PF cita vínculo de Allan dos Santos com invasores do Congresso dos EUA
De olho em embasar a determinação de prisão de Allan dos Santos, o ministro do STF Alexandre de Moraes citou um trecho da representação em que a Polícia Federal aponta suposta proximidade entre o blogueiro bolsonarista e o norte-americano Owen Shroyer, colaborador do site de notícias falsas Infowars. Shroyer atualmente responde à Justiça dos EUA, acusado de invadir a sede do Legislativo norte-americano, em janeiro.
"Identifica-se articulação de [Allan dos Santos] com pessoas diretamente envolvidas na invasão ao Capitólio, inclusive utilizando o canal de [Jonathan] Owen Shroyer [...] para reiterar e reverberar, dessa vez em solo americano, a difusão de teorias conspiratórias voltadas a desacreditar sistema eleitoral brasileiro", afirmou a representação da PF, assinada pela delegada Denisse Ribeiro, em setembro.
Apoiador do ex-presidente republicano Donald Trump, Shroyer é um dos proponentes da tese de que o pleito presidencial de 2020 foi fraudado por integrantes do establishment norte-americano favoráveis ao atual presidente Joe Biden. Segundo a PF, Allan Santos usa essa mesma teoria como "base da argumentação [...] para questionar a lisura do processo eleitoral brasileiro".
Essa suposta associação, para a PF, fundamenta o pedido de prisão preventiva do bolsonarista. "Cumpre ressaltar, inclusive, que a residência de [Allan dos Santos] nos Estados Unidos é mais um fator que aponta o seu periculum liberatis".
A ordem de Moraes, de prisão e extradição, foi proferida em 5 de outubro e tornada pública nesta quinta-feira. "A despeito da manifestação da Procuradoria-Geral da República, contrária à decretação da prisão, o quadro fático que tem se consolidado desde o ano passado permite concluir pela adequação e proporcionalidade da medida extrema de restrição de liberdade, pois as medidas cautelares anteriormente impostas se demonstraram ineficientes para coibir as práticas criminosas", escreveu Moraes.
Na decisão, Moraes determina ainda que o Banco Central e o Banco do Brasil bloqueiem todas as contas do blogueiro e de pessoas vinculadas a ele que venham a ser identificadas pela PF. O ministro determina ainda que a Casa Civil e o Ministério das Comunicações bloqueiem qualquer repasse de dinheiro público para Allan dos Santos e contas de pessoas jurídicas das quais ele seja sócio.
Steve Bannon: o elo do Brasil com a ultradireita norte-americana
Em live realizada em agosto de 2020, o blogueiro bolsonarista Allan Santos conversa com Steve Bannon, ex-estrategista-chefe da Casa Branca durante o governo Trump. Allan diz que vai "fazer as fake news no Brasil enlouquecerem". Bannon responde: "Que a conspiração comece".
Bannon é apontado como um dos entusiastas da invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro. A Câmara dos Representantes dos EUA aprovou nesta quinta (21) a abertura de processo criminal por desacato contra Bannon. A decisão contou com 229 votos a favor —nove republicanos se juntaram à maioria democrata da Casa— e 202 contra. Caberá agora ao Departamento de Justiça decidir se prosseguirá com a acusação criminal.
Desacato ao Congresso leva a pena de até um ano de prisão e multa de US$ 100 mil. Bannon se recusou a prestar depoimento em 14 de outubro. Na ocasião, ele alegou estar protegido por privilégios executivos, mesmo sem ocupar cargo dentro da Casa Branca, atualmente gerida pelo presidente democrata Joe Biden, de quem Bannon é opositor.
Para o comitê da Câmara, Bannon pode ter tomado conhecimento prévio do ataque ao Capitólio: em 5 de janeiro, um dia antes da insurreição que deixou cinco mortos e 140 policiais feridos, Bannon falava em seu podcast, Bannon's War Room, que "o inferno explodiria" no dia seguinte, em que apoiadores de Trump invadiram a sede do Legislativo dos EUA.
Absolvido em primeira instância do crime de racismo após ter feito um gesto popularizado por nacionalistas brancos norte-americanos, o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Filipe G. Martins, é um dos responsáveis pela aproximação de Bannon com a ala ideológica do governo Bolsonaro. Quando era editor-chefe do site Breitbart News, o ex-estrategista de Donald Trump ajudou a impulsionar a popularidade de figuras como o provocador britânico Milo Yiannopoulos e o autodeclarado nacionalista branco Richard Spencer.
No Brasil, a Polícia Federal monitora as ações de Bannon relacionadas às eleições no Brasil em 2022. Crítico do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bannon constantemente levanta dúvidas quanto à segurança das urnas eletrônicas brasileiras. A justificativa da PF é que os seguidores de Bolsonaro usam métodos de desinformação em redes sociais iguais aos que Bannon coordenava em favor de Trump quando era conselheiro sênior da Casa Branca.
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