Em tom eleitoral, Bolsonaro ataca Lula em visita a refugiados venezuelanos
Apontado no relatório final da CPI, que será votado hoje, como um dos principais responsáveis pelo agravamento da pandemia de coronavírus, que matou mais de 600 mil pessoas no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) visitou a Operação Acolhida, que atende refugiados venezuelanos em Boa Vista. Em clima de campanha, Bolsonaro atacou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu provável adversário no pleito do ano que vem, abraçou crianças e discursou contra o regime de Nicolás Maduro.
Suspenso do YouTube após citar uma falsa relação entre vacina contra covid-19 e Aids, o presidente usou o Facebook para transmitir a visita ao vivo. Sem usar máscara de proteção contra a covid-19, ele visitou barracas utilizadas como abrigo a refugiados e postos de atendimento aos cidadãos, bem como mostrou no vídeo bebês dormindo em colchões no chão. No Facebook, o presidente direcionou o link do vídeo para a conta do YouTube do vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), um de seus filhos, burlando as regras da rede social.
A CPI aprovou hoje um requerimento feito pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) para que seja pedida a suspensão nas redes sociais do presidente.
"O que a gente quer mostrar é que não queremos isso para o nosso País. Para o bem maior nosso, precisamos ver nossa liberdade. As escolhas erradas levam a isso", declarou Bolsonaro, que adota o discurso da suposta perda de liberdades no Brasil para conquistar apoiadores.
"É aquele pessoal do Foro de São Paulo, sempre enganando o povo, induzindo as pessoas a ir para esquerda, se associar ao socialismo", continuou ele.
Acompanhado pelos ministros João Roma (Cidadania) e Anderson Torres (Justiça), além do ex-senador Magno Malta, o chefe do Executivo deu tom eleitoral à visita aos refugiados. "O presidente brasileiro do passado ia à Venezuela fazer campanha com Chávez, Maduro", afirmou.
Também de forma indireta, Lula ainda foi citado na própria descrição do vídeo publicado nas contas oficiais do presidente. "Averiguação da Operação Acolhida, situação do estado com os impactos dos refugiados e medidas tomadas para acolhimento de nossos irmãos venezuelanos que fogem da ditadura socialista de Nicolás Maduro, apoiada pelo ex-presidiário petista", diz o texto.
Pesquisa Datafolha publicada no mês passado mostra que Lula segue à frente de Bolsonaro e, no segundo turno, tem 56% contra 31%.
"Não estou fazendo campanha", diz Bolsonaro
Apesar das menções ao adversário político, Bolsonaro rechaçou o viés político de sua visita a Boa Vista. "Não estou fazendo campanha, estou mostrando a realidade", disse. "O ideal é a Venezuela voltar à normalidade, mas sabemos que só um milagre para isso acontecer. Eles vêm para cá atrás de comida".
Bolsonaro cumpre agenda em Roraima em um momento de turbulência de seu governo, com debandada da equipe técnica econômica após sinalização de estouro no teto de gastos para financiar o Auxílio Brasil.
O programa é visto por opositores como uma forma de o presidente melhorar a popularidade e chegar às eleições de 2022 mais forte do que as pesquisas indicam atualmente.
Ainda na parte econômica, a inflação em alta, em especial com a escalada no preço dos combustíveis, tem gerado cobrança de diversos setores ao Governo. Hoje, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor - Amplo 15), considerado uma prévia da inflação oficial (IPCA), acelerou a 1,2% em outubro. Essa foi a maior variação para um mês de outubro desde 1995 (1,34%) e a maior entre todos os meses do ano desde fevereiro de 2016, quando o índice foi de 1,42%.
Discurso ideológico no dia do relatório da CPI
Bolsonaro ainda aumenta a carga nas críticas à esquerda, apostando em discurso ideológico que marcou principalmente sua campanha eleitoral, em um dia em que sua conduta na pandemia está em evidência com a votação do relatório final da CPI. Mais cedo, o relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), chamou o presidente de serial killer em decorrência das falsas alegações que fez na live de quinta-feira (21) ligando vacinas contra covid-19 à aids.
O relatório de Renan sugere que Bolsonaro seja investigado e responsabilizado por dez crimes — entre eles, os previstos no Código Penal, com pena de prisão e/ou multa, crimes contra a humanidade e crimes de responsabilidade, que podem resultar em impeachment.
O texto será votado hoje pelo colegiado. Para aprovação, são necessários ao menos seis votos (maioria entre os 11 membros titulares).
A Comissão Parlamentar de Inquérito não tem prerrogativa de promover punições, mas pode sugerir indiciamentos para análise e eventual oferecimento de denúncia pelo Ministério Público Federal e pelas demais instâncias competentes.
* Com Reuters e Estadão Conteúdo.
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