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Operador de Cunha, Funaro negocia acordo de delação

28.abr.2010 - Lúcio Bolonha Funaro depõe durante CPI das ONGs no Senado Federal - Lula Marques/Folhapress
28.abr.2010 - Lúcio Bolonha Funaro depõe durante CPI das ONGs no Senado Federal Imagem: Lula Marques/Folhapress

Flávio Costa e Paula Bianchi

Do UOL, em Brasília e no Rio

07/06/2017 18h35

O operador financeiro Lúcio Funaro, investigado por supostas ligações com o presidente Michel Temer e com o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), negocia acordo de delação premiada com a PGR (Procuradoria-Geral da República). A informação foi confirmada ao UOL pelo advogado Cezar Bitencourt, que deixou a defesa de Funaro devido a “conflitos de interesses com outros clientes” --o advogado também defende o ex-assessor de Temer, Rodrigo Rocha Loures.

Roucha Loures, que seria ouvido nesta quarta-feira (7) pela Polícia Federal, foi preso no último sábado (3) acusado de aceitar propina do empresário Joesley Batista, dono da holding J&F. Ele foi gravado recebendo uma mala com R$ 500 mil. Numa gravação feita por Batista, Temer indicou Loures para resolver problemas do empresário no Cade. Foi depois disso que o ex-deputado recebeu a propina.

Funaro está preso desde julho de 2016 após a deflagração da Operação Sépsis. A delação de Funaro é avaliada como importante por investigadores da força-tarefa da Operação Lava Jato. Ele é apontado como um dos principais operadores do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Em 31 de maio, o UOL revelou que Funaro fez chegar aos procuradores da República que estava disposto a se tornar um delator. "Ele não aguenta mais isso. Quer acabar com isso logo", disse um interlocutor de Funaro.
 
Uma pessoa próxima a Funaro disse que os quase dez meses na cadeia somados à prisão da sua irmã, Roberta Funaro, fizeram com que ele mudasse de ideia sobre colaborar com a Justiça. Roberta havia sido presa na Operação Patmos, decorrente da delação dos executivos da JBS. Posteriormente, ela ganhou o direito de voltar pra casa, mas usando uma tornozeleira eletrônica, por decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin.
 
A revista Época publicou reportagem no último final de semana na qual afirma que Funaro já enviou uma proposta de roteiro de sua delação à PGR. Em um dos anexos, de acordo com a publicação, Funaro confessou ter captado recursos ilegais para a campanha de Temer a vice-presidente da República em 2014.

O presidente Michel Temer negou, por diversas vezes, ter cometido ou autorizado qualquer ato irregular em suas campanhas eleitorais.

Investigado em três operações da PF

Funaro é suspeito de ter cobrado e recebido propina referente a um esquema de corrupção envolvendo recursos do FI-FGTS, um fundo de investimento com recursos do FGTS operado pela Caixa Econômica Federal.

Segundo as investigações, Funaro e Cunha atuavam juntos cobrando e recebendo dinheiro de propina de empresas em troca de facilitação na liberação de recursos do FI-FGTS. Em sua delação premiada, o ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal Fábio Cleto afirmou que 12 empresas pagaram propina a Cunha, em troca da liberação de verbas do FI-FGTS.

Esse mesmo esquema, segundo os procuradores, teria funcionado em relação a outros fundos de investimento ligados a bancos públicos. Além de ser investigado na Sépsis, Funaro é investigado nas operações Greenfield e Cui Bonno?.

A ligação de Funaro com integrantes da cúpula do PMDB também é vista como importante em um eventual acordo de delação premiada. Internamente, procuradores avaliam que uma delação do operador só seria interessante se ele tiver condições de detalhar os esquemas nos quais estaria envolvido e se for capaz de revelar informações ainda não descobertas pelos investigadores.

Ele foi citado pelo ex-assessor e amigo pessoal do presidente Michel Temer (PMDB) José Yunes como sendo a pessoa que lhe entregou um pacote durante as eleições de 2014 a pedido do agora ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Segundo o delator da Odebrecht Cláudio Melo Filho, esse pacote conteria R$ 1 milhão referente a recursos acertados entre o ex-presidente da empresa Marcelo Odebrecht e o então vice-presidente da República Michel Temer durante um jantar no Palácio do Jaburu.

Yunes disse não saber que o pacote recebido por Funaro se tratava de dinheiro. Padilha, por sua vez, nega ter solicitado qualquer envio de recursos por meio de Yunes.

Até o momento, Funaro vem negando sua participação nesses esquemas.