Brincadeiras, risadas e presente; os bastidores de Temer no Roda Viva
O ex-presidente Michel Temer (MDB) aproveitou a entrevista no programa Roda Viva, da TV Cultura, ontem para rejeitar o rótulo de golpista e refutar as acusações no âmbito da Operação Lava Jato.
Se na transmissão Temer parecia tenso, nos bastidores o clima era outro. O ex-presidente foi alvo de brincadeira por parte de jornalistas, deu risadas e, no fim de tudo, disse que teve a oportunidade de abrir o coração.
Questionado durante um dos intervalos sobre o motivo pelo qual aparenta estar tão tenso e travado, Temer rebate: "Sou ex-presidente, qualquer coisa que eu disser repercute".
Antes de começar a sabatina de 1h30 em TV aberta, perguntado pelo UOL, Temer disse que o Roda Viva era uma oportunidade para comentar sobre os casos "em que foi injustiçado".
"Aparecendo as perguntas, me dará a oportunidade de esclarecer estes pontos", afirmou.
"Temer está sem aliança?"
Famoso por seus elogios à ex-primeira-dama Marcela Temer, o jornalista da revista Veja Ricardo Noblat não perdeu a oportunidade de brincar com o ex-presidente.
O time de entrevistadores checava se os anéis nas mãos dos jornalistas da bancada estariam causando um ruído no microfone enquanto mexiam as mãos.
Temer então perguntou se seria a sua aliança que estava fazendo o barulho, quando Noblat, mais do que rápido, perguntou: "Está sem aliança?", provocando risos dos presentes.
Mas o ex-presidente estava com ela, e não era o microfone dele que causava o barulho.
"Você é o jornalista da matéria do grampo?"
Ainda no intervalo do primeiro bloco, após o aplauso discreto dos que acompanhavam Temer, o ex-presidente se virou para o jornalista da Folha de S.Paulo, Ricardo Balthazar, e perguntou: "Você é o jornalista da matéria do grampo?".
Balthazar confirmou com um sinal afirmativo silencioso.
O emedebista se referia à reportagem publicada na última semana pela Folha que enfraqueceu a tese do então juiz Sergio Moro e dos procuradores do Ministério Público Federal no Paraná de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria aceitado cargo de ministro da Casa Civil durante o governo Dilma Rousseff (PT) para se blindar das acusações da Operação Lava Jato.
Minutos antes, em rede nacional, Temer aproveitou para relembrar a reportagem que dá fôlego para a sua defesa de que não tramou o "golpe" contra Dilma, de quem foi vice-presidente.
"Eu não poderia ser o articulador de um golpe porque eu chegaria muito mal no governo. Mas eu não tinha nenhuma intenção disso. Nunca precisei disso", disse Temer.
Noblat comentou: "Vê-lo chamar aquilo tudo de golpe é muito interessante depois de tê-lo visto sendo acusado de golpista".
Temer vampiro
O papo de Temer com o cartunista Paulo Caruso durante o intervalo do programa também foi motivo de risos: ambos dividiram o prêmio de Cidadão de Águas de São Pedro, no interior de São Paulo, há duas décadas.
Ao vivo, Caruso aproveitou para perguntar se Temer se incomodava com as caricaturas —e foi mostrado o desenho do ex-presidente caracterizado como vampiro. Temer riu e rebateu: "Eu dou sangue para as pessoas, não tiro sangue das pessoas".
No fim, o ex-presidente disse para o UOL que teve a oportunidade de "abrir o coração" durante a entrevista.
"O balanço é positivo, as indagações me deram exatamente essa oportunidade [de me defender]. Pude falar muito livremente e muito francamente", disse Temer, levando nas mãos um dos desenhos de Caruso.
A caricatura escolhida foi justamente a que ilustra a impopularidade da qual Temer diz que se aproveitou para o que fez em seu governo de cerca de 2 anos e meio.
"Aproveitei a minha impopularidade. Logo que assumi, já era impopular, 40% era petista ou partido coligado, ou seja, era contra mim. Outros 40% se irritavam comigo porque eu tinha sido vice da Dilma, então já entrei com 80% contra. Realmente, minha impopularidade me ajudou a fazer o que eu fiz".
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