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Araújo foi 'executor fiel' de Bolsonaro e caiu pelo conjunto, diz Ricupero

Para Rubens Ricupero, "conjunto da obra" fez Ernesto Araújo deixar Itamaraty   - Eduardo Knapp - 8.mai.15/Folhapress
Para Rubens Ricupero, "conjunto da obra" fez Ernesto Araújo deixar Itamaraty Imagem: Eduardo Knapp - 8.mai.15/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

30/03/2021 09h02

O diplomata e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero disse, em entrevista à revista Época, que Ernesto Araújo foi um "executor fiel" do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e deixou o comando do Itamaraty pelo "conjunto da obra".

Para Ricupero, o ex-chanceler "tem muita culpa", mas é preciso cuidado para "não transformá-lo em um espírito do mal" do governo.

"Os ataques recaíram sobre ele porque ele é um cachorro morto, que todos podem dar pontapés. Se há uma coisa que não se pode dizer é que ele não agiu com lealdade. Ele foi um executor fiel do presidente até o fim", disse.

Neste cenário, Rubens Ricupero atribui a queda ao "conjunto da obra, pela totalidade do que fez". Assim, em sua visão, a versão de que sofreu pressão em relação à tecnologia 5G serviu apenas de pano de fundo para a sua saída.

"A versão criada foi para que ficasse bem com os seguidores do Olavo de Carvalho, seu guru', disse Ricupero, referindo-se à mensagem de Twitter do ex-chanceler dizendo que a senadora Kátia Abreu (PP-TO) fez um suposto lobby a favor da China em um encontro entre os dois.

A manifestação de Ernesto no fim de semana gerou forte reação de senadores. Ontem pela manhã, o ex-chanceler pediu demissão. Durante a tarde, foi confirmada a sua substituição por Carlos Alberto Franco França.

"Descolamento da realidade"

Para Ricupero, um balanço da gestão de Ernesto Araújo à frente do Itamaraty não pode ser dissociada de Bolsonaro.

"O primeiro grande erro não se deve apenas a Ernesto Araújo, mas ao presidente: o descolamento da realidade do Brasil e do mundo", disse Ricupero.

Para o diplomata, a partir dessa visão de mundo, foi feito "um diagnóstico errado e uma terapêutica absurda" que culminou em uma "lista de erros interminável".

O maior erro, em sua visão, foi a relação com a China. "Em ordem de importância, o governo começou hostilizando a China. O chanceler fez isso, mas não foi o único. Eduardo Bolsonaro, e o próprio presidente cometeram erros maiores. Todos antagonizaram muito com um país, que já foi muito humilhado por Ocidentais mas hoje não leva desaforo para casa", disse.