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Santos Cruz: Suposto diálogo com crítica a Bolsonaro foi ato de "gangue"

27.jun.2019 -Santos Cruz participa do 14º Congresso da Abraji e evita falar sobre Olavo de Carvalho - Aloisio Mauricio/FotoArena/Estadão Conteúdo
27.jun.2019 -Santos Cruz participa do 14º Congresso da Abraji e evita falar sobre Olavo de Carvalho Imagem: Aloisio Mauricio/FotoArena/Estadão Conteúdo

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

27/06/2019 11h00Atualizada em 27/06/2019 11h45

Duas semanas depois de ser demitido pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) do cargo de ministro da Secretaria de Governo, o general da reserva Carlos Alberto Santos Cruz disse hoje em São Paulo que a divulgação de um suposto diálogo em que critica Bolsonaro foi algo "medíocre" e decorrente de um "comportamento de gangue". Para o general, houve a criação de um fato para pressionar o presidente a demiti-lo.

"Um print de uma tela falsa, como se eu tivesse falado com alguém criticando o presidente, os filhos, como se o [vice-presidente Hamilton] Mourão tivesse que assumir. Isso é crime", disse Santos Cruz. "É medíocre, um comportamento de gangue. É uma coisa montada, mal feita, para criar um fato para pressionar o presidente a demitir."

Santos Cruz deu as declarações durante entrevista aos jornalistas Julia Duailibi e Daniel Bramatti no 14º Congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).

O caso da divulgação da suposta conversa, que teria ocorrido entre Santos Cruz e interlocutores desconhecidos via WhatsApp, ocorreu em maio, cerca de um mês antes da demissão do general por Bolsonaro.

Santos Cruz falou sobre o assunto depois de ser perguntado se o escritor Olavo de Carvalho tinha influenciado em sua demissão e se Bolsonaro tinha optado pelo "lado" de Olavo. Na ocasião, o escritor xingou publicamente o então ministro por meio do Twitter.

"Eu não vou discutir sobre essa personalidade pública, porque senão teria que baixar muito o nível do meu palavreado", afirmou.

Segundo Santos Cruz, no momento em que teria ocorrido a suposta conversa com críticas a Bolsonaro, ele estava em um avião para o Amazonas, sem acesso à internet.

"Os irresponsáveis estão vivendo um momento de glória", disse ao comentar a forma como se usa a tecnologia e as redes sociais hoje em dia.

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Com citação a Reginaldo Rossi, ex-ministro vê demissão banal

O militar foi demitido por Bolsonaro no dia 13, e foi o terceiro ministro a cair em seis meses de governo, depois de Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência) e Ricardo Vélez Rodríguez (Educação). Ele foi substituído pelo também general Luiz Eduardo Ramos, ex-comandante militar do Sudeste.

Em entrevista à revista Época cinco dias depois de sua demissão, Santos Cruz disse não ter perguntado ao presidente os motivos de sua saída, mas fez uma crítica ao que chamou de "show de besteiras" que ofuscariam ações positivas do governo.

"Se você fizer urna análise das bobagens que se têm vivido, é um negócio impressionante. É um show de besteiras. Isso tira o foco daquilo que é importante. Tem muita besteira. Tem muita coisa importante que acaba não aparecendo porque todo dia tem uma bobagem ou outra para distrair a população, tirando a atenção das coisas importantes", declarou à revista. Bolsonaro rebateu e afirmou que o ex-ministro nunca tinha falado que havia "bobagem" na gestão, enquanto esteve ocupando o cargo.

Na entrevista de hoje, Santos Cruz também não quis comentar o que teria levado à sua saída do governo, nem a maneira pela qual isso ocorreu.

"A curiosidade de vocês talvez seja pela forma como isso aconteceu. Não vou criticar a forma para não ser antiético", afirmou.

Buscando minimizar a demissão, o general da reserva citou até um trecho da música "Garçom", de Reginaldo Rossi: "O meu caso é mais um, é banal".

"Eu não tenho trauma nenhum, eu não saio perdendo, não é uma guerra de vitória ou derrota", disse. "Só a pessoa que toma a decisão sabe as razões da decisão".

Segundo o militar, no dia de sua demissão, o ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, avisou-o que o presidente tinha pensado em mudá-lo de função.

"Não tinha sentido", afirmou Santos Cruz. "Eu já sabia [da demissão], pelo comentário do Heleno. Disse: vamos facilitar as coisas, vamos encerrar por aqui. Ele [Bolsonaro] não falou nada".

O ex-ministro defendeu que é necessário "facilitar as coisas para o presidente", porque mudar subordinados "é um direito dele".

Assim como evitou polemizar sobre sua demissão, Santos Cruz também não quis comentar outros temas do governo Bolsonaro, como a influência do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), um dos filhos do presidente, sobre o pai. "Nunca vi ninguém do governo discutindo isso", declarou.

De forma similar, o general se esquivou de comentar as denúncias de irregularidades envolvendo o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL). "Não me interessei em saber a fundo o que aconteceu)", disse. Hoje, um assessor especial e dois ex-assessores de Álvaro Antônio foram presos em operação da Polícia Federal na investigação sobre o uso de candidaturas laranjas na eleição de 2018.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.