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A evangélicos, Bolsonaro faz ameaça golpista e convoca para 7 de setembro

Igor Mello

Do UOL, no Rio

28/08/2021 17h08

Em meio aos preparativos para uma manifestação em apoio ao seu governo em 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) decidiu usar seu eleitorado cativo para passar recados a adversários e ameaçar novamente o Judiciário durante um evento com lideranças evangélicas em Goiás, na manhã de hoje (28).

Bolsonaro foi o convidado principal do 1° Encontro Fraternal de Líderes Evangélicos da Conemad-GO (Convenção Nacional das Assembleias de Deus do Ministério de Madureira). Em um discurso de aproximadamente 20 minutos, ele procurou manter um tom de voz calmo, mas disparou ataques contra o STF (Supremo Tribunal Federal), o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid no Senado. Ele voltou a fazer uma ameaça golpista.

"Temos um presidente que não deseja e nem provoca rupturas. Mas tudo tem um limite em nossa vida. Não podemos continuar convivendo com isso".

Com a popularidade em queda por conta da gestão criticada à frente da pandemia de covid-19 e da crise econômica, Bolsonaro escolheu a dedo o público para o qual faria a pregação golpista. Os evangélicos são o segmento religioso em que Bolsonaro tem o maior apoio, segundo as pesquisas de diversos institutos —apesar disso, vê o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avançar sobre essa base. Já em termos regionais, é o Centro-Oeste o grande bastião bolsonarista.

A Assembleia de Deus é a maior denominação evangélica do país, e o Ministério de Madureira, por sua vez, é um dos maiores dentro do grupo.

Desafio sobre 7 de setembro

Bolsonaro também usou a oportunidade para desafiar o Judiciário a tomar alguma medida contra a organização dos atos de seus apoiadores no 7 de setembro. Nas convocações, há discursos antidemocráticos —como a pregação de fechamento do STF— e apologia para que policiais militares da ativa compareçam aos protestos, o que é ilegal.

"Sei que a grande maioria dos líderes evangélicos vai participar desse movimento de 7 de setembro. E assim tem que fazê-lo, está garantido na nossa Constituição. Espero que não queiram tomar medidas para conter esse movimento. A liberdade de se manifestar, vedado o anonimato, está garantida na nossa Constituição", provocou Bolsonaro. "É impressionante como alguns querem evitar esse movimento espontâneo do povo".

Apesar da nova ameaça de ruptura democrática, Bolsonaro ironizou os críticos que veem em suas ações uma tentativa de orquestrar um golpe. Segundo ele, o argumento não faria sentido porque ele já está no poder. Contudo, é um expediente comum líderes autoritários chegarem ao poder por vias democráticas e então darem um autogolpe para implantar um regimente ditatorial.

"Comprovei a fraude do TSE [Tribunal Superior Eleitoral] com documentos do próprio TSE. Por que não querem mais transparência? Alguns me acusam de querer dar um golpe. Eu já sou presidente, por que vou querer dar um golpe?", afirmou, fazendo referência aos ataques que têm feito às urnas eletrônicas e ao processo eleitoral.

Embora tenha falado que comprovou fraude, o presidente nunca apresentou qualquer prova contra o sistema eleitoral, e o TSE já rebateu várias alegações de Bolsonaro sobre o assunto.

Bolsonaro voltou a apelar para o discurso anticomunista procurando agradar o público evangélico, majoritariamente conservador. Em referência velada à possível vitória do ex-presidente Lula em 2022 —o petista é lider em todas as pesquisas e, segundo os institutos, bateria Bolsonaro por grande margem no segundo turno— ele disse que o país pode "virar uma Venezuela", reverberando um discurso que sua campanha usou à exaustão em 2018.

"Quando a gente fala o que pode acontecer com o Brasil e alguns não acreditam, eu recomendo a vocês. Olhe a Venezuela. Se olharam e não acreditaram, olha o que está acontecendo na Argentina", disse.

Bolsonaro descarta chance de ser preso

Outro ponto de desafio aos adversários diz respeito a possíveis processos criminais. Bolsonaro disse não existir chance de ser preso por conta de seus atos à frente do governo federal. Ele é investigado em diversas frentes no STF e no Congresso —a CPI da Covid deve indiciá-lo por crimes como curandeirismo, charlatanismo e prevaricação.

"Digo uma coisa aos senhores. Tenho três alternativas para o meu futuro: estar preso, ser morto ou a vitória. Pode ter certeza: a primeira alternativa, preso, não existe. Nem um homem aqui na Terra vai me amedrontar. Tenho a consciência de que estou fazendo a coisa certa. Não devo nada a ninguém. E ninguém deve nada a mim também", disse Bolsonaro, sendo aplaudido pelo público.

"Nas palavras de alguns poucos vou ser enquadrado em charlatanismo e curandeirismo por causa da hidroxicloroquina", disse, fazendo referência aos senadores da cúpula da CPI.

Ataques a prefeitos e governadores

Bolsonaro ainda voltou a atacar prefeitos e governadores que adotaram medidas de isolamento social para conter a propagação da covid-19. Recentemente, Bolsonaro foi alvo de críticas de opositores e nas redes sociais por ironizar a situação de pessoas que têm dificuldades para comprar itens da cesta básica por conta da inflação.

Ele chamou de "idiota" quem diz que prefere comprar feijão e disse que "se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar".

"Sabemos do sofrimento que o povo está passando, porque como consequência daquela política do 'fica em casa, a economia a gente vê depois' chegou a conta para pagar. Enfrentamos uma das maiores crises hidrológicas da história do Brasil, tivemos uma geada. Problemas nós temos, mas o Brasil é um dos cinco países que menos sofreram no tocante à economia graças ao trabalho do nosso governo", afirmou

O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro caiu 4,1% em 2020, a maior redução em 24 anos, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).