Podemos anuncia processo de expulsão de Arthur do Val por falas sexistas
O Podemos informou hoje que recebeu o pedido de expulsão do deputado estadual Arthur do Val (SP). Com a decisão, o parlamentar deverá apresentar sua defesa em 5 dias. O processo, então, seguirá para parecer conclusivo pela Comissão de Ética e Disciplina do partido.
O anúncio vem dias depois de políticos aliados e opositores do deputado criticaram falas sexistas do parlamentar, que teve áudios vazados em que ele descreve mulheres na Ucrânia como "fáceis porque são pobres".
O deputado era, até a última atualização desta reportagem, alvo de ao menos 10 pedidos de cassação no Conselho de Ética da Alesp.
O que diz o pedido de expulsão
A solicitação é assinada pelas presidentes do Podemos Mulher Nacional e estadual de São Paulo, respectivamente, Márcia Pinheiro e Alessandra Algarin. O UOL teve acesso ao pedido de expulsão contra Arthur do Val protocolado pelas dirigentes.
Leia trechos do que diz o documento:
"A mentalidade machista exige reprimenda firme e imediata, sob pena de contribuir para o retrocesso das conquistas femininas galgadas a duras penas na sociedade brasileira e no resto do mundo.
A postura adotada pelo deputado Arthur do Val é intolerável e demonstra um problema ainda mais grave da sociedade, pois revela a discriminação de gênero oculta, que aflora quando o indivíduo se sente protegido por outros que compartilham da mesma mentalidade.
Quando essa sensação de impunidade se estabelece, o machismo, o elitismo e o oportunismo surgem na sua forma mais repulsiva. O fato de tais conversas serem privadas, como por si alegado na mídia, não servem de justificativa para a conduta aqui combatida.
O problema é agravado diante da situação de guerra, onde milhares de mulheres ucranianas se encontram desamparadas e desprotegidas. O momento clama e exige o esforço coletivo para suporte aos ideais democráticos e auxílio assistencial à população civil, vítima do conflito. Os representantes populares devem, mais do que nunca, possuir firmes predicados de empatia, igualdade e justiça."
Anúncio reitera repúdio a falas sexistas
Na semana passada, o Podemos já havia emitido nota em que repudiou as declarações de Arthur do Val.
"O Podemos repudia com veemência as declarações e, com base nelas, instaura de imediato um procedimento disciplinar interno para apuração dos fatos", disse ao UOL a deputada federal Renata Abreu, presidente nacional do partido.
O Podemos Mulher reiterou o posicionamento da Executiva Nacional e emitiu nota de repúdio às falas de Arthur do Val.
"As mulheres ucranianas têm sido alvo de violência desmedida. Não vamos nos omitir na defesa de toda mulher, seja de onde for. Exigiremos e acompanharemos o procedimento cabível junto ao partido", afirmou Márcia Pinheiro, presidente do diretório.
Rubinho Nunes não deve substituir Arthur do Val
Em reunião hoje, lideranças do MBL (Movimento Brasil Livre) decidiram apresentar o nome do vereador Rubinho Nunes como substituto de Arthur do Val na corrida pelo governo de São Paulo pelo Podemos.
Um acordo entre o MBL e o Podemos prevê a escolha de um nome para concorrer ao pleito estadual. Mas, internamente, os diretorianos discutem indicar nomes com tradição dentro do partido, como os de:
- Renata Abreu, deputada federal e presidente da sigla;
- Igor Soares, prefeito reeleito de Itapevi;
- Rogério Lins, prefeito de Osasco.
Dentro do MBL, segundo interlocutores ouvidos pelo UOL, ganha força o nome de Heni Ozi Cukier, deputado eleito pelo Novo de São Paulo. O parlamentar prepara sua mudança para o Podemos.
O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, que estuda se candidatar ao Senado pelo Rio de Janeiro ou pelo Distrito Federal, também é bem visto pela cúpula do partido e pode ser lançado como pré-candidato ao governo paulista.
O militar, que chegou ao partido após Moro também se filiar, foi ministro da Secretaria de Governo de Bolsonaro, mas deixou o cargo em junho de 2019, após desentendimentos com o filho do presidente, vereador Carlos Bolsonaro.
Arthur desistiu, no sábado (5), da pré-candidatura ao governo de São Paulo. Em vídeo divulgado, o deputado havia anteriormente admitido a gravidade de suas falas.
"Você quer falar que os áudios são escrotos? São. São machistas? São. Essa não é a postura que as pessoas esperam de mim. Quero que você separe as ações das palavras. Eu aceito ser julgado pelo que eu falei, mas não aceito ser julgado pelo que eu não fiz", acrescentou ele.
No início do ano, os principais líderes paulistas do MBL participaram de evento de filiação ao Podemos. Na lista estavam o deputado federal Kim Kataguiri, o deputado estadual Arthur do Val, e o vereador pela capital Rubinho Nunes.
"Trouxemos o MBL para o Podemos e atraímos o apoio do Vem Pra Rua. A aglutinação da terceira via vai se dar entre um projeto e a sociedade civil. Isso está se dando em torno do meu projeto. O MBL tem uma comunidade enorme, uma comunidade jovem. Esses apoios, muitas vezes, são mais relevantes que os dos partidos políticos", comentou o ex-juiz à época.
Mau tempo para Sergio Moro
Numa tentativa de proteger sua pré-candidata à Presidência da República diante dos áudios sexistas de Arthur do Val, o pré-candidato ao Palácio do Planalto pelo Podemos, Sergio Moro, disse na sexta-feira (4) ter rompido com o candidato vinculado ao MBL.
"Repudio as graves declarações de Arthur do Val. O tratamento dispensado às mulheres ucranianas refugiadas e às policiais do país é inaceitável. Tenho uma vida pautada pela correção e pelo respeito a todos. Jamais dividirei palanque nem apoiarei pessoas quem têm esse tipo de opinião e comportamento. Espero que meu partido se manifeste brevemente diante da gravidade que a situação exige."
Antes, o petista Fernando Haddad havia questionado se o ex-juiz defenderia o deputado estadual, como fez com relação ao deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), ao classificar falas sobre o nazismo foram do congressista como "gafe verbal".
Tanto Kim como Arthur integram o MBL, que faz frente de apoio à candidatura de Moro.
Num debate sobre perseguição contra grupos minoritários exibido pelo Flow Podcast, Kim sugeriu que grupos radicais ganham força quando o cerceamento de ideias extremistas é praticado em detrimento da liberdade de expressão.
Depois de o procurador-geral da República, Augusto Aras, instaurar inquérito contra Kim, Moro se manifestou: "Não vamos apagar o histórico dele como parlamentar porque ele cometeu esse erro brutal... Foi uma gafe verbal", disse Moro em entrevista a jornalistas sobre o caso.
Ao UOL, Kim sugeriu à época que a rapidez na ação de Aras teria sido impulsionada pela proximidade do PGR com o presidente da República, Jair Bolsonaro. Desde então, Kim tem participado de atividades promovidas por entidades judaicas no Brasil.
Moro aparece em quarto lugar, com 6% das intenções de voto, segundo pesquisa PoderData. Com a posição, o ex-juiz está atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (40%), Bolsonaro (32%) e Ciro Gomes (7%).
Por causa da margem de erro, o ex-juiz está tecnicamente empatado com o ex-governador do Ceará, com o governador gaúcho, Eduardo Leite (3%), e com o governador paulista, João Doria (2%).
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