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Bolsonaro elogia Pazuello, ataca Mandetta e nega interferência no Exército

Jair Bolsonaro e o ministro Milton Ribeiro em live - Reprodução/Facebook/Jair Messias Bolsonaro
Jair Bolsonaro e o ministro Milton Ribeiro em live Imagem: Reprodução/Facebook/Jair Messias Bolsonaro

Do UOL, em São Paulo

03/06/2021 20h06Atualizada em 03/06/2021 22h10

Ao lado do ministro da Educação Milton Ribeiro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) comentou indiretamente, durante live na noite de hoje, a notícia de que foi arquivado o processo disciplinar a que estaria sujeito o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, por ter participado de ato a seu lado no último dia 23.

A punição existe nas Forças Armadas, ninguém interfere. A decisão é do chefe imediato, e a disciplina só existe porque o nosso código é rígido. Mas já aconteceu."
Jair Bolsonaro, ao lembrar que ele próprio já foi condenado quando servia a 15 dias de encarceramento.

Conforme o UOL revelou, Bolsonaro se reuniu há uma semana com Comandante do Exército, general Paulo Sérgio, no Amazonas, para conversar sobre o tema.

Pazuello x Mandetta

Sem ter sido mencionado até então, o general que já chefiou a Saúde foi citado apenas mais tarde, quando o presidente falou sobre a assinatura de um acordo para a transferência de tecnologia de produção de vacinas com a Astrazeneca e a Fiocruz. Por mais de uma vez, o presidente fez críticas a seu antigo ministro da mesma pasta, Luiz Henrique Mandetta.

Começou com quem? Com o Pazuello lá atrás. O nosso ministro da saúde, que acabou o tempo -- não que acabou o tempo, chegou no limite dele. Achamos melhor colocar alguém mais técnico, mais voltado para a saúde em si. Tinha que ser feito muita coisa, tinha muita coisa errada. Quem foi demitido foi o Mandetta. Aquele do protocolo do vai para casa, se sentir falta de ar, vai para o hospital ser intubado.
Jair Bolsonaro

Mandetta foi demitido em abril do ano passado após protagonizar embates públicos com o presidente por conta de discordâncias na condução do combate à pandemia.

O presidente também negou que tenha sido contra vacinas durante a sua gestão. "As pessoas me acusam de ser contra a vacina. Eu fui contra a vacina obrigatória. Não sou negacionista." Mesmo assim, voltou a usar dados incorretos e interpretações equivocadas sobre a evolução do combate à pandemia no país e o número de pessoas vacinadas, conforme o UOL já explicou.

Usaram meu vídeo dizendo que era uma gripezinha. Eu disse que era uma gripezinha para mim, com meu porte de atleta."
Jair Bolsonaro

A fala acontece um dia depois de o presidente fazer um pronunciamento em rede nacional de TV e rádio em que usou muitos dos argumentos já presentes nas suas lives semanais nas redes sociais. Seu objetivo, além de exaltar as ações do governo federal no combate à pandemia — que enfrentam dura análise da CPI da Covid, no Senado —, é defender-se de algumas das críticas que apareceram nos recentes protestos pelo Brasil.

A aparente mudança de discurso, porém, não impediu que Bolsonaro voltasse a fazer apologia velada ao uso da cloroquina, que não tem comprovação científica contra a covid-19, e fazer insinuações críticas sobre medidas de restrição de circulação e até ao uso de máscaras.

O que a esquerda quer? Que eu seja punido em cada processo apontado contra mim. O que eu gostaria que acontecesse? Que fosse feita Justiça. [...] O que a oposição espera que aconteça? Que eu seja condenado. Eu duvido [haver] alguém que já não tenha sido acusado. Mas o ônus da prova cabe a quem acusa."
Jair Bolsonaro

Mais cedo ou mais tarde, isso virá à tona, verão que milhares de pessoas poderiam estar entre nós, vivas, se o outro lado não politizasse isso. Eu não politizei isso, não politizei isso. Quem politizou foi o outro lado, quem diz para não tomar e não dar outra alternativa, são eles."
Jair Bolsonaro

CPI da Covid e nova apologia a cloroquina

Em mais uma ocasião, o presidente criticou ainda os trabalhos da CPI da Covid, que apura as ações do governo federal frente ao combate à pandemia. Além de afirmar que a CPI perde "a chance de ser útil", criticou nominalmente nomes como o do senador Omar Aziz e do relator Renan Calheiros.

