Ala do PSOL defende Erundina como candidata a presidente da Câmara
Uma ala da bancada do PSOL na Câmara defende lançar a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) como candidata à Presidência da Casa.
O grupo quer que os partidos de esquerda tenham uma candidatura própria na disputa e expôs o racha interno por meio de uma carta. Nem toda a bancada do PSOL concorda com a iniciativa, inclusive a líder do partido na Câmara, deputada Sâmia Bomfim (SP). Ela prefere que o PSOL siga a maioria das siglas de esquerda e se junte ao candidato Baleia Rossi (MDB-SP).
Metade dos dez parlamentares da bancada que assina o documento acredita que a escolha da maioria dos partidos de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em apoiar a candidatura de Baleia é um "enorme risco" para a esquerda.
A carta se foca na defesa da candidatura própria da esquerda e não cita Erundina, mas seu nome foi tido como mais viável em reuniões. O documento foi enviado à Executiva Nacional da sigla e seu nome será proposto. A direção do PSOL deve se reunir na próxima sexta para uma decisão.
"Conversamos e a Erundina se dispôs. Ela tem mais simbologia, mais apelo para tirar votos na esquerda no geral. [...] A gente pode até aceitar [uma candidatura] que seja de outra na oposição, se aparecer um nome, mas, como os partidos já fecharam, vamos apresentar o nome da Erundina como alternativa", disse Ivan Valente (PSOL-SP), um dos que subscrevem a carta.
O deputado estima que Erundina consiga atrair votos de integrantes da esquerda insatisfeitos com as decisões dos respectivos partidos em apoiar Baleia e que até 80% dos membros da Executiva topem uma candidatura própria da oposição. No caso, a tendência é que optem por Erundina. A eleição interna da Câmara está prevista para o dia 2 de fevereiro. O voto será secreto.
A carta é intitulada "A esquerda precisa ter voz na eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados" e é assinada por Áurea Carolina (MG), Glauber Braga (RJ), Ivan Valente (SP), Luiza Erundina (SP) e Talíria Petrone (RJ).
Para o grupo, o apoio a Baleia pode "prejudicar o avanço e a presença das propostas da esquerda no debate sobre o papel da Câmara dos Deputados na defesa da democracia e no enfrentamento à crise brasileira".
Mesmo assim, afirma que Arthur Lira (Progressistas), candidato do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), não terá votos do PSOL.
Os deputados do PSOL sabem que sozinhos não chegam perto de ter votos nem para passar a um eventual segundo turno. Portanto, essa candidatura seria mais para marcar posição.
O bloco de Baleia Rossi conta hoje com 11 partidos, tanto de centro quanto de esquerda — MDB, PSDB, DEM, PSL, Cidadania, PT, PSB, Rede, PCdoB, PDT e PV. As siglas ao lado dele somam 261 parlamentares.
Com uma candidatura de esquerda, o grupo do PSOL quer colocar ainda em debate propostas que vão do retorno do auxílio emergencial ao impeachment de Bolsonaro.
"Todos eles [outros candidatos] participaram, direta ou indiretamente, do golpe parlamentar que trouxe o Brasil à crise que vivemos e, portanto, não têm condições de assumir esses compromissos por serem adversários da mudança", diz trecho da carta. "Embora se portem de maneira distinta em relação ao governo Bolsonaro, todos são artífices do 'centrão' e defensores da agenda ultraliberal de desmonte do Estado e degradação sistêmica das políticas de proteção social."
Para essa ala da bancada, "derrotar o candidato de Jair Bolsonaro é uma das tarefas indispensáveis desta eleição". "Mas isso pode ser feito no segundo turno, optando por apoiar - em melhores condições para afirmar elementos de uma agenda de esquerda - o candidato que contra ele disputar."
Os parlamentares dizem que "é preciso dar voz e fisionomia à esquerda brasileira na disputa pela presidência". "Certamente, saberemos encontrar aliados nesta tarefa tão importante dentro da Câmara dos Deputados."
O texto ainda cutuca Baleia, apontando que, "diante de um momento tão dramático, com a pandemia dando sinais de resiliência graças ao negacionismo criminoso de Bolsonaro, acreditamos que não devemos abrir mão de apresentar bandeiras tão caras à nossa história aderindo a uma frágil promessa de independência em relação ao Palácio do Planalto". "Aqueles que sustentam a agenda ultraliberal de Paulo Guedes não merecem esse voto de confiança", disse.
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