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Centrão reclama que ministros seguram indicações; Planalto pede calma

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao lado do vice Hamilton Mourão (PRTB) e ministros no Palácio da Alvorada, em Brasília, nesta terça-feira (12) - Adriano Machado/Reuters
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao lado do vice Hamilton Mourão (PRTB) e ministros no Palácio da Alvorada, em Brasília, nesta terça-feira (12) Imagem: Adriano Machado/Reuters

Luciana Amaral e Carla Araújo

Do UOL, em Brasília

13/05/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Bloco no Congresso se queixa de que ministros têm segurado postos-chave na máquina pública
  • Grupo está insatisfeito com o ritmo de concretização das indicações feitas a cargos no governo em troca de apoio a Bolsonaro
  • Presidente visa construir base aliada e afastar eventuais pedidos de impeachmnet
  • Planalto quer cautela com entrega de cadeiras no primeiro escalão dos ministérios da Economia e da Infraestrutura.

O centrão reclama que ministros têm segurado postos-chave na máquina pública e está insatisfeito com a concretização das indicações feitas a cargos nos primeiros escalões do governo. Em resposta, os ministros mais próximos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Palácio do Planalto pedem calma a integrantes do bloco informal que reúne diferentes partidos no Congresso.

Nas últimas semanas, Bolsonaro estreitou conversas com legendas do centrão na tentativa de construir uma base aliada mais robusta no Congresso Nacional, o que nunca conseguiu em quase um ano e meio de mandato.

Em troca de apoio na Câmara e no Senado para aprovar projetos de seu interesse e barrar um eventual pedido de impeachment, os partidos conseguiriam emplacar nomes para cargos no governo federal, segundo parlamentares e interlocutores do Planalto.

Os principais partidos no radar de Bolsonaro são Republicanos, PL, PP (Progressistas), PSD, Solidariedade, PTB, Pros, Avante, DEM e MDB. As duas últimas legendas negam ser parte do centrão e têm mais divergências internas quanto a apoiar ou não Bolsonaro, que então busca apoios individuais nelas.

A estimativa é que Bolsonaro atraia para si cerca de 220 dos 513 deputados federais nessa articulação.

Apesar de indicações já estarem em andamento, poucas se concretizaram até o momento, afirmou um deputado federal a par das negociações. Ele disse que Bolsonaro "deu carta branca aos ministros" para montarem as equipes nas pastas e, agora, os auxiliares do presidente não querem abrir mão dos escolhidos.

Na avaliação dele, os ministros técnicos são "bons e importantes", mas não contam com a "compreensão política necessária" atualmente. Entre os alvos de reclamações por parte do centrão estão os ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.

O ministro da Ciência e Tecnologia, astronauta Marcos Pontes, também tem conseguido manter a estrutura da pasta como está. O ministério e suas entidades vinculadas, como os Correios, cobiçados pelo PSD, ainda não sofreram alterações a pedido do centrão.

Pelo fato de serem políticos, a tendência é que os ministros do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, e da Cidadania, Onyx Lorenzoni, aceitem mudanças com mais facilidade.

Duas das nomeações recentes identificadas como resultado das negociações com o centrão aconteceram exatamente em estruturas ligadas a Marinho: Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) e Secretaria Nacional de Mobilidade.

Ramos é apelidado de 'enrolador-geral da República'

Enquanto isso, nos bastidores, o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, cuja pasta é uma das principais responsáveis pela articulação do Planalto com o Congresso, foi apelidado de "enrolador-geral da República" por integrantes do centrão.

A expressão faz referência ao apelido de "engavetador-geral da República" dado a Geraldo Brindeiro quando ele chefiava a Procuradoria-Geral da República e arquivou inquéritos contra aliados do então presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Parte dos parlamentares se queixa de que as promessas feitas por Ramos e pelo ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, nem sempre são cumpridas.

Planalto pede paciência

No Palácio do Planalto, a alegação dos ministros palacianos é a de que é preciso ter "calma". Segundo um auxiliar, muitos parlamentares esquecem os trâmites burocráticos das nomeações, como análises prévias feitas pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e Casa Civil.

Além disso, avisam que o governo não fará uma publicação "gigante" no Diário Oficial da União com todas as indicações em curso. A expectativa agora é que as nomeações aconteçam a conta-gotas.

"Paciência, não adianta pressionar, estamos dialogando", disse um interlocutor do presidente.

A avaliação feita pelos auxiliares é que há pelo menos duas pastas que precisam ser tratadas com mais cautela nas negociações: justamente Economia e Infraestrutura.

Com cargos cobiçados pelos parlamentares, auxiliares do presidente avisam que Tarcísio de Freitas é aliado de primeira hora e teria "zero chance" de sair. Já Guedes, apesar de recentes rusgas e um comportamento tido como mais difícil, também tem sido preservado pelo Planalto — segundo um assessor, não é hora de pensar em desmembrar o Ministério da Economia.