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Para Maia, Justiça deve ser dura contra ameaças e fake news contra Poderes

Do UOL, em São Paulo

01/06/2020 16h19Atualizada em 01/06/2020 18h19

Em meio à pandemia do novo coronavírus e do consequente impacto econômico causado pela covid-19, o Brasil ainda sofre com uma crise política. Para o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), os ataques ao Congresso Nacional e a Supremo Tribunal Federal (STF) em manifestações recentes são inaceitáveis.

"Eu acho que, em um momento como esse, em uma pandemia que atinge a todo mundo, que atinge ao Brasil, nós estamos acompanhando movimentos como esse do último domingo que são inaceitáveis. É inaceitável que faça uma mobilização com respaldo do governo. Ele precisa respeitar as instituições democráticas", criticou Maia no UOL Entrevista de hoje, conduzido pelo colunista Tales Faria.

Maia lembrou que muitas das manifestações políticas são estimuladas por notícias falsas.

"Eu fui vítima desde o ano passado desses ataques; hoje é o Supremo, em um movimento gravíssimo. Então nós precisamos organizar as relações dos Poderes com a sociedade. A maioria absoluta da sociedade, certamente perplexa, não aceita que a gente possa ver movimentos em 2020 contra o Supremo, contra o Congresso, muitas vezes apenas porque diverge ou faz uma crítica numa entrevista como essa", afirmou, pedindo dureza no combate a tais incidentes.

Eu acho que a Justiça tem que, respeitados os limites da lei, tomar decisões duras em relação às ameaças que se fazem aos ministros do STF. Quando é uma crítica, isso é da democracia e da liberdade de expressão. Mas notícias falsas, ameaças... Por que se fazem ameaças? Porque se quer impedir que o outro cumpra suas funções constitucionais. Não quer que o ministro continue investigando as questões das fake news. Ir até a casa dele, agredi-lo, isso tudo passa do limite. O que não pode é milhares de robôs criando uma narrativa com pessoas estimulando ódio às instituições do Brasil.

O Brasil na pandemia

Para o deputado, é natural que o isolamento social imposto pelo coronavírus crie tensões e acirre a polarização no Brasil. No entanto, no momento, ainda é necessário ficar em casa.

Acho que a sociedade começou a se manifestar contra o que está acontecendo, e nós precisamos ter equilíbrio, responsabilidade com o Brasil e com os brasileiros nesse momento. Não é o isolamento que faz a economia cair, é o vírus, aqui, na Europa, em qualquer país. Há uma crise sanitária que afeta a economia. O isolamento vai apenas na linha de salvar vidas.

"Vivemos um momento muito difícil da nossa geração, com certeza, nos últimos 100 anos — ou pelo menos desde a 2ª Guerra não vivemos um momento tão difícil, uma pandemia. Chegaremos a 30 mil mortos, economia derretendo, os resultados do primeiro trimestre foram muito baixos e não podemos esquecer que a pandemia só atingiu o finalzinho do primeiro trimestre. Os economistas já projetando uma queda de 7%, a necessidade de corte de gastos, e junto com isso uma escalada e que não vem dessa pandemia, ela se mistura com a pandemia, porque vem do ano passado, com esses movimentos próximos ao presidente muito autoritários a quem diverge do presidente. Não é a quem faz algo de errado, mas a quem discorda do presidente."

Armamento da população

Em meio ao acirramento, Bolsonaro defendeu o armamento da população, conforme registrado em reunião interministerial do dia 22 de abril. Segundo Maia, o país já libera o armamento civil, mas impõe restrições.

"Nós temos uma lei que de forma restrita autoriza a posse, o porte. Essa lei é uma lei que precisa ser restritiva, principalmente o porte de armas", relembrou.

"Eu tendo a divergir do presidente. Uma coisa é a pessoa dentro de uma lei restrita querer ter uma arma respeitando todas as restrições para ter a posse. Agora, o estímulo a armar é contraditório. Se as Forças Armadas garantem a soberania, você quer armar as pessoas contra quem? Contra a Polícia?"

Forças Armadas não apoiam ruptura, diz Maia

O presidente da Câmara afirmou que generais que estão no governo de Jair Bolsonaro (sem partido) não representam as Forças Armadas.

"Um ministro que é general da reserva, ou ainda está na ativa e vira ministro de um governo, ele não representa as Forças Armadas. Elas [as Forças Armadas] representam o Estado brasileiro", disse Maia.

"Esses ministros representam a política do governo Bolsonaro, legítima. Eles não podem misturar o histórico, a carreira deles, uma posição política, com o que representam as Forças Armadas. Não podemos criticar as FAs pelo movimento de um ministro político que foi das FAs", completou.

Questionado se vê, neste momento, ameaça de ruptura da democracia, o presidente da Câmara afirmou que não.

"Não vejo nas Forças Armadas nenhum movimento de politização ou apoio político ao governo. Elas têm papel de garantir o Estado, a nossa soberania, e assim deve ser de forma permanente", ressaltou.

"Impeachment é tratado com cuidado"

Maia afirmou que o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é assunto que deve ser tratado com "cuidado" e que não deve se colocar mais lenha na fogueira.

Eu acho que o tempo [do impeachment] é o tempo da política. A gente não pode colocar mais lenha na fogueira. Da mesma forma que eu acho que essas manifestações que atacam as instituições democráticas são gravíssimas, uma decisão de impeachment precisa ser muito bem avaliada para que a gente não gere mais conflitos e mais crise política no Brasil.

"Eu trato isso com o mesmo cuidado que eu tratei no governo do presidente Michel Temer. E eu faço da mesma forma agora, eu acho que no momento adequado vou decidir. Desse processo eu sou o juiz, eu defiro ou indefiro e não devo ficar dando muita opinião sobre esse assunto sabendo que a nossa prioridade deve ser tentar unificar esse país, para ter mais força e melhores condições para enfrentar esse vírus em todos os seus aspectos", completou.

Reforma tributária

O presidente da Câmara afirmou também que o calendário do Congresso Nacional deve começar a abrir mais espaço a outras pautas no mês de julho. Principalmente, segundo ele, para a Reforma Tributária.

"Pós-pandemia, nós vamos trabalhar, combinar com o presidente do Senado. Nós precisamos voltar ao debate da reforma tributária", disse o deputado.

"As reuniões por videoconferência ganharam muito espaço com a pandemia e vão continuar tendo esse espaço, não só na política, mas na sociedade. E nós precisamos retomar esse debate da reforma tributária, da simplificação do sistema de impostos de bens e serviços — se for o caso, entrar no debate sobre a renda, outros tributos", acrescentou.

"É importante que a gente possa, daqui a três, quatro semanas, retomar esse debate. Esperar o governo encaminhar a reforma administrativa, trabalhar matérias que a gente já vinha debatendo, autonomia do Banco Central, que é muito importante, a lei cambial."