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Após encontrar Bolsonaro, Alckmin e Kassab negam troca de cargos por apoio

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

04/04/2019 11h49Atualizada em 04/04/2019 15h30

Os presidentes do PSD, Gilberto Kassab, e do PSDB, Geraldo Alckmin, negaram hoje que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) tenha oferecido cargos no governo em troca de apoio pela aprovação da reforma da Previdência.

Ambos foram recebidos nesta manhã no Palácio do Planalto e declararam apoio à reforma independentemente da composição da base aliada. Na versão deles, tanto PSD quanto PSDB vão manter a "independência" em relação ao governo.

Kassab disse que o partido faria "um esforço coletivo" para ajustar os pontos divergentes do texto elaborado pelo Ministério da Economia e, ao fim da tramitação, aprovar o projeto. Questionado sobre possíveis contrapartidas, respondeu de forma seca: "Isso seria até uma agressão".

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Bolsonaro durante audiência integrantes do PSD, entre eles, Gilberto Kassab, presidente nacional da sigla
Imagem: Marcos Corrêa/PR

Parlamentares das duas siglas têm basicamente os mesmos contrapontos em relação à proposta do governo Bolsonaro: o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e a aposentadoria rural.

Otto Alencar (BA), senador do PSD, declarou que a legenda também se preocupa com a mudança para o regime de capitalização sem a contribuição patronal.

Bolsonaro decidiu agendar reuniões com os caciques partidários na tentativa de compor uma base aliada que dê sustentação ao governo nas duas Casas Legislativas. O objetivo maior é dar celeridade à tramitação da reforma da previdência e conseguir os votos necessários para sua aprovação.

Além de Alckmin e Kassab, Bolsonaro também se reúne hoje com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), o senador e presidente nacional do PP, Ciro Nogueira (PP), o prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, ACM Neto, entre outras lideranças políticas.

Partido não fechará questão, diz Kassab

Apesar de declarar apoio ao projeto de reforma previdenciária, Kassab afirmou a Bolsonaro que o partido não fechará questão --ou seja, impor aos parlamentares que acompanhem a decisão da direção nacional. Segundo ele, essa é uma tradição do PSD e não há intenção em quebrá-la.

"Haverá uma boa vontade do partido. Em relação às bancadas, o partido não fechará questão, mas haverá um esforço bastante intenso no sentido de mostrar aos parlamentares a importância das reformas."

Questionado sobre a capacidade de articulação do governo Bolsonaro junto ao Congresso, o mandatário do PSD disse que as reuniões de hoje representavam "uma sinalização importante" no intuito de alinhar os discursos. Ressaltou, no entanto, que o tema não foi tratado durante o encontro.

"Isso não foi tratado. Mas o governo está no seu início, né? Caso haja essa sensação, caberá ao governo procurar uma maneira de aperfeiçoar essa relação."

Para Alckmin, "não existe nova e velha política"

O presidente tucano, que concorreu à chefia da República no ano passado e foi derrotado por Bolsonaro, respondeu ao UOL que o encontro de hoje não representaria uma "rendição" do pesselista à chamada "velha política", tão criticada por ele em discursos e entrevistas.

Alckmin chegou a citar uma frase que, segundo ele, era repetida por Ulysses Guimarães: "Não se guardam ressentimentos na geladeira."

Para o líder do PSDB, não existiria "nova e velha política", e sim "boa e má política". "Boa política não envelhece", completou.

Senador recomenda "anestesia" na relação com o Congresso

Líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA) disse ter conversado com o presidente sobre a relação conflituosa que ele tem travado com o Parlamento, sobretudo no que diz respeito à reforma da previdência. Na visão do congressista, o Executivo precisa, "de alguma forma, deixar de discutir ideologia" e focar nos problemas do país.

"O próprio presidente falava isso. Saber se foi revolução ou golpe, ninguém está interessado nisso. Cada um tem a sua consciência. E acabar com essa beligerância com a Câmara e com o Senado", comentou.

Otto revelou ter aconselhado Bolsonaro a aplicar uma "anestesia" no diálogo necessário com os parlamentares e ressaltou que, "com dor, todo mundo vai gritar".

"Eu disse que ele deveria ter um comportamento com o Senado 'sem dor'. Eu sou médico ortopedista, cirurgião, professor universitário. Eu disse: 'Olha, faça com anestesia. Com dor todo mundo vai gritar'. Falei com ele isso. Essas relações políticas têm que ter harmonia, respeito, linguagem parlamentar."

Reunião com DEM

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), e o prefeito de Salvador e presidente nacional do Democratas, ACM Neto, também participaram de reunião com Bolsonaro. Congressista veterano antes de assumir o Executivo estadual, Caiado declarou considerar que "o governo [federal] cumpriu seu papel" no momento em que enviou ao Parlamento a proposta de reforma previdenciária. "Cabe ao Congresso Nacional votar sim ou não", completou.

O democrata também disse considerar "paralelos e acessórios" os debates acerca de percepções ideológicas que permeiam as ações e discursos do governo Bolsonaro. "Essa é uma discussão paralela. Você não pode transformar o paralelo e acessório no principal. O principal são as reformas."

Juntos, PSDB, PSD e DEM têm 93 deputados federais na atual legislatura. Para que a reforma da Previdência avance na Câmara, são necessários 308 votos em dois turnos, já que se trata de uma proposta de emenda constitucional.