Baixo Clero: faltam ao governo estratégias para vacina e retomada econômica
As respostas à pandemia do novo coronavírus no Brasil e nos Estados Unidos têm sido parecidas. Tanto Donald Trump, presidente norte-americano, quanto Jair Bolsonaro (sem partido) "menosprezaram a covid-19", na opinião do colunista do UOL Kennedy Alencar. Para ele, a única diferença entre os dois países é que, ao contrário dos EUA, falta estratégia nacional para vacina no Brasil.
"Hoje, a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] está chegando num modelo parecido com o que está acontecendo nos EUA, para autorizar um uso emergencial assim que tiver uma vacina eficaz e segura disponível. A diferença é que aqui não tem plano nenhum de vacinação, enquanto lá [EUA] já há uma pré-compra de várias empresas. Ou seja, os Estados Unidos estão muito mais bem preparados com a compra de agulhas, seringas, com toda a logística de vacinar a população do que o Brasil está. O Brasil ainda não tem nenhum plano", disse Kennedy. (Ouça a partir do minuto 3:55)
A declaração foi feita hoje, no podcast Baixo Clero #69, apresentado por Carla Bigatto e com a participação dos colunistas do UOL Kennedy Alencar e Maria Carolina Trevisan.
Kennedy faz referência ao anúncio da Anvisa, que liberou novas regras que autorizam o uso emergencial e em caráter experimental de vacinas contra o novo coronavírus. Dessa forma, a agência poderá analisar pedidos de laboratórios e conceder ou não autorização temporária para aplicação de doses.
O colunista afirma que o processo, agora, é similar ao que foi feito pelo FDA (Food and Drug Administration), a agência regulatória dos EUA. "Essa vacina da Pfizer está com aprovação de uso emergencial. Então os processos da Anvisa e do FDA são muito parecidos. O registro definitivo da vacina demanda mais tempo, demanda meses, mas por causa da pandemia, e dessa situação específica toda, o governo Trump pressionou as empresas, começou uma corrida para se fazer alcançar as vacinas e o órgão regulador se preparou para essa aprovação emergencial", disse. (Ouça a partir do minuto 03:05)
Os colunistas também discutiram a versão preliminar do PNI (Plano Nacional de Imunização), divulgada pelo Ministério da Saúde, que prevê prioridade a profissionais de saúde, idosos, indígenas, professores e forças de segurança, mas não confirma quando será o início da vacinação no país. Isso tem causado uma confusão, pois o ministro Eduardo Pazuello e sua equipe já citaram pelo menos três datas em duas semanas.
Maria Carolina Trevisan afirmou que o cenário mostra uma incompetência de gestão. "Nosso governo mostra com muita clareza a incompetência em gerir a crise sanitária mais uma vez. A gente está assistindo toda essa incompetência durante todo o ano. O governador João Doria [PSDB-SP] sai na frente com a razão porque ele é o governador e tem também a responsabilidade. Ele podia lidar com isso com menos arrogância, talvez de forma mais política teria sido mais interessante até para ele", disse Trevisan. (Ouça a partir do minuto 6:18)
Na última segunda (7), Doria, adversário político de Bolsonaro, lançou o PEI (Plano Estadual de Imunização), que conta com a CoronaVac, a vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo paulista —mas que ainda não foi registrada pela Anvisa. No programa estadual, a vacinação começa em 25 de janeiro.
"As respostas dos dois países [EUA e Brasil] à pandemia são muito parecidas: falta uma estratégia nacional. Presidente Trump e presidente Bolsonaro menosprezaram a covid-19. Mas na questão da vacina tem uma diferença muito grande, desde o começo o Trump pressionou e queria acelerar a vacina. Se dependesse do Trump, da vontade dele, a vacina teria sido autorizada e colocada à disposição do público em 3 de novembro, no dia da eleição. Lá, o FDA enfrentou uma pressão ao contrário daqui. Aqui o presidente Jair Bolsonaro faz uma pressão sobre a Anvisa lançando dúvidas sobre a eficácia da vacina", disse Kennedy. (Ouça a partir do minuto 2:10)
Nesta edição do podcast de política do UOL, Carla Bigatto e os colunistas também falaram sobre a confirmação da condenação de Robinho por violência sexual, Jair Renan Bolsonaro e a tal festa promovida por uma prestadora de serviços do governo, a disputa no Congresso Nacional pelas presidências da Câmara e do Senado e a recente demissão de Marcelo Álvaro Antônio do Ministério do Turismo.
Baixo Clero está disponível no Spotify, na Apple Podcasts, no Google Podcasts, no Orelo, no Castbox, no Deezer e em outros distribuidores. Você também pode ouvir o programa no YouTube. Outros podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts.
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