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Fiéis a Bolsonaros, deputados empregaram donos de 13 contas banidas em rede

Os deputados estaduais Anderson Moraes e Alana Passos - Reprodução/ Facebook
Os deputados estaduais Anderson Moraes e Alana Passos Imagem: Reprodução/ Facebook

Igor Mello e Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

10/07/2020 04h00

Os deputados estaduais do Rio que empregavam dois donos de contas banidas pelo Facebook mantêm íntima relação com o clã Bolsonaro. Anderson Moraes e Alana Passos (ambos do PSL) estão entre os mais fiéis apoiadores da família no Rio e têm um histórico de empregar pessoas ligadas a ela, como Rogéria Bolsonaro, ex do presidente. Alana empregou até abril na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) Leonardo Rodrigues de Barros Neto, enquanto Moraes mantém até hoje em seu gabinete Vanessa do Nascimento Navarro.

O casal de namorados é apontado pelo relatório da DFRLab —organização forense digital que tem parceria com o Facebook— como dono de 13 contas excluídas (perfis, páginas e grupos), entre elas, a página Bolsonéas, uma das maiores em apoio a Jair Bolsonaro. Leonardo e Vanessa são parte central do que o relatório descreve como um braço no Rio de uma rede de desinformação. Eles negam qualquer envolvimento e refutam atuação coordenada. Ambos tiveram contas excluídas no Facebook e no Instagram.

O levantamento identificou ao menos seis ex e atuais assessores de parlamentares bolsonaristas e do próprio presidente que comporiam uma rede a partir do Facebook e Instagram dedicada a manipular informação e atacar opositores. Ao todo, foram excluídos 88 perfis, páginas e grupos.

Segundo o relatório, Leonardo e Vanessa mantinham vários perfis simultâneos no Facebook e Instagram —parte deles era usada para divulgar conteúdos positivos sobre Bolsonaro e os deputados estaduais que os empregavam, enquanto outros faziam ataques a desafetos do bolsonarismo.

Em um de seus perfis no Instagram, Vanessa postou a hashtag "#STFEscritóriodoCrime". Já a página Bolsonéas —administrada por ambos segundo o relatório— replicou um artigo atribuindo à atriz Regina Duarte, àquela altura secretária especial de Cultura do governo federal, uma frase pedindo o fechamento do Supremo Tribunal Federal.

Deputado emprega ex-mulher de Bolsonaro

Anderson Moraes é considerado um dos aliados mais próximos de Flávio Bolsonaro, condição que lhe rendeu um posto de prestígio no começo da legislatura. Ele foi escolhido líder do PSL, que já foi a maior bancada da Alerj.

O parlamentar em primeiro mandato emprega em seu gabinete Rogéria Bolsonaro —primeira esposa de Jair Bolsonaro e mãe de Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro.

Rogéria Bolsonaro com o filho Eduardo no casamento dele no Rio - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Rogéria Bolsonaro com o filho Eduardo no casamento dele no Rio
Imagem: Reprodução/Instagram

Rogéria é mencionada em um gráfico do relatório do DFRLab como uma das integrantes dessa rede de propagação de desinformação, mas não teve os perfis deletados. O documento não traz detalhes sobre sua suposta atuação. Procurada por meio da assessoria do gabinete de Moraes, ela ainda não se manifestou.

Rogéria tem acompanhado Moraes e Alana Passos em manifestações de rua durante a pandemia de coronavírus —desrespeitando as normas sanitárias do Rio.

Em junho, Moraes também trouxe para seu gabinete Victor Granado Alves, advogado de Flávio Bolsonaro citado no depoimento do empresário Paulo Marinho sobre um suposto vazamento da Operação Furna da Onça. Ao jornal O Globo, Moraes afirmou que decidiu convidar Granado para integrar sua equipe por ser "alguém de confiança".

Apesar do atual alinhamento com bandeiras conservadoras, Moraes tem em seu passado político uma filiação ao PCdoB, sigla pela qual tentou se eleger vereador por Nova Iguaçu (Baixada Fluminense) em 2016. Na ocasião, ele usava o nome de "Anderson da Margareth", em alusão à sua mãe, Margareth Moraes, que foi vereadora da cidade por dois mandatos.

