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Josias: Governo apanha outra semana na CPI com depoimentos de ex-ministros

Do UOL, em São Paulo

17/05/2021 10h00Atualizada em 17/05/2021 11h54

Com depoimentos do ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, e do ex-ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o governo federal "vai apanhar pela 3ª semana seguinte" na CPI da Covid, diz o colunista de política do UOL Josias de Souza.

"Nas últimas duas semanas, todos os depoimentos da CPI resultaram em desastres para o governo, mesmo depoimentos que tentaram protegê-lo", afirmou ele ao UOL News. "O governo [do presidente Jair] Bolsonaro vai apanhar na CPI indefeso. Há um pequeno pelotão tentando defender o presidente, mas não tem conseguido porque os fatos se impõem".

O mais curiosa é que Bolsonaro tem se transformado em coadjuvante de um espetáculo que é estrelado por protagonistas que ele próprio selecionou".
Josias de Souza sobre CPI da Covid

Segundo o colunista, o principal depoimento dessa semana será de Eduardo Pazuello, que conseguiu no STF (Supremo Tribunal Federal) o direito de permanecer em silêncio, isto é, de não responder a perguntas que possam, de alguma forma, incriminá-lo. O ex-ministro está proibido, porém, de mentir sobre todos os demais questionamentos.

"A chance do governo se sair bem nesses dois depoimentos [Pazuello e Ernesto] é nula. Pior é que estão sob a mesa um lote de [pedidos] para a quebras de sigilo que vão desde Carlos Bolsonaro até Fabio Wajngarten e inclui Felipe Martins, assessor internacional de Bolsonaro, Élcio Franco, número dois da Saúde, e Marquinhos Show, marketeiro que trabalhava assessorando Pazuello na Saúde".

Para Josias, dos personagens, Carlos Bolsonaro é o mais "encrespado". "Se a CPI avança contra ele, o presidente sai do sério. O que se pretende contra Carlos é a quebra de sigilo telefônico e telemático, que inclui mensagens de e-mail e WhatsApp. A quebra de sigilo pode ser muito complicada para a família Bolsonaro".

Ernesto Araújo deve ser duramente questionado e criticado por senadores na CPI. Ele não conta com a simpatia nem dos governistas, mas não deve ser exageradamente alvejado por estes para que a ação não respingue no Planalto.

Ao longo da pandemia, Ernesto fez críticas à China enquanto o Brasil dependia de um bom relacionamento com o país asiático para a chegada de insumos e vacinas. Na avaliação de grande parte dos senadores, Ernesto não acionou o Itamaraty como deveria para pedir ajuda a outros países. A diplomacia sob sua gestão, como um todo, foi severamente contestada, até dentro do ministério.

Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que, mesmo após alertas sobre a cloroquina, Ernesto mobilizou o Itamaraty para garantir o fornecimento do medicamento ao Brasil. Outro fato criticado por políticos foi a viagem de Ernesto e comitiva a Israel para conhecer detalhes de uma vacina em teste e de spray nasal contra a covid-19. A visita foi estimada em ao menos R$ 400 mil, como revelou o UOL, e não resultou em nenhum acordo.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.