Na CPI, depoente nega ser lobista da Precisa: 'Seria péssimo se fosse'
Identificado pela CPI da Covid como um lobista com atuação em Brasília, o empresário Marconny Albernaz de Faria negou hoje, em depoimento ao colegiado, ter trabalhado em favor de interesses da Precisa Medicamentos em negociações com o Ministério da Saúde para compra de testes de covid-19.
A testemunha se disse "constrangido" por ter sua "vida exposta" em razão das investigações e, em tom indignado, declarou que "jamais foi capaz de transformar suas relações sociais em resultados econômicos milionários". As palavras de Faria geraram irritação da cúpula da comissão. O presidente, Omar Aziz (PSD-AM), criticou o que chamou de "marra" do depoente.
Segundo Faria, se ele "fosse um lobista, seria um péssimo lobista". Disse ainda que as conversas interceptadas em seu celular —enviada à CPI pelo Ministério Público no Pará, com material resultante de uma investigação local— mostrariam apenas que ele tem "ótimos amigos".
Na versão do suposto lobista, os indícios de irregularidades contra ele surgiram no Pará depois que ele, de acordo com o seu relato, denunciou um esquema de corrupção no Instituto Evandro Chagas. Faria não disse claramente se achava que havia sido vítima de algum tipo de retaliação.
"No papel de denunciante, eu me tornei investigado."
No Senado, membros da comissão cogitaram, na semana passada, pedir a prisão da testemunha em razão de sua ausência no depoimento agendado para 2 de setembro. Na ocasião, o suposto lobista apresentou um atestado médico, que posteriormente foi invalidado pelo próprio médico que assinou o documento.
Pressionado, Faria colocou-se à disposição para depor hoje depois de a Justiça expedir uma ordem de condução coercitiva (ou seja, se oferecesse resistência, ele poderia ser levado à força).
A estratégia da defesa foi definida a partir de uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que garantiu ao empresário o direito de ficar em silêncio na CPI, porém não desobrigou o comparecimento.
Compartilhamento de dados
O nome de Marconny Albernaz de Faria surgiu durante as investigações depois de o MPF (Ministério Público Federal), no Pará, compartilhar dados do celular dele com os senadores.
O aparelho telefônico do suposto lobista foi apreendido em outubro do ano passado. Ele afirmou, em nota, que seu sigilo foi quebrado "sem qualquer autorização judicial".
Mensagens reveladas pela CPI no fim de agosto mostram que Marconny manteve diálogos com o ex-secretário da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) José Ricardo Santana a fim de supostamente favorecer a Precisa Medicamentos em uma compra do Ministério da Saúde (sem conexão com o caso Covaxin) para a aquisição de testes rápidos de detecção da covid-19.
A Precisa também é a empresa que intermediou a compra da vacina indiana Covaxin pelo Ministério da Saúde junto ao laboratório indiano Bharat Biotech. O caso é investigado pela CPI devido a indícios de irregularidades, tais como corrupção e tráfico de influência. Envolto em suspeitas, o contrato entre as partes foi suspenso durante os trabalhos da comissão.
O material obtido pela comissão indica que Marconny teria atuado em suposto esquema para que empresas mais bem colocadas do que a Precisa no processo fossem desclassificadas com a eventual ajuda do então diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias. O contrato seria de mais de R$ 1 bilhão, segundo senadores do colegiado.
Uma das mensagens destacadas em meio ao material obtido cita a "arquitetura ideal para prosseguir" (no processo de compra) e um passo a passo para que a negociação na pasta seja revista por "Bob", quem os senadores acreditam se tratar de Roberto Dias.
Vice-presidente da CPI, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que a mensagem foi encaminhada pelo dono da Precisa, Francisco Emerson Maximiano, ao suposto lobista em 4 de junho de 2020. Este, por sua vez, a teria encaminhado a Santana para que chegasse até Dias.
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