Uma figura desqualificada como Renan Calheiros, ou Otto [Alencar], ou Omar Aziz. Não tem cabimento. CPI é coisa séria. No passado, CPIs eram coisas sérias. Pessoal acha que com uma CPI vai derrubar o presidente. Vai derrubar por quê? Tão apurando desvios de recursos? Não, né, até porque o Renan falou que essa CPI não será usada para apurar desvios de recursos."
Jair Bolsonaro

Na opinião do presidente, temas como o lockdown na Argentina — "de fazer inveja a Hugo Chávez" — deveriam ser mais presentes.

"Ficam lá três marmanjos, Renan Calheiros, PhD em inquéritos no supremo, o Omar Aziz, que conhece tudo de saúde no seu estado, acusado de um monte de coisa, e o outro lá, e aquela pessoa lá do Amapá, outro senador [provavelmente, Randolfe Rodrigues], ficam maltratando pessoas que falam o que eles não gostam de ouvir, inclusive duas mulheres. Nise Yamaguchi e Mayra, duas excepcionais profissionais, entendem do assunto, que defendem o tratamento imediato."

Eu não aceitaria ser convidado para CPI por Renan Calheiros. Quer convocar? É o poder da CPI convocar. Agora, aceitar convite para ser inquirido por uma figura desqualificada como Renan ou Otto? Ou Omar? Não tem realmente cabimento isso aí.
Jair Bolsonaro

Bolsonaro foi especialmente cuidadoso em não mencionar termos como "tratamento precoce" e "cloroquina", temas defendidos por ele ao longo de toda a pandemia e alvo da CPI por tratar-se de prática e medicamentos sem comprovação científica. Mesmo sem dizer o nome, fez nova apologia ao uso da substância

Aquela pessoa que é contra o tratamento imediato e não dá alternativa é no mínimo canalha. Eu tomei aquele remédio -- não vou falar aqui para não cair a live. Senti mal há poucas semanas, tomei o mesmo remédio. No dia seguinte, fiz o teste, e, por coincidência, não estava infectado. Se estivesse, apontaria. E tudo bem. E quase 200 pessoas da presidência que foram contaminadas tomaram aquele remédio."
Jair Bolsonaro

Uso de máscaras e novo ataque à CPI

Já sobre o uso de máscaras para a contenção da covid-19, o presidente citou uma fala antiga do epidemiologista americano Anthony Fauci, classificado por ele como o "Mandetta brasileiro" em referência às críticas que faz a ambos por defenderem medidas de restrição e serem contra a adoção de medicamentos sem comprovação científica.

"O que ele [Fauci] diz: 'a máscara é para ser usada por quem está infectado'. A nossa linha, nosso protocolo é de quem está infectado, fique em casa. Eu fiquei em casa 9 dias. Então, aqui dá a entender que quem está infectado por ir à rua, de máscara." Fauci, no entanto, disse isso apenas no início da pandemia em 2020. Quando a pandemia começou a se agravar, o governo americano passou a defender o uso de máscara para todos.

Agora, milhões de mascaras são compradas diariamente no Brasil. Isso é muito bom. Muito bom para quem ou está iludido, está bem informado ou está seguindo protocolo equivocado. Não vou dizer se você tem de usar ou não a máscara. Apenas que a CPI está apurando porque eu estou usando ou não a máscara."
Jair Bolsonaro

Passeios e motociata

No início da transmissão, o presidente mencionou a ida a Formosa, em Goiás. "Confesso que foi bastante proveitosa, fiz contato com a população, tem uns vídeos correndo na internet, fiquei feliz com o passeio." Pela manhã, ele havia dito a apoiadores que "apesar dos problemas, o Brasil está indo bem", e já havia criticado a CPI.

Em maio, o presidente já havia respondido com um "não interessa" quando o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), fez requerimento sobre sua participação em aglomerações e a falta de uso de máscaras.

Sem fazer referência direta às críticas que tem recebido por conta de atitudes como essa — e que dizem respeito à crise com o Exército por conta da participação de Pazuello em um deles —, Bolsonaro anunciou um novo evento:

Está sendo anunciado nas redes sociais um grande encontro de motociclistas em SP. Eu pretendo participar. Chegaram convites, vou participar como motociclistas, não tô organizando nada. A previsão é ter o dobro de motociclistas do RJ. Quanto deu no Rio? 20 mil. Então 40 mil. São Paulo tem um potencial do triplo de motociclistas do RJ, tudo pode acontecer.
Jair Bolsonaro

No Rio, o movimento foi o primeiro encontro de motociclistas com o presidente. Pela liberdade e apoio ao presidente Bolsonaro. Alguma coisa política nisso? Tinha alguma bandeira vermelha lá? Acho que ninguém tem coragem de levantar bandeira vermelha naquele povo, né. Tem alguma bandeira de partido político? É dia 12, dia dos namorados, em São Paulo.
Jair Bolsonaro