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MBL fala em burocracia e deixa de lado ideia de criar um partido próprio

Kataguiri em protesto contra Bolsonaro convocado pelo MBL e outros grupos; movimento não pensa em criar partido político agora - 12.set.2021 - Lucas Martins/Estadão Conteúdo
Kataguiri em protesto contra Bolsonaro convocado pelo MBL e outros grupos; movimento não pensa em criar partido político agora Imagem: 12.set.2021 - Lucas Martins/Estadão Conteúdo

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

19/11/2021 04h00

Resumo da notícia

  • Sem "casa própria", MBL deverá buscar um partido para abrigar seus membros
  • Ir para o União Brasil ou permanecer no Patriota são possibilidades
  • Após filiação de Moro, também surgiram conversas com o Podemos

Parece um partido, mas não é e, hoje, nem mais teria pretensão de ser. O MBL (Movimento Brasil Livre) deve permanecer como é: "um movimento que atua de forma ampla dentro da política sem a estrutura partidária", nas palavras do vereador Rubinho Nunes (PSL), um dos líderes do grupo.

Um dos fundadores do movimento, o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) disse que "a burocracia excessiva combinada com o custo" seriam fatores que hoje impediriam o MBL de se tornar um partido político, algo que já chegou a ser cogitado no passado.

"Sendo bem pragmático, criar um partido hoje não é nem um projeto para a gente. A gente nem ventila mais essa hipótese", comentou Nunes, falando que a ideia ficou em "segundo plano".

Enquanto isso, o MBL vai mudando de partido em busca de uma casa. Inicialmente, o Democratas foi adotado como principal destino, mesmo com alguns integrantes indo para outras agremiações. Após a expulsão do deputado estadual Arthur do Val (SP), o Mamãe Falei, do Democratas, houve um movimento de parte do grupo rumo ao Patriota, um partido pequeno.

Para onde vai?

Hoje, ainda se discute se o caminho para seus integrantes deve ser o União Brasil (fusão do DEM com o PSL) ou o Patriota, que passou por instabilidades em seu comando nos últimos meses, chegando a flertar com a família do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O MBL hoje é oposição ao governo bolsonarista.

"Não ter um partido, uma 'casa própria' gera esse tipo de insegurança em razão de movimentos que acontecem nas siglas a nível nacional", disse Nunes. Segundo Kataguiri, para evitar situações como a envolvendo o Patriota, o MBL deverá optar por um partido apenas. "É um risco que buscaremos diminuir nas próximas eleições levando todos os nossos candidatos para um partido só e obtendo garantias dos dirigentes desse partido."

Nunes complementa dizendo que esse caminho de unificação do MBL em um só partido "aumenta a segurança dentro da sigla uma vez que a gente passa a ter maior peso na tomada de decisão". "E a gente consegue ficar blindado de movimentos bruscos como esse do Bolsonaro no Patriota."

Logo após a movimentação, o grupo que agiu a favor de Bolsonaro no Patriota foi afastado e o senador Flávio Bolsonaro, único da família que se filiou, deve trocar de partido assim que seu pai decidir seu destino.

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Arthur do Val (à esquerda) e Kim Kataguiri estiveram na cerimônia de filiação de Sergio Moro ao Podemos, em Brasília
Imagem: 10.nov.2021 - Reprodução/Facebook/mblivre

Segundo o UOL apurou, além de União Brasil e Patriota, o MBL também recebeu sondagens para se filiar ao Podemos, que hoje abriga Sergio Moro, ex-ministro do governo Jair Bolsonaro e ex-juiz da Operação Lava Jato. A ida para o partido de Moro é uma possibilidade mais remota.

O grupo, surgido no final de 2014, ganhou protagonismo em meados da última década em protestos a favor da Lava Jato e pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). A tendência, inclusive, é que o MBL caminhe com Moro em sua provável candidatura a presidente. Alguns integrantes do movimento até incentivavam a volta do ex-juiz à política.

Hoje (19) e amanhã, o MBL realiza a sexta edição de seu Congresso, que terá a presença de representantes de partidos que vão do centro à direita brasileira: de Moro a João Doria e Eduardo Leite, pré-candidatos do PSDB a presidente. O preço dos ingressos varia de R$ 200 a R$ 300.

Mesmo sem partido, o MBL não deixa de fazer seus movimentos. No evento, deverá ser lançada oficialmente a candidatura de Do Val ao governo de São Paulo, apesar de ainda não haver certeza sobre qual número seus apoiadores deverão digitar na urna na próxima eleição. No ano passado, ele surpreendeu e, mesmo no Patriota, conseguiu quase 10% dos votos na disputa pela Prefeitura de São Paulo, mais do que a candidatura do PT.

kataguiri - 14.jul.2021 - Sergio Lima/AFP - 14.jul.2021 - Sergio Lima/AFP
Kataguiri hoje é o único representante do MBL em Brasília
Imagem: 14.jul.2021 - Sergio Lima/AFP

Expectativa de crescimento

Atualmente, o MBL possui apenas um representante no Congresso: Kataguiri. Segundo ele, o grupo quer eleger quatro deputados federais por São Paulo, "em um projeto conjunto com a eleição do Arthur do Val para o governo do estado e uma grande bancada para a Alesp", a Assembleia Legislativa paulista.

Para a cientista política Camila Rocha, autora do livro "Menos Marx Mais Mises: O Liberalismo e a Nova Direita no Brasil", essa projeção do MBL talvez explique uma outra razão para que o grupo não se transforme em partido.

"Fazer com que o movimento se transforme em um partido hoje não faz sentido, não apenas por conta do custo de entrada, mas principalmente por conta do avanço da cláusula de barreira, o que implicaria, necessariamente, em fusões futuras com a velha direita e em perda do controle do partido", disse.

Não é, mas é

Uma análise comum entre seus integrantes é que o MBL oficialmente não é um partido, mas, na prática, é. "Diferentemente da maioria dos partidos que existem hoje, o MBL age como partido, tem coesão ideológica, valores, princípios", disse Renato Battista, um dos coordenadores do grupo.

Para Rocha, como movimento, além de ter uma "identidade própria e a independência política", o MBL tem a possibilidade de que "as pessoas possam se abrigar em novas siglas a depender das condições".

"E isso abre mais portas do que fecha. Inclusive, acaba sendo uma forma de renovar a direita de fora para dentro, considerando que o MBL acaba atraindo pessoas mais jovens e que possuem valores diferentes da direita tradicional", analisou a cientista política.

Se pudesse, seria sem partido

"A gente possui uma militância real, aguerrida, maior que a maioria dos partidos", disse Nunes. "Se perguntasse para mim, o cenário ideal seria não precisar ter sigla e a gente poderia concorrer independentemente de partido." Battista concorda com o colega. "A gente joga com as cartas disponíveis, com as ferramentas que a democracia oferece. E hoje são os partidos que aí estão."

Os membros do MBL que se tornaram atores políticos têm um compromisso com o movimento, não com o partido. E a gente atua de forma suprapartidária
Rubinho Nunes, vereador paulistano e líder do MBL

Para a cientista política, o desempenho do MBL nas últimas eleições mostra que o movimento "se comunica com uma fatia do eleitorado que é representativa e que pode até se expandir se o bolsonarismo continuar a diminuir seu apelo entre homens jovens que moram em capitais". "Acredito que hoje o MBL está razoavelmente consolidado, pois vem conseguindo ter uma voz própria, independente do bolsonarismo e do antipetismo."