Presidente da Alesp: Áudio de Arthur do Val é sexista e precisa ser apurado
O presidente da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), Carlão Pignatari (PSDB), classificou hoje, em entrevista à Globonews, a fala do deputado Arthur do Val (Podemos-SP) sobre mulheres ucranianas como "sexista" e "misógina" e defendeu que o caso seja apurado na Casa.
Em um áudio enviado em um grupo de amigos, do Val disse que as mulheres do país são "fáceis, porque são pobres". O parlamentar, conhecido como Mamãe Falei, viajou à Ucrânia, no último dia 28, com Renan Santos, um dos dirigentes do MBL (Movimento Brasil Livre), para acompanhar o conflito após a invasão da Rússia.
Depois da repercussão negativa, ele classificou a fala como "um erro num momento de empolgação" e disse que "foi moleque".
"O deputado Arthur do Val cometeu um erro. Não adianta vir falar que é menino, que é isso e aquilo. Foi uma fala sexista, misógina, que tem que ser apurada pela Assembleia Legislativa, dando direito de defesa a ele", defendeu Pignatari.
Ele explicou que quem dá a penalidade não é a Assembleia Legislativa, e sim o Conselho de Ética da Casa. Ontem, 15 deputados de diferentes partidos assinaram uma representação contra do Val dirigida ao conselho.
Nela, os parlamentares pedem que seja apurado o cometimento de ato de quebra de decoro parlamentar "com pedido sanção de cassação de mandato em decorrência de suas falas sexistas e misóginas contra as mulheres ucranianas, com especial ênfase a situação de vulnerabilidade em que se encontram devido ao conflito armado que ali ocorre".
O presidente da Alesp diz esperar que o Conselho de Ética tome "uma medida muito enérgica" com do Val. Questionado se o deputado usou dinheiro dos cofres públicos para viajar à Ucrânia, Pignatari disse que não e explicou que a Assembleia estava em recesso até quarta-feira (2) e que na quinta e na sexta do Val tirou licença. "Não recebeu dinheiro público, não foi com dinheiro público", afirmou.
Entenda o caso
Em uma série de áudios gravados e enviados a um grupo de amigos no Whatsapp, o deputado estadual descreve suas impressões sobre as mulheres da Ucrânia e, em um dos trechos, afirma que elas "são fáceis, porque são pobres".
"Eu estou mal, eu passei agora por quatro barreiras alfandegárias, são duas casinhas em cada país. Eu juro para vocês, eu contei, foram 12 policiais deusas, que você casa e faz tudo o que ela quiser (...)", afirma o deputado nos áudios, que foram revelados pelo site Metrópoles, e aos quais o UOL também teve acesso.
Em seguida, o parlamentar afirma: "Detalhe, hein. Elas olham e, vou te dizer, elas são fáceis, porque são pobres. E aqui, a minha conta do Instagram, cheio de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, porque a gente não tinha tempo, mas colei em dois grupos de 'minas' e é inacreditável a facilidade. Essas 'minas' em São Paulo, você dá bom dia e ela [sic] ia cuspir na sua cara e aqui elas são supersimpáticas e supergente boa, é inacreditável", prossegue o deputado. Segundo ele, nas "cidades mais pobres, elas são as melhores".
Depois da divulgação dos áudios, o pré-candidato à Presidência da República Sergio Moro (Podemos) disse ter rompido com do Val, seu aliado político. O deputado também desistiu da pré-candidatura ao governo de São Paulo.
O Podemos classificou como "gravíssima e inaceitável" a conduta e anunciou a abertura de um procedimento disciplinar para investigar as falas sexistas dele.
A namorada de do Val, Giulia Blagitz, terminou o relacionamento com o deputado, segundo a coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. "Gostaria de deixar claro que seguiremos caminhos diferentes", registrou Giulia em um perfil redes sociais, que foi desativado.
O parlamentar disse que os áudios foram mandados em um grupo privado para amigos e que se dedicou apenas ao que chamou de "missão" no período em que esteve na Ucrânia. Em uma postagem nas redes sociais, ele afirmou que estava fazendo coquetéis molotov para o exército ucraniano. "Fui para fazer uma coisa, mandei um áudio infeliz, e a impressão que passou é que fui fazer outra coisa."
"Você quer falar que os áudios são escrotos? São. São machistas? São. Eu poderia resumir: aquilo é um moleque, eu estou sendo moleque, essa não é a postura que as pessoas esperam de mim. Quero que você separe as ações das palavras. Eu aceito ser julgado pelo que eu falei, mas não aceito ser julgado pelo que eu não fiz", disse ele em um vídeo.
Suposto assédio contra estudante
Em 2016, Arthur do Val foi acusado de cometer assédio sexual contra uma adolescente de 16 anos, depois de entrar em um colégio em Curitiba (PR) para entrevistar estudantes, que ocuparam o local para realizar um protesto. Na ocasião, Mamãe Falei acabou sendo agredido por esses alunos.
Uma jovem alegou que ele teria passado a mão nela durante a confusão. Os dois assinaram um Termo Circunstanciado e foram liberados pela polícia logo na sequência, segundo informou o "Tribuna Paraná", parceiro do UOL.
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