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"Vassalagem" com EUA e "agenda velhíssima": Ciro e Alckmin atacam Bolsonaro

17.ago.2018 - Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) durante debate eleitoral na RedeTV!/IstoÉ - Paulo Whitaker/AFP
17.ago.2018 - Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) durante debate eleitoral na RedeTV!/IstoÉ Imagem: Paulo Whitaker/AFP

Alex Tajra

Do UOL, em São Paulo

06/04/2019 04h01

Candidatos à presidência no último pleito, Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) criticaram o governo Jair Bolsonaro (PSL) ontem à noite durante um debate nos EUA. Ambos destinaram suas artilharias à política externa do governo e à falta de articulação política no Congresso - pauta que ganhou força nessa semana com as reuniões de Bolsonaro com líderes do que classifica de "velha política".

Terceiro colocado nas eleições, Ciro classificou a aproximação do Brasil com os Estados Unidos de "vassalagem nojenta" e disse que a proposta de mudar a embaixada brasileira em Israel partiu de um acordo com os "sionistas radicais".

"Ninguém nunca tocou nesse assunto, a não ser os acordos clandestinos com o sionismo radical. E essa vassalagem nojenta com o governo de Trump (...) os filhos [de Bolsonaro] só faltaram voar na braguilha do Trump. Eles estão mexendo com coisa séria, estamos perdendo mercado", disse Ciro durante conversa no Brazil Conference, em Boston, que contou ainda com o ex-ministro Henrique Meirelles (MDB).

Questionado sobre o papel dos filhos do presidente no debate e na vida política do país, o ex-governador do Ceará disse "são um bando de deslumbrados, filhos de um traidor da pátria entreguista".

"O Brasil optou por um idiota, não no sentido do palavrão e sim como está no dicionário, uma pessoa com incapacidade de pensar no abstrato", afirmou.

Alckmin endossou as críticas ao estreitamento de laços entre o Brasil e os norte-americanos, também fazendo referência indireta ao caso da embaixada em Israel. A proposta, defendida diversas vezes por Bolsonaro, perdeu força com a abertura de um escritório comercial do país em Jerusalém, mas ainda assim refletiu negativamente nas relações com os países árabes e muçulmanos.

Com a inauguração do escritório, o Brasil corre o risco de ser preterido nas exportações de e carne bovina, frango, soja e milho, como mostrou uma reportagem do UOL publicada esta semana.

"Você entrar de uma maneira caudatária na política do Trump, criando sem necessidade um atrito com os países árabes, um atrito com o setor mais importante, mais dinâmico do Brasil que é o agronegócio, é inadmissível", disse Alckmin

Para Alckmin, as diretrizes tomadas na política externa brasileira são "totalmente erráticas". O ex-governador de São Paulo atacou o distanciamento para com a China - o maior parceiro comercial do país.

"O mundo hoje é asiático, esse continente é um grande centro econômico, e a China é o maior parceiro do Brasil", disse.

"Agenda velhíssima" e Previdência

No começo do debate, Alckmin elencou pautas que, em sua visão, seriam secundárias ao país e estariam tirando atenção das questões que deveriam ser discutidas na vida pública. Para o presidente do PSDB, houve ainda um "derretimento muito rápido" do governo em pouco mais de três meses.

"Estão discutindo se o nazismo é de esquerda ou de direita, se o golpe foi golpe ou não foi golpe, é uma agenda velhíssima", afirmou. Alckmin entrou ainda na seara da "velha política" - termo recorrente nos discursos e explanações de Bolsonaro. "Não existe essa de nova e velha política", disse e, mais tarde, sentenciou: "Problema do governo hoje no Brasil é a intolerância, a postura sectária, é o PT invertido."

No ano passado, nomes de peso do PSDB, como o governador João Doria, já haviam dado a entender que a sigla não seria base do governo de Bolsonaro, tampouco faria parte do governo aceitando cargos. Na noite de hoje, Alckmin reiterou o posicionamento que já havia esclarecido para Bolsonaro.

"Nós, do PSDB, não vamos fazer parte do governo, não vamos aceitar cargo no governo, não vamos compor a base. Vamos votar os projetos do país de maneira coerente. (...) Precisamos recuperar a política como arte e ciência, política com 'p' maiúsculo que vai resolver nossos problemas e estimular a democracia", disse o tucano.

Ciro, por sua vez, falou sobre as dificuldades do Congresso aprovar a reforma da Previdência nos moldes apresentados pelo governo. "O Brasil é muito diferente, eu não posso comparar a idade mínima de quem vive no sertão nordestino, ela não vive até os 62 anos (...) Desse jeito que está, nós vamos votar não, mas se houver diálogo, pode ser diferente."

"Um policial ir atrás de bandido por 40 anos, um professor trabalhar por 40 anos para se aposentar. Onde existe isso no mundo?", criticou Ciro.

Apesar de ser favorável à reforma da Previdência, Alckmin tocou num dos pontos mais delicados da proposta - a aposentadoria dos militares. "Hoje o déficit per capita por ano da aposentadoria dos militares é R$ 125 mil. Você vai fazer uma reforma só em cima do trabalhador pobre do INSS? Precisa também ter justiça social", questionou o ex-governador, arrancando aplausos."

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.