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Protestos crescerão se Bolsonaro não brecar 'pulsão de morte', diz Renan

Senador Renan Calheiros usou um conceito do psicanalista austríaco Sigmund Freud para definir atitude do presidente quanto à pandemia - Adriano Machado/Reuters
Senador Renan Calheiros usou um conceito do psicanalista austríaco Sigmund Freud para definir atitude do presidente quanto à pandemia Imagem: Adriano Machado/Reuters

Rafael Neves e Rafael Bragança

Do UOL, em Brasília e São Paulo

30/05/2021 17h49

O senador e relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), disse hoje que viu os protestos realizados ontem pelo Brasil como uma reação às atitudes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ante a pandemia de covid-19.

Para Renan, caso Bolsonaro não mude sua postura, principalmente quanto à promoção de aglomerações, as manifestações se tornarão ainda maiores.

Renan usou o termo "pulsão de morte", criado pelo psicanalista austríaco Sigmund Freud há cerca de um século. No conceito de Freud, a pulsão de morte pode ser descrita como um impulso direcionado à destruição, com valorização à agressividade.

Se o presidente da República não parar com essa pulsão de morte, cada vez mais as pessoas irão às ruas, pelo desespero e pelo agravamento da doença.

Renan Calheiros (MDB-AL), senador e relator da CPI da Covid

Para o senador, mais do que um provável desgaste do governo Bolsonaro, milhares de pessoas foram às ruas ontem movidas por indignação com a gravidade da pandemia, que pode se encaminhar para uma terceira onda com a circulação de novas variantes do coronavírus e apenas cerca de 10% da população vacinada com duas doses.

"Esses atos não aconteceram para acelerar o desgaste do governo, não. Eles são consequência desse clamor de pessoas que perderam entes queridos, outras que estão sequeladas e outros que estão com medo de morrer, já que o governo não comprou vacina na hora certa", afirmou Renan

O senador também fez uma diferenciação entre os atos organizados por forças políticas e sociais de esquerda e aqueles que foram realizados recentemente, em apoio a Bolsonaro.

Pelo que vi as pessoas usavam máscaras e guardavam distância. Foi uma manifestação pela vida, diferentemente daquelas que são convocadas pela pulsão de morte do presidente da República.

Renan Calheiros (MDB-AL), senador e relator da CPI da Covid

Ontem, os atos contra o governo Bolsonaro foram realizados em todos os estados e no Distrito Federal. Além das críticas à gestão federal da pandemia, os protestos tiveram como tônica a defesa do impeachment do presidente. Segundo os organizadores, os atos aconteceram em 213 cidades no Brasil e 14 cidades no exterior, com a presença de mais de 420 mil pessoas.

CPI deveria conter Bolsonaro

Para o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a condução do governo no combate à pandemia, apesar de os senadores terem avançado na investigação sobre o atraso na vacinação e a falta de coordenação federal, a CPI ainda não conseguiu conter o ímpeto de Bolsonaro em continuar provocando aglomerações.

No último domingo (23), ao lado do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, o presidente participou de um passeio de motociclistas no Rio de Janeiro. Sem usar máscara facial, ele provocou aglomerações e ainda discursou em cima de um carro de som.

"O presidente continua fazendo tudo que está fazendo, e nesse sentido a CPI não tem cumprido seu papel, porque as CPIs se instalam e são criadas exatamente para investigar e para estancar aquelas coisas que estão ocorrendo", disse Renan hoje em entrevista à GloboNews.

O presidente da República continua fazendo as mesmas coisas. E entra no STF [Supremo Tribunal Federal] para pedir autorização para continuar aglomerando, o que faz todos os dias. Por que ele faz isso? É por negligência e irresponsabilidade? Sinceramente, acho que não, acho que faz isso porque ele, com muita veemência, sempre defendeu a necessidade de deixar o vírus caminhar para elevar o contágio da população, ele até falou que algumas mortes podem acontecer, mas que são normal, porque a imunização será uma imunização natural.

Renan Calheiros (MDB-AL), senador e relator da CPI da Covid