Saúde marcou reunião com Davati sobre vacinas em apenas 5h, diz TV
Emails obtidos pelo "Fantástico", da TV Globo, revelam que o Ministério da Saúde marcou reunião com a Davati Medical Supply, menos de cinco horas depois de receber a proposta da empresa para aquisição de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca. O programa também teve acesso a mensagens enviadas por Luiz Paulo Dominghetti, suposto representante da Davati, autor da denúncia de um esquema de corrupção na compra de imunizantes.
Segundo a reportagem, Hernan Cardenas, diretor da Davati, encaminhou email a Roberto Dias, diretor de Logística do Ministério da Saúde, lhe oferecendo as doses da vacina no dia 26 de fevereiro. Às 10h30, o governo brasileiro respondeu marcando uma reunião para menos de cinco horas depois.
Este ministério manifesta total interesse na aquisição das vacinas. Agendar uma reunião, hoje, às 15h Email do Ministério da Saúde em resposta à Davati
Nos chama a atenção essa rapidez com que a Davati acessou os altos escalões do Ministério da Saúde. Se metade da celeridade que o governo teve com a Davati tivesse tido com a Pfizer, a gente tinha brasileiros imunizados desde dezembro."
Vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues, em entrevista ao "Fantástico"
Dominghetti relatou à Folha de S.Paulo um esquema de corrupção na compra de 400 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca. Ele disse que o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina de US$ 1 por dose de vacina, em 25 de fevereiro, um dia depois de o Brasil bater a marca de 250 mil óbitos pela covid-19.
Na CPI, além de reafirmar as denúncias feitas ao jornal, o vendedor autônomo exibiu ainda um áudio sugerindo que o deputado Luiz Miranda (DEM-DF), que diz ter alertado o presidente Bolsonaro sobre as irregularidades na compra de outra vacina, a Covaxin, também havia tentado adquirir vacinas com a Davati.No entanto, não é possível ter certeza sobre quais assuntos tratavam na ocasião.
Luis Miranda afirma que os diálogos do áudio são de outubro do ano passado e não se referem à negociação de vacinas, mas, sim, de luvas cirúrgicas. Ele, inclusive, registrou em um cartório de Brasília conversas mantidas por meio do aplicativo WhatsApp que abordavam, de acordo com o parlamentar, negociações para aquisição de luvas hospitalares com o objetivo de desmentir a versão dada por Dominguetti.
O empresário Cristiano Alberto Carvalho, representante da empresa Davati Medical Supply no Brasil, disse ao jornal O Globo que Luiz Paulo Dominghetti "quer aparecer" e que a mensagem se trata "sobre os negócios dele [Luis Miranda] nos EUA". Disse, também, que o áudio citado durante o depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito não tem nenhuma relação com a Davati.
Por meio de nota, a Davati infomou não ser representante do laboratório AstraZeneca. "[A emrpesa] jamais se apresentou ao governo federal ou a qualquer outro órgão como tal. Como esclarece o documento de oferta (Full Corporate Offer) feita ao Ministério da Saúde, a Davati Medical Supply não detinha a posse das vacinas, atuando na aproximação entre o governo federal e "allocation holder" que possuía créditos vacinas do laboratório AstraZeneca".
Mensagens em celular de Dominghetti
Luiz Paulo Dominghetti teve o seu celular aprendido no dia de seu depoimento à CPI da Covid, depois de divulgar áudio tentando envolver o deputado Luiz Miranda. O "Fantástico" divulgou parte do material periciado.
Segundo os investigadores, mensagens encontradas no celular do vendedor indicam que ele negociava uma comissão US$ 0,25 por dose de vacina. À CPI, ele havia dito uma comissão de US$ 0,20.
Estamos negociando algumas vacinas em números superior a três milhões de doses. Neste caso, a comissão fica em 0,25 cents de dólar por dose. Tenho que me informar se (...cortada) Que estamos fazendo, e pegar o volume da comissão e dividirmos de forma igual a todos envolvidos. Claro que proporcionalmente aos grupos. Dominghetti, em mensagem
Outras mensagens encontradas no celular indicam que a Davati tentava negociações com estados, como Amazonas, e também oferecia outras vacinas, como a Sputnik.
Reverendo negociou compra de vacina
Ontem, o "Jornal Nacional" já havia revelado que o diretor de Imunização do Ministério da Saúde, Lauricio Monteiro Cruz, deu aval para que o reverendo Amilton Gomes de Paula, que preside a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (ou Senah), negociasse a compra de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca em nome do governo brasileiro com a empresa Davati Medical Supply.
Segundo a reportagem, Monteiro Cruz enviou mensagem no dia 23 de fevereiro e tendo como assunto principal: "lista de presença e carta de proposta para fornecimento".
Inicialmente agradecemos a disponibilidade da Senah, representada por sua pessoa (...) Na apresentação da proposta comercial para fornecimento de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca. Todos os processos de aquisição de vacinas no âmbito do Ministério da Saúde estão sendo direcionados pela Secretaria Executiva Trecho de email enviado por Monteiro Cruz, diretor de Imunização do Ministério da Saúde
Nove dias depois, no dia 4 de março, o reverendo publicou a foto de uma reunião no Ministério da Saúde. O diretor da pasta aparece na imagem, ao lado dele.
Senah faz reunião no ministério para articulação mundial em busca de vacinas e para a consecução de uma grande quantidade dos imunizantes a ser disponibilizada no Brasil Reverendo comemora reunião em post nas redes sociais
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