Autor de homenagens a policiais em sua atividade parlamentar, ele ostenta fotos ao lado de membros da família em suas redes sociais. Nas páginas, ele se descreve como uma pessoa "patriota, cristã e armamentista".

Alana Passos, única a receber apoio de Bolsonaro

Bolsonarista de primeira hora, Alana Passos foi a única candidata a deputada estadual pelo Rio que recebeu o apoio expresso de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018.

Enquanto seus colegas de partido disputavam aparições ao lado dos membros da família e tentavam criar vínculos com o movimento político representado por eles, Alana ostentava vídeos do hoje presidente da República pedindo votos para ela. Ela se tornou a terceira parlamentar mais votada da atual legislatura, com 106.253 votos.

Além da afinidade com o presidente e com o senador Flávio Bolsonaro, Alana é 2º sargento paraquedista do Exército —o presidente da República também foi paraquedista.

Única mulher eleita pela PSL para a atual legislatura da Alerj, ela assumiu o cargo prometendo se impor diante dos 11 homens eleitos pelo partido. Além de assumir protagonismo em bandeiras do seu mandato, como o combate à "ideologia de gênero", a militarização de escolas e a proteção jurídica para policiais, a parlamentar passou a ser cortejada por políticos que queriam se aproximar da imagem do clã Bolsonaro.

Marcelo Crivella (Republicanos), por exemplo, viu em Alana uma das figuras mais importantes quando resolveu buscar o apoio de Jair e Flávio e não perdeu a oportunidade de postar fotos ao lado da parlamentar.

Fiel à família, mesmo em meio às crises e denúncias envolvendo membros do governo, ela chegou a ser lançada como pré-candidata do partido à Prefeitura de Queimados, na Baixada Fluminense. Diante da ruptura dos bolsonaristas com a cúpula do PSL, porém, ela seguiu defendendo os ideais difundidos por eles.

Diante da briga de Bolsonaro com o governador Wilson Witzel (PSC), ela se aliou a Anderson Moraes para fazer requerimentos de informações como forma de retaliação.

Outro lado

Por meio de perfil no Twitter, Vanessa Navarro falou em perseguição política. "Ninguém disse que seria fácil, ou também que seria tão difícil, travamos um guerra contra um sistema cujo objetivo é exterminar o Presidente e seus apoiadores."

Por meio de nota, Anderson Moraes defendeu a assessora e criticou a exclusão de suas contas da rede social. "A remoção da conta [de sua assessora] foi absurda e arbitrária, porque postava de acordo com ideologia e aquilo que acreditava", afirmou o deputado.

"O Facebook em nenhum momento apontou o que estava em desacordo com as regras. [Por] Qual motivo excluíram? Falam em disseminação de ódio, mas será que também vão deletar perfis de quem desejou a morte do presidente?", questionou.

Leonardo Neto disse, em entrevista à CNN, que apenas um perfil pessoal de Vanessa foi derrubado. Segundo ele, a namorada também o usava para manifestar posicionamentos políticos pessoais.

Leonardo negou que ele e Vanessa administrassem contas falsas e que tivessem ligação com os perfis atribuídos a eles pelo relatório. Ele afirma não integrar grupos e que age de forma independente nas redes sociais desde 2016. "Atuo por minha própria conta. Não propago notícias inverídicas, não faço ataques a ninguém. As minhas publicações são totalmente patrióticas em defesa do governo sim, porque eu acredito no governo Bolsonaro", disse.

Anderson Moraes ressaltou não ter sido alvo das medidas do Facebook. O deputado sustenta ainda que as redes sociais "querem tolher a principal ferramenta da direita de fazer política".

Em nota, a deputada Alana Passos destaca que não sofreu nenhuma sanção nas redes sociais e afirmou que não pode responder pela conduta de assessores nesse sentido.

"Quanto a perfis de pessoas que trabalharam no meu gabinete, não posso responder pelo conteúdo publicado. Nenhum funcionário teve a rede bloqueada por qualquer suposta irregularidade. Estou à disposição para prestar qualquer esclarecimento, pois nunca orientei sobre criação de perfil falso e nunca incentivei a disseminação de discursos de ódio", disse.