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Vice representa Covas em encontro e defende modelo suspeito de creches

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

09/12/2020 14h11Atualizada em 10/12/2020 11h35

Escondido durante boa parte da campanha eleitoral por suspeita de se beneficiar de convênios da Prefeitura de São Paulo com creches terceirizadas, o vice-prefeito eleito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), participou hoje de um evento oficial pela primeira vez. Ao representar Bruno Covas (PSDB) em uma reunião virtual de prefeitos eleitos e reeleitos, Nunes defendeu o modelo de creche do qual é suspeito.

Um dos primeiros a falar, ele começou apresentando seu currículo. Mencionou o oitavo ano de mandado como vereador da capital, sua participação na Comissão de Finanças da Câmara e seu papel de relator de Orçamento "por várias vezes".

Depois de afirmar que a prefeitura paulista "conseguiu sanar todas as dívidas", ele falou da necessidade de "austeridade fiscal" ao defender o modelo paulista de administração de creches.

Segundo reportagens da Folha de S.Paulo, "Nunes é influente em entidades gestoras de creches terceirizadas e de donos de empresas locadoras dos imóveis onde funcionam as escolas ligadas a essas instituições, que são pagos pela administração municipal".

O jornal encontrou empresas ligadas a funcionários da prefeitura indicados por Nunes que fazem negócios entre si e também com as creches. Também há parentesco entre servidores ligados ao vice eleito e donos de empresas que faturam com aluguel e também com membros das entidades.

Ao longo da campanha, Nunes se defendeu dizendo que esses vínculos são com pessoas da mesma região em que vive, na zona sul de São Paulo, feitos antes de ter sido eleito vereador da cidade, a partir de 2012.

"Sabe quanto custa?"

No encontro de hoje, Nunes tocou no assunto espontaneamente ao afirmar que "queria compartilhar as parcerias público-privadas" do município.

"Um caso específico são as creches conveniadas. Temos hoje 85% das crianças das creches em sistemas de conveniamento", afirmou sobre os repasses da prefeitura para que entidades sem fins lucrativos administrem as creches.

Segundo Nunes, "o custo que a prefeitura paga por criança conveniada é de R$ 7.000 por ano".

"Sabe quanto custa na rede direta? R$ 21 mil", declarou o vice eleito ao afirmar que, se as 300 mil crianças em creches da capital "estivessem em atendimento direto, teríamos um custo de R$ 4 bilhões" por ano.

Se tivesse em sistema direto, ou teríamos só 100 mil [crianças] atendidas ou gastaria R$ 4 bilhões a mais por ano para manter crianças de forma direta.
Ricardo Nunes, eleito vice-prefeito de São Paulo

Em nota enviada à reportagem, Nunes disse que não se escondeu e que fez campanha 20 horas por dia. "O vice-prefeito eleito, Ricardo Nunes defende o modelo de creches conveniadas, sem o que não teria sido possível criar 80 mil vagas para atendimento das crianças de SP."

Em 2019, segundo O Estado de S. Paulo, a Nikkey Serviços, que tem entre as sócias a mulher e uma filha do vice eleito, recebeu R$ 50 mil para dedetizar oito creches ligadas à Acria (Associação Amigos da Criança e do Adolescente), supostamente controlada por aliados do vereador.

A assessoria de Nunes afirma que a "Acria não é chefiada por aliados do vereador", que a "relação do vereador com a entidade se deve pelo trabalho social que tem com dezenas de entidades" e que os serviços da Nikkey foram pagos a preço de custo em 2019 e, em 2020, foram "gratuitos".

Vacina: Prefeitos criticam governo federal

Ainda na reunião, promovida pela FNP (Frente Nacional de Prefeitos), os prefeitos eleitos e reeleitos criticaram a "falta de clareza" sobre as vacinas contra covid-19 e pediram mais agilidade na compra e distribuição dos imunizantes.

"É descabido que a União não se coloque, com clareza e efetividade, à frente desse processo para proteger os cidadãos brasileiros e garantir acesso universal à saúde, como determina a Constituição de 1988", cobrou a entidade em nota oficial divulgada após uma reunião. "A cada dia que passa são centenas de pessoas que perdem a vida pela doença."

Um dia antes, governadores se reuniram com o Ministério da Saúde e fizeram cobrança semelhante. Eles pediram que nenhuma cidade ou estado comece a vacinação em datas diferentes.

"Não é razoável que algumas cidades e estados tenham que lançar mão de estratégias locais de aquisição de vacinas para proteger a população porque o governo federal procrastinou assunto tão importante", cobrou a FNP. "Imunizar os brasileiros é devolver ao povo a liberdade de conviver."

Planos de vacinação

Na segunda (7), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou a primeira fase do plano estadual de vacinação contra a covid-19, que começaria em 25 de janeiro no estado, dando prioridade a profissionais de saúde, indígenas, quilombolas e idosos. O objetivo é usar a CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.

Já o Ministério da Saúde divulgou na semana passada uma versão preliminar do PNI (Plano Nacional de Imunização) contra o novo coronavírus, mas ainda não fixou um cronograma. Hoje, o ministro Eduardo Pazuello afirmou, em entrevista, que a vacinação pode começar entre o fim de janeiro e o início de fevereiro, o que seria uma terceira data diferente sugerida em duas semanas.

Ontem, ele falou que o início de uma campanha nacional de vacinação estava previsto para o final de fevereiro, com doses do imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford e pelo laboratório AstraZeneca. Na semana passada, a expectativa era que o plano começasse em março, embora o governo não tivesse oficializado uma data.

Apesar das discussões sobre o calendário, nenhuma vacina foi aprovada ainda pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Quatro estão em teste no Brasil.