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Previdência: ausência de Onyx e inexperiência de líder preocupam Câmara

Ministro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM) - Pedro Ladeira/Folhapress
Ministro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM) Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Guilherme Mazieiro e Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

23/02/2019 04h00

A entrega da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da reforma da Previdência expôs, mais uma vez, as dificuldades de articulação política do governo Jair Bolsonaro (PSL). Parlamentares e assessores ouvidos pelo UOL relataram que persistem as desconfianças quanto à capacidade do líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), em agregar deputados federais junto ao Planalto.

Deputados também estão preocupados com o distanciamento do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), em relação à Câmara. Reclamam, por exemplo, que a maioria dos pedidos feitos à mesa de Onyx são negados ou sequer analisados.

O temor é que a falta de poder e habilidade de Vitor Hugo, além do afastamento do ministro, dificultem a aprovação da reforma da Previdência.

"O Onyx não viabiliza e o líder não consegue contornar. A gente não tá nem pedindo cargo. É reunião com outros ministros. Para podermos discutir uma rodovia, uma lei específica, questões do mandato parlamentar", disse um deputado do PSL.

A impressão é que querem que nos afastemos. Com isso, nossos votos se afastam também
Deputado federal do PSL, sob anonimato

Nos bastidores, lideranças do DEM na Casa tentam tomar as rédeas das negociações em torno da Previdência, mas também reclamam de resistências por parte de Onyx, que nunca se deu bem com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Integrantes do PP, PR e PSDB reforçam as críticas.

"A falta da base é um problema grave. As lideranças da Câmara não foram chamadas para discutir a reforma da Previdência. O que sabemos é sempre pela imprensa", disse Elmar Nascimento (DEM-BA), líder de um bloco composto por 10 partidos.

Quantos deputados tem a base?

Na Câmara, o governo ainda não tem uma base aliada formada. Ao chegar para conversa no Planalto com o ministro Onyx Lorenzoni na manhã de terça-feira (19), Major Vitor Hugo disse que o governo teria cerca de 372 deputados a seu favor. Na tarde do mesmo dia, porém, uma votação na Câmara mostrou exatamente o contrário: o Planalto foi derrotado por 367 votos a 57.

No dia seguinte, questionado pelo UOL sobre como havia sido feito o cálculo por Vitor Hugo, Onyx esboçou um sorriso e se limitou a dizer: "Nós vamos ter os votos necessários".

Para aprovar a reforma da Previdência, o governo precisa de pelo menos 308 votos favoráveis na Câmara. Quando tratou da proposta antes das delações premiadas da JBS, a administração do ex-presidente Michel Temer (MDB) contabilizava cerca de 275 votos para si em um cenário mais otimista e com melhor articulação.

Major: "competentíssimo", mas sem experiência

Major Vitor Hugo foi anunciado como líder do atual governo na Câmara em 14 de janeiro deste ano. À época, foi criticado por políticos com maior tempo de Casa e até por próprios correligionários. Pelos corredores do parlamento, é visto como uma pessoa de caráter e determinada, mas sem traquejo político.

6.fev.2019 - O líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PSL), conversa com jornalistas após participar de reunião de líderes - DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO - DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO
Major Vitor Hugo (PSL), líder do governo na Câmara
Imagem: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO
Um assessor de Bolsonaro classificou a escolha de Vitor Hugo como um erro pela falta de experiência e influência dele dentro do Congresso. A avaliação dentro do Planalto é de que o líder ainda terá outras oportunidades para mostrar serviço, mas não vem correspondendo à altura.

"Foi um equívoco ter escolhido ele. Já estamos vendo no que está dando. Ainda não tem voto suficiente para aprovar a reforma da Previdência. Ele não está conseguindo agregar os deputados em torno do Planalto, o que, teoricamente, era esperado que conseguisse um mínimo, já que nas eleições houve uma boa mudança e na linha do presidente", disse o assessor, sob anonimato.

Um outro assessor do presidente, porém, saiu em defesa do líder.

Ele é competentíssimo. Querem derrubar ele, atrapalhar. Querem canibalizar em cima
Assessor de Bolsonaro, sob anonimato, sobre Major Vitor Hugo

Bolsonaro antes achava ?falta de humanidade? aposentadoria aos 65 anos

UOL Notícias

Governo pode ter nova derrota terça

Assim como os deputados, os senadores querem deixar um recado claro para Bolsonaro de que ele não governará por decreto. Os parlamentares têm ressaltado que o presidente vai ter que se sentar e negociar com ambas as Casas.

Uma das próximas provas de fogo será a análise no Senado da proposta que, na Câmara, impôs a primeira derrota de Bolsonaro na Casa. A votação do projeto do deputado Aliel Machado (PSB-PR), que derruba decreto assinado em janeiro pelo vice-presidente da República, Antônio Hamilton Mourão (PRTB), sobre a Lei de Acesso à Informação, foi negociada no Senado e deve entrar na pauta de terça-feira (26). 

O texto ampliava o espectro de funcionários governamentais que podem classificar documentos sigilosos. Mourão assinou o decreto com a anuência de Jair Bolsonaro quando este estava no Fórum Econômico Mundial, na Suíça.

O requerimento de urgência para esta votação é costurado pelo senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP) e conta com assinaturas de membros do PSDB e PPS, partidos cotados para compor a base do governo.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.