Judiciário reage a ataques de Crivella à juíza que fechou Niemeyer
Os comentários feitos pelo prefeito do Rio Marcelo Crivella sobre a juíza Mirela Erbisti, da 3ª Vara de Fazenda Pública, que ordenou a interdição da avenida Niemeyer, provocou uma forte reação do Judiciário que viu "machismo' e "ataque a democracia".
Em um evento na semana passada, Crivella fez piada ao dizer que a magistrada tem "uma beleza de parar o trânsito, mas não precisa praticar".
Ele também disse que Mirela manteria um site intitulado "togadas e tatuadas" em que dá dicas sobre moda e sobre como arrumar um namorado. O UOL procurou a prefeitura do Rio ontem, mas não teve retorno até o momento.
A presidente da Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (Amaerj), Renata Gil, divulgou nota repudiando as declarações, classificadas por ela de "preconceituosas" e "machistas".
"O ataque grosseiro à magistrada representa mais uma tentativa do prefeito de pressionar o Judiciário para reverter uma decisão judicial legítima, confirmada em segunda instância. O discurso machista do prefeito agrava ainda mais a questão. É inadmissível que um político em cargo público tão importante trate desta forma alguém que, por dever do ofício que exerce, o tenha contrariado", diz um trecho do comunicado.
"O Poder Judiciário é um sólido pilar do Estado Democrático de Direito. A Magistratura brasileira é independente. Qualquer tentativa de intimidação à Justiça e a seus magistrados será firmemente repudiada por esta Associação e sua presidente", encerrou Renata.
TJ: ataque remete a tempos obscuros
Claudio de Mello Tavares, presidente do Tribunal de Justiça do Rio, disse que ataques pessoais à figura do julgador "remete a tempos obscuros da nossa sociedade". Também em nota, ele disse que "o interesse público está acima de interesses pessoas, políticos e religiosos.
A nota afirma: "A separação dos poderes configura verdadeiro pilar do Estado Democrático de Direito. O Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro, reconhecido, anos a fio, como o mais eficiente do país, reafirma que a decisão judicial submete a todos, notadamente aos agentes públicos que exercem mandatos eletivos. A via recursal é a forma correta para combater decisões judiciais das quais se discorda. Ataques pessoais à figura do julgador remete a tempos obscuros da nossa sociedade. A insatisfação de um governante municipal divulgada na mídia, diante de uma decisão judicial até o presente momento mantida pela instância recursal, consiste em grave ataque à democracia. O interesse público está acima de interesses pessoais, políticos e religiosos."
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