Em 3 meses à frente da PF, Segovia acumulou polêmicas e críticas
Demitido da direção-geral da PF (Polícia Federal) nesta terça-feira (27), Fernando Segovia acumulou polêmicas e episódios controversos desde que assumiu o comando da organização, em novembro de 2017.
Ex-superintendente da PF no Maranhão, Segovia foi escolhido pelo presidente Michel Temer (MDB) para assumir a PF após a saída de Leandro Daiello, que permaneceu no cargo por seis anos e dez meses – o mais longevo diretor da corporação – sem grandes percalços midiáticos.
Segovia acumulou, por exemplo, encontros com Temer --alguns fora de agenda oficial e próximos a momentos importantes de investigações--, e uma entrevista polêmica sobre o andamento de um processo contra o presidente.
Confira a seguir alguns desses episódios:
Sugestão de arquivamento de inquérito
Em entrevista à agência de notícias Reuters, Segovia disse não haver indício de crime no inquérito que apura se Michel Temer favoreceu empresas no porto de Santos por meio de um decreto em troca de propinas. Ele também indicou que a investigação poderia ser arquivada em pouco tempo.
Delegados da Lava Jato reagiram às declarações e afirmaram que as falas não representam o posicionamento deles e que nem ninguém da equipe responsável pelo inquérito foi consultado antes sobre o caso. Eles também criticaram o que foi visto como antecipação ou presunção de resultado de uma investigação.
Por causa das declarações, Segovia foi intimado pelo ministro do STF Luís Roberto Barroso, relator do caso na Corte, a dar explicações. Depois desse encontro, Segovia se comprometeu a não fazer mais qualquer manifestação pública sobre as investigações contra o presidente Michel Temer.
Troca de delegado em Santos
Em dezembro de 2017, a Polícia Federal, já sob o comando de Segovia, retirou o delegado-chefe da superintendência de Santos (SP), Júlio César Baida Filho, da localidade, e o transferiu para o Rio de Janeiro, para comandar a implementação da operação União Rio em combate ao crime organizado.
Entre outras ações, cabe à superintendência da PF em Santos promover a investigação do inquérito do porto de Santos e da suposta corrupção praticada por Michel Temer e aliados.
Segundo o jornal "Folha de S.Paulo", o delegado José Roberto Sagrado Da Hora chegou a ser escolhido para a assumir a superintendência, mas a nomeação não aconteceu após protestos de servidores dos órgãos envolvidos nas investigações. Para eles, segundo o jornal, Da Hora agradaria o grupo político de Temer.
Encontros com Temer
Embora não seja estranho que o diretor da PF se encontre com o presidente da República, foram motivos de críticas algumas dessas reuniões entre Segovia e Temer, além da constante ausência, nesses encontros, do ministro da Justiça, Torquato Jardim, ao qual a PF é subordinada.
Em novembro do ano passado, dias antes de sua posse, o diretor-geral visitou Temer no Palácio do Planalto. A reunião não constava da agenda oficial do presidente e só foi incluída após questionamentos de jornalistas. Segundo a Presidência, Segovia foi ao Planalto para entregar o convite para a cerimônia de transferência de cargo.
Já em janeiro deste ano, Segovia se reuniu com Temer por, pelo menos, duas vezes. Uma ocorreu na mesma semana em que o presidente teve de responder a 50 perguntas formuladas pela Polícia Federal no âmbito do inquérito do Porto de Santos.
Procurada pelo UOL à época, a Presidência informou que os temas tratados foram referentes à segurança pública e à segurança nas fronteiras. Essa reunião não estava prevista originalmente na agenda de Temer e foi informada somente duas horas após seu início.
Apoio de Sarney e Padilha, contra vontade de Torquato
Com a saída de Daiello, a indicação do ministro da Justiça para o cargo era o delegado Rogério Galloro –que agora, com a demissão de Segovia, assume a direção da PF.
Na troca de comando em novembro do ano passado, Segovia, ex-superintendente da PF no Maranhão, ganhou força para assumir a Polícia Federal com o apoio do ex-presidente José Sarney (MDB), apesar de ele negar oficialmente qualquer indicação, do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e do ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Augusto Nardes. A palavra final coube ao presidente Michel Temer.
Mala não seria suficiente para incriminação
Momentos depois da posse, em entrevista coletiva à imprensa, Segovia causou mal-estar na PF ao criticar a investigação da PGR (Procuradoria-Geral da República) que sustentou as duas primeiras denúncias contra Temer. Segovia disse que uma única mala de dinheiro – em referência à corrida filmada pela própria PF do ex-assessor especial do presidente, Rodrigo Rocha Loures, com R$ 500 mil – não era suficiente para dar toda a "materialidade criminosa" necessária para verificar crimes e políticos envolvidos.
A declaração motivou resposta de Rodrigo Janot, que comandava a PGR à época: "Só pode ter sido uma brincadeira", disse o então PGR. "Você pegar uma mala com R$ 500 mil dentro, resultado da prova de uma ação controlada autorizada pelo Supremo Tribunal Federal e dizer que uma mala só não é prova de crime... R$ 500 mil, quantos brasileiros ganham R$ 500 mil por ano?", questionou Janot.
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