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PTB vira puxadinho de projeto de Bolsonaro à reeleição, mas se vê em guerra

Os ex-aliados Graciela Nienov e Roberto Jefferson, agora estão em pé de guerra para ver quem continuará à frente do PTB - Reprodução/PTB
Os ex-aliados Graciela Nienov e Roberto Jefferson, agora estão em pé de guerra para ver quem continuará à frente do PTB Imagem: Reprodução/PTB

Luciana Amaral e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

06/02/2022 04h00

O PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) virou uma espécie de puxadinho do projeto do presidente Jair Bolsonaro (PL) à reeleição ao Palácio do Planalto, pregando um discurso conservador e fazendo convites a políticos alinhados ao mandatário. No entanto, o partido se vê em uma crise interna por disputa de poder que pode prejudicar os planos do presidente.

A intenção de Bolsonaro é usar o PTB como um abrigo para a antiga ala bolsonarista do PSL e uma extensão do próprio PL —que, por motivos políticos e eleitorais, não deverá conseguir acolher todos os bolsonaristas interessados em migrar de sigla.

Antes mesmo de Bolsonaro fechar com o PL, no ano passado, o cacique petebista, Roberto Jefferson, tentou convencer o presidente a ir para o seu partido, sem sucesso. Embora tenha sido criado em março de 1945, em defesa dos direitos dos trabalhadores, e liderado pelo ex-presidente Getúlio Vargas, nos últimos anos, o PTB abraçou o conservadorismo.

A perspectiva hoje é que o PTB filie políticos bolsonaristas menos conhecidos nacionalmente, mas relevantes em seus estados e importantes para manter vivas as ideias bolsonaristas.

Quem estuda se filiar ao PTB

17.jun.2020 - O deputado Otoni de Paula (PSC-RJ) em sessão da Câmara, em Brasília - Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados - Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados
17.jun.2020 - O deputado Otoni de Paula (PSC-RJ) em sessão da Câmara, em Brasília
Imagem: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados

Um dos deputados federais que anunciaram a ida ao PTB é Otoni de Paula (RJ), hoje no PSC. A previsão é que ele migre de partido na janela partidária, de 3 de março a 1º de abril, quando parte dos políticos poderá trocar de sigla sem sofrer punições ou perder o mandato vigente.

"Uma honra poder cerrar fileiras no PTB, a casa dos conservadores", escreveu Otoni de Paula no Twitter, em 26 de janeiro.

Em dezembro do ano passado, a ex-braço direito de Jefferson, mas agora acusada de traição por aliados do cacique, Graciela Nienov, anunciou que o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) se filiaria ao PTB. Procurada pelo UOL, a assessoria do deputado afirmou que "foram palavras da Graciela naquele momento" e que nada foi oficializado.

Em comum, Roberto Jefferson, Otoni de Paula e Daniel Silveira já deram declarações tidas como ameaças ao STF (Supremo Tribunal Federal) ou a seus ministros, e foram alvos de operação da Corte. A discordância com a postura do Supremo pode ser considerada um dos eixos da base bolsonarista mais fiel ao presidente. O próprio Bolsonaro costuma criticar publicamente decisões do tribunal e já se viu em crises políticas por causa disso.

A filiação da ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, vem sendo cortejada pelo PTB. Um convite oficial para que ela concorra nas eleições de outubro deste ano, inclusive, já foi feito, segundo o partido. Ela, porém, ainda não anunciou uma decisão.

Damares estuda concorrer ao Senado, mas o estado pelo qual ela sairia segue indefinido. São cotados São Paulo e Alagoas.

Outros que também cogitam se filiar ao PTB são os deputados federais Soraya Manato (PSL-ES), Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP) e Guiga Peixoto (PSL-SP).

O PTB em São Paulo fez um gesto de aproximação ao ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, mas, não houve conversas de filiação dele ao partido, afirmou à reportagem Otávio Fakhoury, que tem cuidado do diretório paulista.

