.
Wilson Carlos
Amigo íntimo de Cabral desde o tempo de estudante, Wilson Carlos foi seu secretário de Governo. Ele é réu, ao lado do ex-governador, em ação penal sobre propina de R$ 2,7 milhões da Andrade Gutierrez a Cabral sobre obras do Comperj, executadas pela Andrade Gutierrez ao preço de R$ 1,1 bilhão.
Cabral e Wilson Carlos teriam participado diretamente dos acertos dos valores e de como eles seriam pagos. Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, Wilson Carlos era um dos controladores da conta-corrente de propina de Cabral.
A defesa de Wilson Carlos informa que ele só deve se manifestar sobre acusações de delatores em juízo. No dia 27 de abril, ele prestou depoimento a Moro na Justiça Federal do Paraná.
Adriana Ancelmo
Ancelmo é acusada de lavagem de dinheiro desviado pelo marido. Atualmente, Ancelmo cumpre prisão domiciliar em seu apartamento no Leblon, zona sul do Rio, um dos bairros com o metro quadrado mais caro do país. A ex-primeira dama foi denunciada por lavagem de dinheiro na organização comandada por Cabral.
A compra de joias é apontada como uma das formas de lavagem de dinheiro. Segundo as investigações, ela tinha participação ativa no suposto esquema de propina. O escritório da advogada também seria usado para lavar o dinheiro recebido de empreiteiras.
A advogada está presa desde o dia 6 de dezembro, quando o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal, decretou sua prisão preventiva. Inicialmente, ela ficou presa também no complexo de Gericinó. Em 17 de março, Bretas determinou que ela fosse transferida para prisão domiciliar, em seu apartamento, no Leblon, zona sul do Rio, aceitando os argumentos da defesa de que ex-primeira-dama precisava retornar à própria casa para cuidar dos filhos de 11 e 14 anos. A decisão do juiz do Rio chegou a ser revogada, mas foi finalmente autorizada no STJ. A ex-primeira dama voltou para casa, sob gritos de "safada" e panelaço.
Ancelmo prestou depoimento ao juiz Sergio Moro em abril passado. Na ocasião, Cabral isentou a esposa de envolvimento nas supostas irregularidades e Ancelmo negou os crimes.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.