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Futuro ministro foi chamado de omisso após denúncia de fraude em ministério

Do UOL, em São Paulo

28/11/2018 18h38Atualizada em 28/11/2018 19h29

Atual número dois do Ministério da Integração Nacional e anunciado nesta quarta-feira (28) pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) como futuro ministro do Desenvolvimento Regional, o servidor de carreira Gustavo Henrique Rigodanzo Canuto foi classificado em agosto por seu antecessor no cargo, o economista Mário Ramos Ribeiro, como omisso diante de denúncias de supostas irregularidades praticadas por dois servidores da pasta.

Em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, Ribeiro levantou suspeitas sobre licitações no Ministério da Integração Nacional e afirmou que tanto o ministro Pádua Andrade quanto Canuto, então chefe de gabinete de Andrade, teriam se omitido diante de informações de supostas irregularidades cometidas nessa área por dois funcionários.

Segundo o economista, ele teria relatado a Andrade e a Canuto as denúncias em abril; a partir de maio, ressaltou, em conversas e em mensagens por celular, passou a enfatizar também a necessidade de afastar os servidores. Ribeiro pediu demissão do cargo de secretário-executivo em julho, após pouco mais de um ano no ministério.

Os mais de dez casos com suspeitas de irregularidades envolvendo os dois servidores foram listados e encaminhados por ele à CGU (Controladoria Geral da União). Os servidores acabaram exonerados de seus cargos no início de agosto.

“A cada ato meu, era enviada uma cópia ao gabinete do ministro. Então, nesse sentido, tanto o ministro quanto o seu chefe de gabinete, Gustavo Canuto, foram omissos. Se a omissão é premeditada ou dolosa, eu não sei. Se existe prevaricação, só uma investigação policial vai dizer”, declarou Ribeiro à "Folha", na ocasião.

Entre as irregularidades, o jornal listou o pagamento autorizado a uma empresa antes mesmo de o contrato ser assinado. Em outra, Ribeiro narra ter flagrado tentativa de licitação de mobiliário para o edifício do ministério, sediado em um prédio moderno longe da Esplanada dos Ministérios, à revelia da secretaria-executiva. A licitação chegou a ser revogada, mas, com a revogação suspensa, o processo de licitação foi iniciado.

Outro lado

Hoje, ao falar sobre a indicação de Canuto e de outros futuros ministros, Bolsonaro foi questionado pelo UOL sobre a suposta omissão do servidor às irregularidades apontadas por Ribeiro. O presidente eleito se recusou a responder. “Matéria de que jornal? Ah, da 'Folha de S.Paulo'? Outra pergunta, por favor”, esquivou-se (veja o vídeo acima).

À "Folha", em agosto, o Ministério da Integração Nacional informou ter sido aberta uma sindicância para apurar a conduta dos servidores citados por Ribeiro e alegou ser de seu interesse que todos os fatos sejam apurados e esclarecidos, justamente para manter “transparência e mérito aos processos executados”.

A pasta também afirmou na ocasião ser “inverídica a informação de que providências só tenham sido tomadas após a veiculação dos fatos”. “O comunicado oficial do ex-secretário Mário Ribeiro ao gabinete do ministro foi enviado na noite de 19 de julho, uma quinta-feira, às 19h48. Já no dia 23 de julho, segunda-feira, o ministro Pádua Andrade determinou providências para a exoneração do ex-secretário e dos dois servidores”, informou, em nota.

Além de questionar Bolsonaro, a reportagem do UOL também procurou nesta quarta o Ministério da Integração Nacional para que Canuto se manifestasse sobre a denúncia. A assessoria informou que a pasta não irá se pronunciar, porque o posicionamento é o mesmo dado em agosto para a Folha.

Gustavo Canuto é anunciado futuro ministro de Desenvolvimento Regional

UOL Notícias

Currículo do futuro ministro

O Desenvolvimento Regional reunirá os atuais ministérios das Cidades e de Integração Nacional, que se tornarão secretarias da nova pasta. Caso assuma todas as atribuições das pastas que serão extintas, Canuto deverá gerir programas como “Minha Casa Minha Vida” e ações relacionadas a obras contra a seca e infraestrutura hídrica. Questionado nesta quarta, o futuro ministro informou ainda não saber se o "Minha Casa" ficará sob sua responsabilidade.

Décimo sétimo ministro confirmado por Bolsonaro, Canuto é servidor do atual Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão e não possui filiação partidária. As informações são do portal do Ministério da Integração, pasta em que, atualmente, é secretário-executivo.

Apresentado por Bolsonaro como funcionário “com ampla experiência”, o futuro ministro integra a carreira de especialista em políticas públicas e gestão governamental e se formou em engenharia da computação pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e em direito pelo Centro Universitário de Brasília.

Na Integração Nacional, o servidor também chefiou o gabinete do ministro, durante os dois últimos anos. Conforme a pasta, Canuto também já assumiu compromissos de trabalho nas secretarias de Aviação Civil e Geral da Presidência da República, além da Agência Nacional de Aviação Civil.

Segundo o currículo do futuro ministro publicado na plataforma Lattes, ele interrompeu em 1998 a graduação em medicina pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) iniciada dois anos antes. Já formado em engenharia da computação, trabalhou ao menos cinco anos na IBM Brasil, em São Paulo. como especialista em sistemas.