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Covid: Rui Costa pagou empresa de maconha por não falar inglês, diz revista

Governador da Bahia, Rui Costa (PT), é investigado por supostos desvios na compra de ventiladores pulmonares pelo Consórcio Nordeste durante o pico da pandemia de covid-19 - Reprodução/Facebook
Governador da Bahia, Rui Costa (PT), é investigado por supostos desvios na compra de ventiladores pulmonares pelo Consórcio Nordeste durante o pico da pandemia de covid-19 Imagem: Reprodução/Facebook

Do UOL, em São Paulo

27/04/2022 11h49Atualizada em 27/04/2022 14h23

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), teria afirmado à PF (Polícia Federal) que contratou e pagou a empresa Hempcare, especializada em medicamentos à base da maconha, para o fornecimento de ventiladores pulmonares na pandemia porque não fala inglês. Na tradução livre para o português, Hemp significa maconha e Care quer dizer cuidado. As informações foram obtidas pela revista Veja, que teve acesso ao depoimento anexado ao inquérito do STJ (Superior Tribunal de Justiça).

A assessoria de Rui Costa disse ao UOL que "estranha o vazamento seletivo de informações do inquérito [...] Não houve, por parte do governador, afirmação de contratação ou não pelo nome da empresa".

O UOL entrou em contato com o STJ sobre o teor do depoimento, mas a Corte informou que o inquérito está sob segredo de Justiça.

Segundo Veja, a delegada federal Luciana Caires foi quem conduziu o depoimento de Rui Costa. Ela questionou se não chamou a atenção do governador petista o fato de a empresa contratada ser especializada em vender medicamentos à base de maconha. O governador teria dito que não.

Confesso que não, e lá tinham representantes de produtos farmacêuticos. Estava essa denominação da empresa e não me chamou a atenção, no momento, pelo nome, até porque eu não tenho pleno domínio da língua inglesa. Portanto, eu não domino.
Governador da Bahia, Rui Costa (PT), investigado por supostos desvios na compra de ventiladores pulmonares

Rui Costa é um dos investigados pela PF por supostos desvios de verbas públicas na compra de ventiladores pulmonares pelo Consórcio Nordeste durante o pico da pandemia de covid-19.

De acordo com a PF, o processo de aquisição de 300 equipamentos seguiu com diversas irregularidades, como o pagamento antecipado de seu valor integral, sem que houvesse no contrato qualquer garantia contra eventual inadimplência por parte da contratada. Nenhum respirador foi entregue.

Mais sobre o depoimento

Ainda de acordo com Veja, a delegada pergunta, no depoimento, se Rui Costa sabia sobre o pagamento antecipado. Ele nega, mas Luciana Caires lembra que o então secretário da Casa Civil, Bruno Dauster, que também é alvo da Polícia Federal, confirmou que o governador petista acompanhava de perto a questão.

"Nesse episódio, não. De pagamento ser feito antes de eu assinar o contrato? Em hipótese nenhuma", respondeu o governador.

A delegada também pergunta por que o contrato com a Hempcare não foi publicado no Portal da Transparência do Estado. "Não sei. Eu não olho todos os dias o Portal e não sei o que lançam. Isso não é função do governador".

No interrogatório, Luciana Caires cita outro investigado da operação da Polícia Federal, Cleber Isaac, que atuou como intermediário entre o governo da Bahia e a Hempcare, segundo a PF. Rui Costa nega qualquer relação: "Conheço ele como conheço milhares de outras pessoas".

Ela insiste e questiona se os dois não estariam juntos no gabinete do governador se os sinais de celulares fossem analisados. "Neste ano não. A última vez que ele teve, não lembro se no meu gabinete ou em Ondina, foi para me entregar um currículo, dizendo que estava querendo entrar no mercado de trabalho", afirmou Rui Costa.

A delegada indica que a Polícia Federal tem provas de um encontro entre Rui e Cleber Isaac. "A gente analisou um aparelho de celular de uma das pessoas investigadas e nele consta o registro de que o senhor teria se encontrado, de que ele teria se encontrado com o senhor e teria conversado com o senhor sobre a aquisição de ventiladores mecânicos nacionais".

Rui Costa responde: "É mentira. Não é verdade".

Os investigados pela PF podem responder pelos crimes de estelionato em detrimento de entidade pública, dispensa de licitação sem observância das formalidades legais e lavagem de dinheiro.

Governador pede conclusão da investigação

O UOL procurou a assessoria de imprensa de Rui Costa, que não confirmou nem negou a veracidade do depoimento. A assessoria enviou um vídeo de Rui Costa em que ele repete o discurso de ontem, dizendo que não tem receio da investigação.

"Que essa apuração chegue a uma conclusão e que os culpados sejam novamente presos. 'Novamente' porque eles foram denunciados, a Polícia Civil da Bahia prendeu, eles se comprometeram a devolver o dinheiro e por razões que eu desconheço o Ministério Público da Bahia opinou por soltar os criminosos. E o juiz soltou".

Rui Costa também pede que todos os contratos sejam revistos. "Se eles [oposição] querem apurar, vamos apurar tudo. Contratos feitos por prefeituras, como a de Salvador, pagaram quase o dobro do que o estado em contratos de prestação de serviço".