Também foram cogitadas as filiações de Fabrício Queiroz, investigado por suposto esquema de rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro quando este era deputado estadual do Rio de Janeiro, e Waldir Ferraz, outro amigo de longa data da família Bolsonaro. Não há, porém, definições. Ambos, inclusive, contam com eventuais adversários por votos no partido.

Guerra dentro do PTB

Roberto Jefferson e Graciela Nienov, estão em pé de guerra para ver quem seguirá à frente do PTB. Há briga na Justiça até em relação ao acesso ao diretório nacional do partido em Brasília e às senhas do partido registradas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Nienov foi alçada à presidência do PTB no final do ano passado com a benção de Jefferson após este ser afastado da direção da sigla por determinação do STF. A decisão do Supremo foi tomada no inquérito das chamadas milícias digitais, que apura a organização e o financiamento de atos contra a democracia e levou à prisão de Jefferson.

No entanto, aliados de Jefferson acusam Graciela de ter "traído" o cacique. Segundo reportagem da Crusoé, há acusações até de que Graciela estaria negociando vender o PTB a Valdemar Costa Neto, cacique e presidente do PL, partido de Bolsonaro, em troca de R$ 30 milhões.

Costa Neto e Jefferson são dois dos maiores desafetos políticos atuais.

Graciela é acusada de cortar verbas para diretórios do PTB comandados por aliados de Jefferson, tentar minar o poder de presidentes estaduais e estar alinhada a algum outro partido com a intenção de minar o PTB, e lucrar com isso, foram relatadas ao UOL.

Os aliados de Jefferson afirmam ter conseguido destituir Graciela da presidência do partido por meio da renúncia de mais da metade da Executiva Nacional, seguindo o estatuto interno. Ela resiste a deixar o comando.

A defesa jurídica de Graciela informou que a insinuação de traição é descabida e que as acusações não têm "sujeito, indícios nem provas".

"É mentira que qualquer representante da nova gestão do PTB tenha tentado vender o partido. As informações sobre suposta negociação são falsas, absurdas e irresponsáveis. Servem apenas para tumultuar o ambiente interno do partido. É lamentável que grupos, com receio de perder cargos e espaço, se prestem ao papel de alimentar boatos, propagar ameaças e tensionar ainda mais as relações internas no partido. Estas pessoas rebaixam as relações políticas e prejudicam a histórica imagem do PTB", disse Graciela, em nota.

Brigas podem respingar nas eleições

As brigas preocupam a cúpula do partido, pois, diante das incertezas, afastam potenciais candidatos bolsonaristas.

Um receio é não ir bem no pleito de outubro e não cumprir os requisitos mínimos para sobreviver à cláusula de barreira, que estabelece o acesso ao tempo de televisão e ao fundo partidário.

Atualmente, o PTB conta com dez deputados federais, segundo o portal da Câmara. A meta é eleger de 11 a 20 deputados na próxima legislatura. Caso contrário, o PTB vira uma "presa fácil" para se fundir a outro partido, avaliam partidários.

Ao UOL, Otoni afirmou que realmente deve se filiar à sigla, mas admitiu que sua ida é condicionada à manutenção do apoio do partido ao presidente Jair Bolsonaro.

Por parte de aliados de Jefferson, há a expectativa de que as brigas se resolvam na convenção do PTB prevista para a próxima sexta-feira (11), com a eleição de uma nova diretoria.

A intenção do grupo é eleger o deputado estadual do Rio de Janeiro, Marcus Vinícius Vasconcelos, conhecido como Neskau, à presidência nacional do partido. Segundo um político a par das negociações, Neskau é "um homem de confiança" de Jefferson.

Cargos como a vice-presidência e a tesouraria são vistos pelo grupo de Jefferson como postos essenciais para retomar o poder de Graciela.

Outros políticos interessados na filiação ao PTB também esperam o resultado da convenção para decidir se realmente migrarão para o partido.