Topo

CPI: Pazuello é acusado de mentir sobre avião, e advogado orienta silêncio

Luciana Amaral e Gilvan Marques

Do UOL, em Brasília e São Paulo*

19/05/2021 16h42

A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) acusou o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello de mentir em relação à ajuda de um avião para transportar oxigênio oferecida pelos Estados Unidos, durante crise ocorrida em Manaus (AM), em janeiro. O advogado da AGU (Advocacia-Geral da União) orientou o ex-ministro a ficar em silêncio.

"Nunca chegou essa oferta a mim para que eu aceitasse ou não. Eu soube do avião americano, mas não chegou a mim", disse Pazuello. "Com todo respeito, ministro, mas eu acho que o senhor está brincando com a nossa cara aqui na CPI. O senhor já mentiu demais nessa comissão", rebateu a senadora.

A parlamentar então citou o caso do cargueiro oferecido pelo governo dos EUA, e apontou documento expedido pelo Ministério da Saúde que explicava o motivo de não ter aceitado a aeronave.

"Tá aqui uma documentação que foi feita pelo próprio Ministério da Saúde. E aqui fala claramente por que não atendeu ao pedido", disse a senadora.

Um advogado da AGU que acompanha o ex-ministro se levantou e caminhou em direção ao senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da comissão, que respondeu.

"Lógico. É melhor ele [Pazuello] ficar em silêncio mesmo, porque a explicação do ministério não bate com a dele. Até para não passar por constrangimento depois", disse Aziz.

Reportagem publicada pelo UOL, em janeiro, mostrou que o Ministério da Saúde e o governo do Amazonas receberam ofertas de três aeronaves, duas da ONU (Organização das Nações Unidas) e uma do governo dos Estados Unidos (EUA), para transportar de forma mais rápida oxigênio até o Amazonas. A ajuda foi oferecida nos dias 16 e 18 de janeiro.

A autorização para a utilização destes aviões, que deveria ser dada pelo governo federal, seguia sob análise uma semana depois, segundo apurou o UOL.

O UOL teve acesso a uma troca de e-mails entre a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas e a representante do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) no Brasil, Florence Bauer. Nela, os representantes do estado têm a confirmação de apoio logístico para o transporte de oxigênio com a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) por via aérea. Ambos os órgãos são ligados à ONU.

No e-mail do dia 16 de janeiro, Bauer informa que dois cargueiros (Boeing 767 e Boeing 737) foram oferecidos ao Ministério da Saúde. "Espero que possa ser viabilizada rapidamente junto ao ministério", afirma a representante do Unicef na mensagem.

Investigação

A CPI da Covid foi criada para apurar as ações do governo federal no enfrentamento da pandemia da covid-19, que já matou 428.256 pessoas no Brasil, de acordo com dados do consórcio, do qual o UOL faz parte. Os depoimentos dos ex-ministros da Saúde do governo Bolsonaro devem ajudar a esclarecer se a gestão federal poderia ter adotado outras medidas para frear o avanço do número de casos do coronavírus no País.

No último dia 4, Pazuello havia alegado aos parlamentares que não poderia comparecer presencialmente à CPI sob a justificativa de que assessores próximos haviam se contaminado com a covid-19. O seu depoimento —que estava marcado para o dia posterior— então foi remarcado para esta quarta-feira.

A convocação de Pazuello atende a requerimentos aprovados, com pedidos do relator Renan Calheiros (MDB-AL), do vice-presidente Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).

*Colaborou Ana Carla Bermúdez

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.