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Último cacique do PMDB no Rio se junta a Cabral e outros presos da Lava Jato em cadeia

1.nov.2010 - Da dir. para a esq., o então governador do Rio, Sergio Cabral, o então prefeito da capital, Eduardo Paes, e o deputado Jorge Picciani, todos do PMDB, participam de inauguração de estação do metrô - Rafael Andrade/Folhapress
1.nov.2010 - Da dir. para a esq., o então governador do Rio, Sergio Cabral, o então prefeito da capital, Eduardo Paes, e o deputado Jorge Picciani, todos do PMDB, participam de inauguração de estação do metrô Imagem: Rafael Andrade/Folhapress

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

16/11/2017 20h50

Na véspera do aniversário de um ano da prisão do ex-governador Sérgio Cabral, o PMDB do Rio de Janeiro viu nesta quinta-feira (16) a prisão de seu último cacique no Estado, Jorge Picciani, detido por decisão unânime do TF2 (Tribunal Federal da 2 Região). Agora, ele irá se juntar na cadeia ao colega de partido e a outros presos da operação Lava Jato.

Presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), Picciani se entregou na PF (Polícia Federal) por volta das 16h30; de lá foi para o IML (Instituto Médico Legal) passar pelo exame de corpo de delito e seguiu então, ao lado dos também deputados peemedebistas Paulo Melo e Edson Albertassi, para a Cadeia Pública Frederico Marques, em Benfica, onde estão Cabral e outros investigados pelo braço da Lava Jato no Rio.

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Assim como Cabral, Picciani é suspeito de corrupção, associação criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Em entrevista ao UOL um mês após a prisão de Cabral, com quem agora dividirá a cadeia, Picciani definiu o ex-governador como “o melhor quadro que o PMDB tem".

Picciani, Melo e Albertassi são suspeitos de favorecer interesses de empresários no Estado, entre os quais representantes do setor de transporte público e empreiteiras, em troca de propina.

Com a chegada dos três, Benfica passa a reunir parte da cúpula do PMDB no Estado - Albertassi é líder do governo de Luiz Fernando Pezão (PMDB) na Assembleia e Melo presidiu a Alerj no curto período em que Picciani esteve longe do cargo. Além do governador, lá está ainda o ex-secretário de saúde fluminense, Sérgio Côrtes, todos presos preventivamente.

Apesar de a prisão dos três deputados ter sido determinada imediatamente após o fim da sessão do TF2, a decisão ainda será submetida à Alerj, onde Picciani possui uma maioria de aliados. Em fevereiro, o deputado foi eleito presidente da casa pela sexta vez, e ele já completa quase 12 anos no cargo.

Restam como lideranças do partido no Rio o ex-vice de Cabral e atual governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB), fragilizado pela crise no Estado, e o ex-prefeito Eduardo Paes, ambos já citados por delatores em processos da Lava Jato.

Alerj: sessão extraordinária deve ocorrer nesta sexta

Os desembargadores do TF2 determinaram a prisão em flagrante dos deputados. Segundo a decisão, os delitos cometidos pelos três parlamentares, como lavagem de dinheiro, são crimes continuados, o que justifica a medida.

“Com a prisão, [os três deputados] estarão automaticamente afastados [de seus mandatos]. O que a Alerj fará com essa decisão é um problema que nós não criamos”, afirmou Abel Gomes, desembargador relator do caso.

A Alerj convocou sessão extraordinária nesta sexta (17) para analisar o caso. A decisão no plenário tem que ser tomada pela maioria absoluta dos deputados, ou seja, 36 votos (metade mais uma das 70 cadeiras da Assembleia). Nos bastidores, peemedebistas dizem já contar com 39 votos.

Lideranças do PMDB já trabalham pela reversão da decisão do TRF-2 na Alerj. Na manhã de hoje, sete deputados do partido, incluindo Rafael Picciani, e mais três assessores, se reuniram para contabilizar os votos e definir as estratégias para a votação.

"A articulação não é para salvar os parlamentares, mas sim a Assembleia Legislativa. Será usado o antecedente da prisão do deputado Álvaro Lins [em 2008, que também foi preso e libertado pela Alerj]", disse um dos presentes na reunião à reportagem.

Outro lado

O advogado de Picciani disse que "o Tribunal errou". Para Nélio Machado, a acusação do MPF é "genérica" e não se sustenta. Ele critica o fato de não ter sido apresentada uma denúncia e define a prisão como “ilegal, abusiva e desnecessária”. Machado informou que só irá apresentar recurso ao STJ (Supremo Tribunal de Justiça) após a decisão da Alerj.

Por meio de nota, Paulo Melo se defendeu. "Mesmo acreditando ser injusta, o dever de qualquer cidadão é cumprir a decisão judicial. Lamento profundamente, mas tenho a convicção de que ao analisar os documentos com tranquilidade no decorrer do processo, os desembargadores irão notar a inexistência de qualquer ilegalidade praticada e verão claramente a minha inocência. Não há, na medida cautelar, qualquer prova que aponte para o meu desvio de conduta. Volto a repetir: uma simples análise no meu trabalho como parlamentar, bastará para provar que sempre votei contra a pauta dos empresários dos transportes no Rio e defendi os interesses dos passageiros."

Edson Albertassi também se manifestou em comunicado à imprensa. "Certo de que vai provar sua inocência, o deputado Edson Albertassi aguarda com tranquilidade a decisão do plenário da Assembleia Legislativa. Albertassi sempre exerceu seu mandato parlamentar com seriedade e espirito público e seus colegas no Parlamento sabem disso. Albertassi confia na Justiça e estará sempre à disposição para esclarecer os fatos."