Criticado na Sapucaí, Temer discute venezuelanos em RR e diz não ter interesse "politiqueiro"
O presidente da República, Michel Temer (MDB), esteve nesta segunda-feira (12) em Roraima para discutir o impacto da imigração venezuelana no Estado. Sem citar as críticas que sofreu ontem durante o desfile da escola de samba do Rio Paraíso do Tuiuti, o presidente aproveitou seu pronunciamento para, além de anunciar medidas locais, negar que faça “palanque politiqueiro” e para defender a reforma trabalhista e outros pontos de seu legado.
“Aliás, tenho demonstrado, ao longo desse ano e oito meses que não tenho nenhuma preocupação de natureza politiqueira ou eleitoral. Se tivesse não teria tomado as medidas radicais que tomei ao longo do tempo, como o teto dos gastos públicos”, disse. Recentemente, ele vem dando indícios de que poderá tentar concorrer à eleição presidencial no pleito de outubro.
O desfile da Tuiuti trouxe o enredo “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão” e tentou mostrar que, apesar da Lei Áurea de 1888, até hoje há outras maneiras de escravizar as pessoas. Entre as citações estiveram uma ala sobre “manifestoches”, fazendo menção aos protestos de 2016 contra a então presidente da República Dilma Rousseff (PT), e uma fantasia de “Vampiro Neo Liberalista”, referência a Temer. Na passagem da imagem pela avenida, grande parte dos presentes gritou “Fora Temer”.
As reformas trabalhista, já aprovada no ano passado, e da Previdência, grande meta do governo federal neste ano, também foram criticadas durante o desfile. No pronunciamento de hoje, Temer defendeu seu legado e falou que se quisesse popularidade, não teria aprovado a reforma trabalhista.
Ao elogiar os esforços dos políticos de partidos variados para tentar amenizar a situação em Roraima, o presidente então voltou a falar que a atual cultura de oposição país é política e de pensamento “quando não estou no governo, tenho que ser contra o governo”.
“A oposição não existe para derrubar o governo”, afirmou.
Força-tarefa
Além de defender seu legado, Temer anunciou uma força-tarefa em Roraima na tentativa de minimizar o impacto da imigração de venezuelanos no Estado. Na semana passada, duas casas ocupadas por venezuelanos foram incendiadas e cinco pessoas ficaram feridas, entre elas uma criança de três anos. Um guianense suspeito dos ataques foi preso.
O presidente viajou nesta segunda para Boa Vista, capital do Estado, com o objetivo de discutir ações que possam ser apoiadas pelo governo federal. A prefeitura estima que pelo menos 40 mil venezuelanos estejam na cidade na tentativa de fugir da crise político-econômica pela qual passa o país vizinho.
Temer esteve acompanhado dos ministros Raul Jungmann (Defesa), Torquato Jardim (Justiça), Sergio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência). Na cidade, junto à comitiva, se reuniu com a governadora do Estado, Suely Campos (PP), a prefeita de Boa Vista, Teresa Surita (MDB), e autoridades locais no Palácio Senador Hélio Campos.
“Tudo isso demanda recursos e coordenação cooperativa entre a União, Estado e municípios. O que nós já ajustamos pelo trabalho que vem sendo feito, nós vamos estabelecer um comitê de acompanhamento. [...] Significa uma ação federal em conjunto com o Estado de Roraima. Para tanto, quero editar talvez na quarta, o mais tardar quinta-feira, uma medida provisória que tratará deste assunto”, declarou.
“A nossa vinda para cá deveu-se, evidentemente, ao agravamento da situação. Nós estamos percebendo o que está acontecendo. Uma onda crescente muito desfavorável para o Estado de Roraima, mas que, na verdade, acho que ultrapassa ou pode ultrapassar as fronteiras de Roraima. Portanto, é uma questão que tem significação nacional. Daí também a nossa presença aqui”, afirmou Temer.
O presidente ressaltou diversas vezes ao longo do discurso que não faltarão recursos, mas não falou em valores em nenhum momento.
Temer retornará ainda nesta segunda à Restinga da Marambaia, no litoral do Rio de Janeiro, onde passa o recesso de Carnaval com a família, informou a Presidência.
Em discurso, Suely Campos afirmou que a instabilidade político-econômica da Venezuela “transformou aquele país em uma grande crise também humanitária” que extrapola fronteiras e impacta Roraima de forma “avassaladora”.
Segundo a governadora, 10% da população de cerca de 330 mil habitantes de Boa Vista já é composta por imigrantes e a maior preocupação não é com pessoas qualificadas, pois estas conseguirão vaga no mercado de trabalho, disse, mas com “milhares e milhares de famílias morando nas ruas, praças, em risco social”.
Suely entregou um documento com 11 medidas que pretendem minimizar o impacto causado pelo alto número de imigrantes venezuelanos que chegaram a Roraima. Entre as propostas está o aumento de efetivo da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), além da atuação do Exército brasileiro no policiamento ostensivo em Pacaraima, cidade que faz fronteira com a Venezuela.
Além disso, foram pedidas ações mais rigorosas de controle de entrada de pessoas pela fronteira e a doação de veículos e equipamentos para aprimorar o trabalho das forças de segurança de Roraima.
Medidas
Jungmann, Jardim e Etchegoyen informaram que haverá aumento de 100 para 200 homens nos pelotões de fronteira em Roraima, com duplicação dos pontos de controle na fronteira, no interior do Estado e entre Pacaraima e Boa Vista. Haverá, também, desdobramento de um hospital de campanha em Pacaraima, para atender o fluxo inicial dos venezuelanos que estão entrando no País.
Novos centros de triagem serão instalados para ajudar na recepção dos venezuelanos, assim como estão sendo deslocadas motocicletas com equipes volantes para reforçar além dos postos de fronteira. No âmbito do Ministério da Justiça, 32 homens da Força Nacional que estão em Manaus serão deslocados para Roraima, assim como oito caminhonetes serão levadas para ajudar no patrulhamento das cidades.
Haverá também repasse de recursos para auxílio ao Estado e aos municípios. O ministro da Justiça chegou a falar dos primeiros R$ 700 mil para a instalação de centros de referência e anunciou nova reunião conjunta em 14 de março, para tratar especificamente dos problemas com a população indígena na região, atribuindo os entraves existentes a questões meramente ideológicas. Reiterou ainda que será iniciado um censo entre os venezuelanos.
* Com Estadão Conteúdo
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