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Joaquim Barbosa sobre sofrer racismo como ministro: 'Não tem como escapar'

Joaquim Barbosa em entrevista ao "Conversa com Bial" - Reprodução/TV Globo
Joaquim Barbosa em entrevista ao "Conversa com Bial" Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

07/03/2022 20h59Atualizada em 08/03/2022 08h08

O ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa relembrou o racismo e as dificuldades enfrentadas em sua carreira, durante entrevista no "Conversa com Bial" (TV Globo).

"Qualquer negro no Brasil que ingresse de uma maneira ou de outra num espaço que supostamente, no imaginário do brasileiro, é reservado aos brancos, vai sofrer racismo, e de diversas maneiras, não tem como escapar", afirmou Barbosa, no programa exibido durante a madrugada de hoje.

Questionado pelo apresentador se considerava sua trajetória um "acidente", Barbosa afirmou que sim e que não.

Sim porque acredito que tenha sido o único negro a ser chefe de um dos poderes. Tivemos Peçanha que foi vice-presidente da República, mas há que se considerar que, naquela época, o mulato não se considerava negro e nem mesmo a pessoa em público se identificava como negro".

"Os negros que afirmavam sua negritude eram marginalizados. Isso incomodava enormemente as elites brasileiras. Ainda incomoda, o Brasil tem um problema muito sério com isso. Nesse sentido, sou um acidente. Oito anos que saí e ainda não vi ninguém mencionar a possibilidade de nomear um outro negro. Nos governos brasileiros, nos últimos anos, você não vê uma personalidade negra", completou.

Ao mesmo tempo, Barbosa afirmou não se considerar um acidente porque "apesar de toda a dureza da questão racial que marca a sociedade brasileira, sempre houve uma pequena margem para uma minúscula ascensão social de uns poucos negros e pobres".

"Muita gente via só a cor da minha pele mas esquecia que eu chegava ao Supremo com 23 anos de carreira jurídica. Eu conhecia muito bem os mecanismos que levaram a impunidade brasileira. Sabia o que fazia com que um processo jamais chegasse a uma conclusão. O meu chegou porque eu soube tomar as medidas e cautelas necessárias para que ele chegasse a essa conclusão", destacou ele, relembrando o julgamento do Mensalão.

Adolescência

Questionado pelo apresentador a respeito de sua infância, Barbosa destacou fatos como a timidez que carrega desde aquela época.

"Sempre fui tímido e continuo. Continuo sendo um pouco aquele adolescente que ficava encostado na parede e só dirigia a palavra a quem dirigia a minha", contou.

Trajetória

Barbosa atuou como ministro do Supremo de 2003 a 2014, presidindo o STF de 2012 até 2014 e ganhando destaque internacional em 2013, sendo eleito pela Revisa Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.

O ex-presidente do STF se filiou ao PSB em 2018 e permaneceu no partido até este ano. Barbosa atualmente mantém conversas com empresários, economistas e políticos para avaliar uma eventual candidatura ao Palácio do Planalto.

Ainda sem sigla, ele é cobiçado pelo PSD e o União Brasil, fusão do Democratas com o PSL.