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Moro confirma acusações contra Bolsonaro em depoimento de mais de 8h à PF

Carolina Marins, Flávio Costa e Eduardo Militão

Do UOL, em São Paulo e em Brasília

02/05/2020 13h50Atualizada em 03/05/2020 00h41

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro concluiu seu depoimento à Polícia Federal após mais de 8 horas. Segundo informações da Globonews, ele teria confirmado as acusações contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre crimes de interferência política na PF e apresentou novas provas entre áudios, troca de mensagens e e-mails.

Moro chegou em um carro oficial da corporação, por volta das 13h15 de sábado (2), à sede da Superintendência da Polícia Federal na capital do Paraná. O depoimento começou por volta das 14h20 e só terminou às 22h40. O ex-ministro deixou o prédio da PF pelos fundos pouco antes da 0h30 deste domingo (3), sem falar com a imprensa.

A oitiva foi conduzida pela delegada Christiane Correa Machado, chefe do Setor de Inquéritos Especiais do Supremo Tribunal Federal.

O secretário-geral da seccional paranaense da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Rodrigo Sánchez Rios, e mais três advogados de um escritório criminalista acompanharam o ex-ministro.

O depoimento foi também acompanhado pelo delegado federal Igor Romário de Paula, diretor de Investigação e Combate à Corrupção (Dicor/PF). O delegado chefiou a equipe de policiais federais que atuaram na Operação Lava Jato, cujos processos em primeira instância eram presididos por Moro, quando ele era juiz federal.

O depoimento ocorreu em uma sala ampla da sede curitibana da PF. Os participantes mantiveram uma distância de pelo menos 1,5 m uns dos outros. Todos os presentes usaram máscaras.

Pizzas chegam à sede da PF após mais de 7 horas de depoimento de Sergio Moro - Imagem cedida ao UOL - Imagem cedida ao UOL
Pizzas chegam à sede da PF após mais de 7 horas de depoimento de Sergio Moro
Imagem: Imagem cedida ao UOL

Após mais de 7 horas de depoimento, uma entrega de pizzas foi pedida na sede da PF. O horário impresso na nota fiscal mostra que ela foi pedida por volta das 19h38 e teve um custo de R$ 291,60.

Clima de tensão

Durante a manhã, apoiadores de Bolsonaro e de Moro, se concentraram em frente à sede da PF em Curitiba.

Os dois grupos começaram a trocar insultos e um dos manifestantes (não se sabe integrante de qual grupo) chegou a agredir um cinegrafista da RIC TV (afiliada da Record no Paraná). Policiais militares intervieram e controlaram a confusão.

Inquérito no STF

A investigação foi aberta a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, que também quer investigar se o ex-juiz da Lava Jato cometeu crime de denunciação caluniosa.

O inquérito corre no Supremo Tribunal Federal (STF). O relator é o ministro Celso de Mello, que deixa a corte no fim do ano.

Em entrevista à revista Veja, Moro disse que considerou "intimidação" o fato de a Procuradoria-Geral da República o investigar por suposta denúncia falsa.

Aras foi indicado ao cargo pelo próprio Bolsonaro, numa ação em que o presidente deixou de escolher um nome da lista tríplice de candidatos eleitos internamente pelo Ministério Público Federal.

Em resposta, Aras disse que não admite ser manipulado ou intimidado.

A demissão de Moro foi o desfecho de uma crise que começou em 2019, quando Bolsonaro interveio na PF no Rio de Janeiro.

Ao pedir exoneração do cargo de ministro no último dia 24 de abril, Moro afirmou que Bolsonaro tentou interferir e receber dados sigilosos de investigações da Polícia Federal.

Bolsonaro admite que quer ter acesso a relatórios de inteligência diretamente da PF todos os dias. Moro afirma que isso é interferência e que é uma atitude antirrepublicana e contra os princípios constitucionais. Bolsonaro considera que esse procedimento é normal.